quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

BIZARRICE


Depois da cena bizarra que nos proporcionou o PCA da ASA no fim de semana passado, apetece perguntar: o maior prejudicado nesta cena de arrogância do Big Boss da empresa responsável pela gestão dos aeroportos e do controlo do espaço aéreo nacional não terá sido o Estado/Governo de Cabo verde? É que tanto quanto se sabe as duas Empresas em conflito continuam a ser pertença do Estado Cabo-verdiano!

Fotografia:Baluka Brazão

terça-feira, 24 de novembro de 2009

TRADUÇÃO DE DISCURSOS EM VOTOS

Uma das coisas que fiz durante o fim de semana passado foi ler a entrevista da Ministra das Finanças. Pareceu-me coerente e bem estruturada, como aliás é apanágio da pessoa em causa. A leitura ajudou-me a dissipar algumas dúvidas sobre as políticas do Governo, no sentido de resolver problemas crónicos que vêem afectando, negativamente, a vida das famílias e das empresas cabo-verdianas, por tempo demasiado longo, como têm sido os problemas relacionados com o fornecimento da energia electrica e da água. Ficou-me a impressão de que se está a dar passos firmes visando a resolução desses e outros problemas estruturantes, fundamentais para a continuidade do desenvolvimento conseguido até aqui.
Não obstante essa minha leitura, não posso no entanto deixar de reiterar a ideia já antes expendida, de que os investimentos feitos até então e os que virão a ser feitos no que resta desta legislatura, só terão sentido se as famílias e as empresas nacionais perceberem-nas como uma melhoria do seu bem estar.
Nestes últimos anos, o que se tem assistido, é o sentimento de as coisas estarem a caminhar no sentido oposto ao pretendido pelo governo, ainda que o discurso da Sra. Ministra nos aponte na direcção de uma clara melhoria da condição de vida dos cabo-verdianos. Contudo, a assunção de um discurso fácil no sentido da liberalização do mercado, por parte da oposição, numa altura em que ainda se vive os efeitos da crise económica, pode ser perigoso, uma vez que, todos temos ainda bem presente quais as causas que despoletaram esta que é a maior crise vivenciada pela humanidade desde o fim da segunda guerra mundial. Não podemos ignorar que esta mesma crise, levou a que países que são apontados como o simbolo paradigmático das sociedades de mercado, como é o caso dos EUA, fossem obrigados a sujeitar-se a uma forte intervenção do Estado em sectores importantes da industria, da área bancária e da imobiliária, como forma de recuperar a economia desse país que acabou por afectar a economia a nível mundial.
Para um país com fragilidades económicas como as que existem em Cabo Verde, será fundamental que haja uma regulação forte de sectores importantes para a sociedade que vão além das que devem ser as principais atribuições do Estado, como a saúde, a segurança, a educação e o bem estar social, esta última, fortemente ligada às políticas económicas traçadas pelo governo para que a saída da crise internacional não nos mergulhe numa grande crise nacional.
O que acontece, porém, é que a meu ver, geralmente, o sentido do voto, acaba por ser a tradução prática do sentimento popular no que diz respeito à forma como as políticas implementadas pelo governo afectam positiva ou negativamente o seu bem estar no imediato e raramente numa prespectiva de uma melhoria a médio ou a longo prazo. Como tal, parece cada vez mais evidente que o governo supotado pelo PAICV, apesar de ter muita obra feita, terá ainda que conseguir convencer o eleitorado que há uma forte prespectiva da melhoria de condição de vida dos cabo-verdianos resultante dessas políticas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

PIM,PAM,PUM...


Pim, Pam, Pum, cada bola mata um… estamos cercados, pela Dengue, Gripe A e Paludismo. Baixaram os números de vítimas da dengue mas não podemos estar tranquilos, por momentos esquecemo-nos da gripe A que tinha começado a atacar antes da dengue e que poderá fazer mais vítimas agora que o tempo começa a arrefecer. O paludismo, parece um mal menor perante a gravidade da situação da nossa saúde pública.
Não é, como bem se sabe. Basta olhar para os números de vítimas mortais que rondam os 3 milhões de pessoas anualmente, sendo que, um milhão dessas vítimas são crianças com menos de cinco anos de idade para entendermos a gravidade da questão.
Como não podia deixar de ser, o continente africano é o mais afectado por essa doença, atingido pelos 90% dos casos conhecidos. Ou seja, nós que por vezes temos alguma dificuldade em situar-nos geográfica e politicamente, podemos passar a fazer, cada vez mais, parte dessa estatística. Aliás, esta será mais uma razão para deixarmos de ser tão passivos com relação à imigração de pessoas oriundas do continente.
Com a epidemia da dengue, que nos apanhou de surpresa, por incúria, soou o alarme, e começou o apontar de dedos em todas as direcções. No entanto, responsabilizar este ou aquele órgão estatal, ou municipal, não vai resolver, nem este, nem os outros problemas que poderão vir a surgir se o susto permanente em que vivemos, por estes dias, não nos levar a uma mudança de atitude, tornando-nos mais pró-activos com relação a questões tão importantes como sendo a salubridade do meio comunitário em que vivemos e a prevenção de doenças epidémicas. Não nos podemos esquecer que na cidade da Praia, o maior centro habitacional do país, apenas cerca de 12% da população tem ligação ao sistema de esgotos da cidade (segundo dados publicados pela ONU) e que cerca de 70% não tem água canalizada.
Pim, Pam, Pum, cada bala mata um!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

INCÚRIA


Pronto gerou-se o pânico geral. Estamos todos assustados e somos todos culpados. Principalmente por vivermos voltados para os nossos próprios umbigos. Só nos interessa o que nos diz respeito directamente, o que possa influenciar o nosso bem-estar imediatamente. E aí é que está, estamos em pânico porque o combate a esta epidemia que começou por ser chamada de Sai Bu Kudin, Djam Bem e agora chama-se Dengue, com alguns casos da variante hemorrágica, extremamente letal, depende essencialmente da nossa capacidade de funcionar como uma comunidade, como um todo, algo a que não estamos habituados. E agora, o que vamos fazer? Essa é a pergunta que deve estar a passar pela cabeça de todos. Vamos culpar o governo, o presidente da câmara, as nossas populações que vivem em condições miseráveis, os nossos vizinhos, vamos fechar-nos em casa ou vamos agir e contribuir para inverter a situação em que nos encontramos e que já é dramática. Quem são os culpados e aonde está a solução? Está em todos e em cada um de nós. É preciso uma mudança de atitude urgente na nossa forma de estar e de viver em comunidade. Temos que aprender a ser cidadãos, sujeitos de direitos e obrigações preocupados com o bem-estar de toda a comunidade e acima de tudo com a preservação desta.
Os políticos são culpados por não fazer o que deviam, quando deviam… nós somos culpados por incúria.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O PREÇO DA SOBERANIA



A questão dos impostos, que quase nos sufocam, tem sido muitas vezes utilizada como argumento contra as políticas de governação do PAICV, partido que se encontra no poder e que vai em 2011 concorrer para um terceiro mandato. A situação deixada pelo MPD e as suas políticas liberais era catastrófica, no dizer do partido que o veio suceder, e havia que equilibrar as contas públicas.
Como os recursos são escassos, mais uma vez foi pedido ao povo que apertasse o cinto e ajudasse o novo governo a ultrapassar essa situação. E assim foi, por amor à terra!
Não deixa de ser verdade que se fizeram enormes obras e o país deu um salto qualitativo em termos de infra-estruturas rodoviárias e aeroportuárias, principalmente.
Passamos a país de desenvolvimento médio, saímos da lista dos atrasados, agora somos um país que deve ser apontado como exemplo para os países africanos que ainda não entenderam que democracia rima com liberalismo porque muitos não conseguiram livrar-se da sua origem tribal e querem forçosamente misturar as leis do mercado livre com as leis da supremacia tribal.
Apesar de tudo, em alguns aspectos, continuamos nós também ligados aos nossos laços ancestrais de povo colonizado. Existe no nosso seio uma enorme tendência de querer exibir a importância social que cada um tem através da quantidade de património que se acumula – independentemente dos meios usados para atingir esse fim - ao invés da sabedoria e dos valores humanos que devem nortear uma sociedade que se pretende como exemplo para outros povos. Passou-se de povo que não tinha quase nada - nem mesmo Liberdade - em que o Homem já foi apontado como riqueza nacional, a povinho que tudo pode, pela força do dinheiro.
Por outro lado, a classe política ainda não conseguiu entender que a pobreza extrema é o primeiro passo para o alastrar da corrupção e que existem valores mais importantes que a acumulação de riqueza que devem ser cuidados para se poder manter a coesão e o equilíbrio comunitário.
Porém, nem tudo está assim tão mal: a judiciária tem feito um trabalho enorme no combate ao narcotráfico e começa a aparecer uma nova vaga de juristas com “Culhões”, - de entre os quais o Dr. Vital Moeda deve ser apontado como um exemplo paradigmático - a querer impor a independência dos tribunais aos que entendem que a disputa pelo poder político só tem sentido se associado a proveitos económicos consequentes. Aos que querem controlar a justiça para usufruir de benesses em seu favor e do grupo de interesses políticos e económicos a que pertencem. Aliás, uma das nossas maiores conquistas parlamentares, terá sido, a aprovação da lei que nos possibilita o combate à lavagem de capitais. Só assim se poderá dar continuidade a esta batalha pela preservação da soberania nacional, contra o poder económico dos barões da droga que se vinha alastrando pelo país.
Visto nessa perspectiva, parece-me muito mais sensato continuar a pagar impostos, ainda que exagerados, e saber que continuamos a ter um Estado soberano que vive de acordo com os valores defendidos pela sua constituição, onde a vida é tida como um bem essencial, fundamental, a ter que submeter às leis da máfia e do narcotráfico.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

DICOTOMIA

Em 1975, com o advento da independência nacional, e em tempos em que a revolução estava ainda muito presente, as opiniões, mesmo não sendo públicas, passaram a ter uma forte conotação partidária: ou se era a favor da independência e consequentemente a favor das políticas e ideias do PAIGC, ou então, era-se contra a independência e consequentemente contra a ideologia do partido da independência. Não havia lugar ao exercício da opinião pessoal livre e por isso o exercício da cidadania acabava por ser extremamente limitado.
Em 1991 passou-se ao bipartidarismo e as opiniões passaram a ser, ou a favor do PAICV e contra o MPD, ou a favor do MPD e contra o PAICV.
Quando se pensava que haveria lugar para a opinião pessoal livre e independente, passou-se a colar a opinião, mesmo em tempos da tão propalada Democracia conquistada, aos dois maiores partidos com assento parlamentar e voltou a dividir-se a sociedade em dois, com todas as repercussões que essa divisão ainda hoje acarreta.
Quando opinamos, ou somos a favor do partido da situação, ou então, somos contra. Se somos a favor deste, somos contra o outro, o da oposição, e se formos contra, seremos portanto a favor daquele. Gera-se com isso uma grande confusão e não se entende que o mais importante é conseguir trazer a publico ideias que possam ajudar a tornar a nossa sociedade numa sociedade mais justa. Infelizmente, até os media que deviam ter o papel de defender ideias que levassem a evolução da sociedade e servisse de voz para os mais fracos – o tal quarto Poder - também entraram no jogo e, são uns a favor e outros contra, ninguém está isento.
Esta ideia instituída de que quando alguém opina sobre determinada matéria está automaticamente a defender determinados interesses partidários, leva a que muita gente que poderia dar um contributo valioso para se conseguir atingir outros patamares de desenvolvimento humano em Cabo Verde, simplesmente se abstenha. E assim, continuamos neste jogo do gato e do rato, onde cada um pretende mostrar mais serviço que o outro, agindo sempre de forma calculista, pensando em poder arrecadar cada vez mais e melhores dividendos pessoais. E com isto tudo quem se lixa é o “mexilhão”!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

NHA SENTIMENTO


“Nha Sentimento”, o novo álbum de originais de Cesária Évora, chega ao mercado discográfico no próximo dia 26 de Outubro.

Gravado entre Mindelo e Paris (após o acidente vascular cerebral que a diva sofreu durante a sua digressão pela Austrália, em 2008), o disco, dedicado a mornas e coladeiras, inclui 14 inéditos.

Fonte: Palco Principal


Hoje a caminho do trabalho, passava na RDP, um programa de Nuno Sardinha, onde a convidada era a nossa Diva dos pés descalços, Cesária Évora. Ouvi dois temas do ultimo disco, Nha Sentimento e pareceu-me que a voz de Cize, neste ultimo registo, perdeu o brilho de outrora. Os versos pareceram-me cantados quase que em esforço e a uma nota só, com muito poucas variações do timbre melodioso da voz de Cize. Talvez isso se deva ao estado de saúde em que Cesária se encontrava no momento da gravação… ou talvez seja tão simplesmente o confirmar do processo de envelhecimento de Cize e do difícil e triunfante caminho percorrido até aqui.
Um amigo meu ligado a essas coisas, disse-me nessa altura, que Cesária terá ido para os stúdios de gravação, como forma dos seu produtor aproveitar o tempo em que ela não poderia estar a cumprir a programação da sua agenda de concertos!
A verdade é que, seja por essa razão ou por outra qualquer que se especule, o resultado não me pareceu nada positivo, mas, poderá ser também o fruto de uma nova viragem na carreira da Cize, um novo conceito musical, agora virado para os sons das cordas do Egipto e da Índia.
É certo que, a escuta de dois temas de um album não será suficiente para fazer uma análise aprofundada de todo um trabalho, mas também não é essa a minha pretensão. Tão só pretendo deixar aqui o sentimento que me assaltou ao ouvir estes dois temas - Vento de Sueste e Ligereza.

Texto:Baluka Brazão

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ACEITAM-SE PROPOSTAS

José Maria Neves e Carlos Veiga, foram eleitos para a presidência dos respectivos partidos com valores entre os 60% e 75% de votos internos. Dos dois lados logo se providenciou no sentido de serem propalados os resultados, sinal da unidade partidária e do consenso interno na escolha dos líderes dos dois maiores partidos cabo-verdianos.
O MPD, para tentar desacreditar os resultados anunciados pelo PAICV, apresentou números ligeiramente inferiores aos do seu concorrente e alguns argumentos que nos levam a questionar esses resultados como sendo fidedignos.
Na verdade, se prestarmos atenção, veremos que a única preocupação, tanto do partido no poder como do partido na oposição, é a de se mostrarem melhor posicionados que o adversário para a disputa legislativa de 2011. De resto, continuamos à espera que se nos apresentem projectos que possam solucionar o grave problema do desemprego nas camadas jovens da população que já vai para além dos 42%; o grave problema de fornecimento de energia eléctrica e de água e os preços que se pagam por esses bens de necessidade; os números elevados do défice público (12%) para o ano de 2010 que nos indicam um consequente aumento da dívida pública e mais impostos para o futuro - ainda que esse aumento tenha sido justificado com o financiamento de obras de infra-estruturação que poderão resultar em alguma melhoria do bem estar das populações -… vai ser preciso fazer contas para se ficar a saber se realmente essas obras resultaram num incremento do bem estar social.
É que para além dos vários elogios que temos recebido e que devem encher de orgulho todos os cabo-verdianos, é preciso que se sinta que essas tão propaladas políticas públicas que se vem implementado nos últimos anos, tem revertido, de forma palpável, a favor da melhoria da condição de vida do povo cabo-verdiano.

sábado, 10 de outubro de 2009

COSTUMES I


Taxi, táxi… chamar um táxi na cidade da Praia tornou-se um velho costume que caiu em desuso!
Em todas as cidades por onde tenho passado, nas minhas muitas viagens profissionais ou de lazer, a forma mais adequada para se conseguir um táxi é deslocando a uma praça de táxis ou, parar um que passe por nós. Até bem pouco tempo, também assim acontecia na nossa cidade, só que, com o aumento abrupto da quantidade de táxis, em vez de sermos nós a solicitar os seus serviços, são eles que nos assediam a cada passo que damos.
Para além do incómodo que provocam com o seu constate buzinar, nessa procura constante por clientes, os “táxi drivers” da Praia, efectuam todo o tipo de manobras perigosas provocando um número significativo de acidentes. Aliás, seria interessante saber qual a percentagem de acidentes provocados por estes profissionais do trânsito, na capital, que volta e meia, chocam uns contra os outros.
Esta gestão pouco clara das licenças atribuídas para essa actividade de transportes públicos, criou novos costumes e acima de tudo, gerou alguma confusão no trânsito da cidade. É que o que parecia ser um bom negócio, às tantas, passou a ser um negócio de risco, tendo em vista a dimensão da concorrência.
Esta questão mostra-nos como a gestão pouco cuidada da atribuição de licenças para qualquer tipo de negócios nos nossos municípios pode influenciar negativamente a nossa qualidade de vida.
Texto e Fotografia:Baluka Brazao

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ECO SOBRE O ALUPEC

Num extenso artigo publicado no Liberal on-line, intitulado de “A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ALUPEC — O IUS ABUTENDI DO CABO-VERDIANO”, o Dr. Vergílio Brandão expõem algumas “barbaridades” e “ilegalidades” que o Ministro da Cultura, Dr. Manuel Veiga e o Governo, vêm cometendo no processo de implementação, institucionalização e legalização do alfabeto ALUPEC, como forma de escrever o cabo-verdiano (crioulo). Para além da questão legal, parece de todo importante dar especial atenção à forma como se tem, com alguma ligeireza, traduzido textos tão importantes como a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, não dando a importância devida ao conceito filosófico que está por trás desse importante texto, como aliás refere o colunista no mesmo texto. Essa parece ser uma questão sensível neste processo de implementação do crioulo como língua oficial, uma vez que, procedendo dessa forma, se irá transmitir um sentido desvirtuado dos textos traduzidos para o crioulo, acabando por ter um efeito contrário ao pretendido. Ou seja, o de facilitar a compreensão dos textos traduzidos do português para o crioulo, ou de outras línguas estrangeiras para a nossa língua mãe.
Deixo aqui um pequeno estrato desse texto:

[…] É grave o Governo proceder com tanta ligeireza no momento de legislar! E legislar em matéria tão importante como um direito e um princípio fundamental da Nação e do Estado de Cabo Verde. O facto de uma entidade privada ter recorrido ao ALUPEC para traduzir a Bíblia (que não é um facto acabado, mas um processo) é importante, mas não é critério científico para se avaliar o instrumento em si. E é grave num linguista com formação religiosa que sabe, deve saber, que a Bíblia sempre foi traduzida para todas as línguas e dialectos conhecidos como instrumento de cultura e missão evangélica, adaptando o texto às realidades.
E é consabido o exemplo escolástico de Isaías I.18: «[…] ainda que os Vossos pecados sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve […]» Em línguas sem estrutura gramatical e que palavras, como a de «neve» no interior de África, não existia e os missionários conseguiram traduzir a Bíblia para estas línguas recorrendo-se a analogia. Aliás, basta ler-se os textos existentes da tradução de Os Lusíadas do Cónego Costa Teixeira — nomeadamente as transcritas por Leite de Vasconcelos, no texto Dialectos Crioulos Portugueses de África, e publicado em 1898 (Leite de Vasconcelos, «Dialectos Crioulos Portugueses de África», in Revista Lusitana, Volume IV, Fascículo 4, Lisboa, 1898, pp. 241.261) — para se perceber as dificuldades da tradução de um texto literário do português clássico para o cabo-verdiano (ao caso foi usado, decorria o ano de 1898 quando este texto foi editado, o cabo-verdiano ou crioulo de Santo Antão que o autor considera, assim como os demais crioulos cabo-verdianos, com origens no Sul de Portugal):
Tude aquês arma e quês home falláde,
Que lá de Gilbôa ond’ sol ta cambá,
Pa mar nunca dánts p’ôtes navêgáde,
Tê lá na cabe de munde ês chegá,
Na p’rigue má guerra desaf´nade
Més que tud’ força d’êss’ munde tá d’xá
E na mêi de gente longe ês fazê
Um nove naçom q’ês tant´ingrandcê;
No texto camoniano (Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, I.1), se lê:
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Mais, eu estou curioso para saber de que textos se está a traduzir a Bíblia para o cabo-verdiano no modelo ALUPEC… mas esta é, de todo, outra questão e contas de um outro rosário. É que ou falamos de ciência a sério, ou então somos meros copistas de traduções de traduções; e espero que não seja e este o caso, pois uma coisa é traduzir a Bíblia a partir dos seus textos originais, i.e., o Aramaico, o Hebraico e Grego antigo, e outra coisa é usar a Vulgata latina, a King James ou a João Ferreira de Almeida como referências, textos estes com erros de tradução (com consequências gravosas na hermenêutica bíblica) que passarão, se servirem de matriz, para o cabo-verdiano — e não importa se é o ALUPEC ou qualquer outro modelo de Alfabeto.
Do mesmo modo que o texto que a Comissão Nacional dos Direitos Humanos e Cidadania fez da Declaração Universal dos Direitos Humanos com o ALUPEC como instrumento não é relevante pois é um documento com trinta artigos, mais de 360 traduções e em quase todas as línguas e dialectos conhecidos… além de que há anos que andava a circular na internet estamos a falar, tão-somente dos dois textos mais traduzidos do Mundo: a DUDH e a Bíblia e que invocá-los como razão de ciência é, no mínimo, desacredita a ciência. De notar-se, ainda, que a tradução da Declaração está pejada de erros, como é o caso do Artº.1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que enuncia:
«Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.»
A sua tradução para o cabo-verdiano no modelo ALUPEC foi:
«Tudu gentis ta nasi libri y igual ku se dignidadi y ku ses diretu. Es nasi ku intelijensia y ku konsiensia y es debe ten pa kunpanheru spritu di morabeza.»
Ora, quem fez esta tradução lavra em erros conceptuais graves (e dá para perceber que não leu os trabalhos preparatórios da Comissão dos Direitos Humanos da ONU antes de lançar-se nesta aventura; que se louva a iniciativa, mas que se critica o voluntarismo e a falta de rigor científico), como, v.g., (i) confundir «razão» com «intelijensia»; (ii) subjectivar a dignidade e os direitos, ignorando que a força destes conceitos está na sua dimensão objectiva; (iii) degradar o conceito de «outro» que não é, de todo, análogo ao de «kunpanheru», pelo contrário! até são diacrónicos no plano lógico. E se não se for «kunpanheru», mas sim o «outro», o estrangeiro, o judeu, o «mandjaku»? Onde fica(rá) o dever na ausência do bom samaritano? O «outro» permanece para além do «kunpanheru», e o que esta tradução da DUDH faz é desvirtuar o sentido e a natureza do sentido do «outro» — e, note-se, este conceito é um conceito filosófico fundamental, estruturante para o humanismo, e não uma palavra inócua, assim como a de companheiro não é, no cabo-verdiano (mesmo com fórceps), sinónimo de outrem… Enfim, amadorismos.
A redacção do artigo Artº.1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que emergiu depois de uma longa e profunda discussão ética e filosófica no seio da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, tem as suas origens no draft de John Peters Humphrey e depois revista por René Cassin, sendo certo que tem origens mais remotas, nomeadamente no pensamento de Francisco de Vitória e na sua defesa de uma dignidade humana e de direitos naturais universais com génese na obra de Ulpiano e nos jurisconsultos severianos: «[…] o que é sempre justo e bom, designa-se por Direito natural» (Digesto, I.1). Daí que a universalidade da dignidade humana e os direitos humanos tenham uma dimensão objectiva (opondo-se ao direito subjectivo, ou direito do sujeito, o direito de cada um… ou «[…] se dignidadi y ku ses diretu») e seja aceite por todos os povos do Mundo. Em Cabo Verde, ao que parece, alguém teve a perspectiva peregrina de subverter o sentido e a natureza do maior ganho civilizacional do século XX (e o que me preocupa é que tenha tido uma dimensão instrumental para esta questão da aprovação do ALUPEC — pelo menos assim parece).
E será que, neste aspecto, preciso de continuar? Sim, para dizer que, além destas falhas, anota-se ainda (iv) que fraternidade [que, em linguagem teológica, tem também o significado de Amor e, na tradição cultural e jurídica europeia da cidadania emergente da Revolução francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, está ao lado da liberdade e da igualdade] não é a mesma coisa que «morabeza», ainda que nos soe bem aos ouvidos! Os conceitos de Liberté, Egalité, Fraternité têm foros históricos e conceptuais próprios e são os fundamentos imediatos da República moderna. E esta fraternidade é, como um ex-estudante de teologia como o Ministro da Cultura sabe(rá), é um dos pilares da «civilização do Amor»… e que é mais, muito mais do que a «morabeza» crioula. Neste aspecto, seria útil a leitura de algumas Constituições pastorias, nomeadamente a Rerum Novarum e a Gaudium et Spes…
Assim como a expressão «gentis» não é feliz; direi até que é muito infeliz pois a noção de «homem» e «pessoa» foram expressamente afastado da redacção final quer pelos problema sociais e culturais ligados a ideia de «homem» que pelos problemas conceptuais inerentes à de «pessoa». E é por isso que ficou «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.» fica claro que o cabo-verdiano continua e continuará tributário do português no que diz respeito a compreensão de dados conceitos, e que cabo-verdianizar conceitos não quer dizer, de todo, popularizá-los. Falamos de ciência, é posto.
Isto para dizer que se o Governo quis dar uma sustentação científica ao Decreto-Lei nº 8/2009 de 16 de Março, foi infeliz na escolha dos exemplo escolhidos (na falta de mais…), pois tais não correspondem à realidade. A tradução da Declaração Universal dos Direitos Humanos é um desastre no plano da ciência do Direito (e é disso que falamos), e uma confusão acabada no plano da transposição de conceitos filosóficos para o cabo-verdiano no modelo do ALUPEC. Prenúncio do futuro? Parece que sim, mas Espero que não. A verdade é que se num único artigo de um texto tão pequeno como este se encontram estes erros (não identificados pelo Governo, pejado de juristas e de linguistas… e já nem falo na dimensão estruturante que a DUDH tem na ordem jurídica cabo-verdiana), o que dizer de textos mais complexos? Tornar-se-ia impossível a tradução de Ulisses de James Joyce, de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll ou qualquer das obras de Jurgen Habermas (e os linguistas e amantes da literatura sabem das dificuldades linguísticas e conceptuais, no caso de Habermas, que estes autores, entre outros, colocam).
Mas se isso não fosse bastante, o Governo fundamenta-se ainda num facto, «dado relevante», que não é verdadeiro, que não tem realidade e o mínimo de correspondência com a verdade: «dado relevante é a tradução, nesse modelo de alfabeto, de grandes clássicos da literatura portuguesa pelo poeta José Luís Tavares» (lex dixit). Este facto não é, reitero, verdade! Isto é brincar ao «fazer leis», sem racionalidade e realidade de fundamentos.
José Luís Tavares (o poeta escreve o seu nome de poeta com Z — este facto é compreensível pois, infelizmente para o Ministro da Cultura, não deve ler a poesia do poeta de Txom Bom) nunca traduziu nenhum clássico português para o ALUPEC! Está, sim, ó Governo da minha terra! (sim, M.I. Ministro da Cultura), a traduzir (traduzindo, o gerúndio clarifica?) os Sonetos de Luís Vaz de Camões para o cabo-verdiano e usando o ALUPEC de que é cultor. Ah, já agora: gostaria de ver o que o poeta dirá quando e se o fizer, pedir ao Ministério da Cultura para financiar a publicação dos Sonetos de Camões que está o traduzir e o Ministério dizer que não… que não tem verba. Cá estarei para ver, e ouvir.
É uma infelicidade, invocar-se isso como fundamentação numa lei — sendo o facto não verdadeiro (não uso a palavra mentir porque respeito sobremaneira as instituições do meu país para usar palavra tão lapidar). Verter uma inverdade numa lei, para poder fundamentá-la, é de uma gravidade tal — proceder a omissões, ou cometer erros técnicos ou invocar-se ciência frouxa até que se engole… a custo! — que só o povo a quem a lei se dirige pode julgar com ciência bastante. E este povo, de que faço parte e me orgulho de pertencer, merece uma explicação do Governo, em particular do Ministério da Cultura.
Posto isto, quem é que irá perguntar (i) ao Primeiro Ministro José Maria Neves; (ii) a Ministra da Educação, Vera Duarte; (iii) e ao Ministro da Cultura, Manuel Veiga (os dois primeiros com ambições poéticas e o segundo… Ministro da Cultura!), que assinaram o Decreto-Lei nº. 8/2009, de 16 de Março em Conselho de Ministros, quais são «os grandes clássicos da literatura portuguesa» que José Luís Tavares traduziu para o ALUPEC? Têm a palavra os Senhores jornalistas (o povo, eu… por exemplo, gostaria de saber se estamos 1) perante incúria, 2) incompetência funcional, 3) desespero de fundamentação ou 4) falta de cultura no Conselho de Ministros e na Presidência da República). Como não sei, gostaria de saber. Não sei quem mais quer saber, mas eu quero saber! Afinal, como é consabido e nunca o escondi de ninguém, dei o meu voto de confiança a este Primeiro Ministro, José Maria Neves, ao votar nele para governar o país por mais uma legislatura; o Presidente da República, como também se sabe, não mereceu o meu voto pois era meu entendimento que Carlos Veiga seria e faria melhor do que o Pedro Pires do primeiro mandato — e hoje estou cada vez mais convencido de que fiz a opção correcta ao não votar nele. É um vigia que não vigia, adormecido que está no Palácio presidencial (a promulgação do Decreto-Lei nº. 8/2009, de 16 de Março é paradigmático).
Isto de meter o poeta no seio de uma inverdade, no mínimo, deveria dar lugar a um pedido formal de desculpas do Governo de Cabo Verde ao Poeta José Luís Tavares, a um esclarecimento ao Povo de Cabo Verde e a demissão do Ministro da Cultura (colocar o lugar a disposição do Primeiro Ministro, por razões pessoais, seria simpático e uma prova de que ainda respeita o povo de Cabo Verde — ou vai deixar a culpa para o chefe do Governo?).
O que é grave é que se atribui ao poeta de Txom Bom obra que não fez, e nem precisa ou precisará destes favores envenenados, e se omite que os «grandes clássicos» portugueses traduzidos para o cabo-verdiano não são nem do José Luiz Tavares nem de nenhum outro cultor do ALUPEC! Que eu tenha notícia — mas que não é valorizado devidamente —, Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões foi traduzido pelo Cónego Gomes Teixeira e o mítico poema Endechas à Barbara Escrava do mesmo Camões também vertido para o cabo-verdiano por Eugénio Tavares e que, como sabemos, não foi em modelo ALUPEC (e o Ministro da Cultura, enquanto académico, já orientou teses de mestrado em português e sobre o crioulo — que se Alupecou com a sua eucaliptica bênção — e conhecerá estas traduções como nenhum outro cabo-verdiano, e talvez por isso as não refere). A memória selectiva tem destas coisas: só são lembráveis as coisas e as situações que interessam para fundamentar o que se quer — o que eu até entendo, mas não posso aceitar como legítimo e aceitável neste contexto […]

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

2011, QUE OPÇÃO PARA OS JOVENS?

Cabo Verde atravessa um momento delicado. Prepara-se para as próximas eleições legislativas em 2011, sendo que, só há duas opções para ocupar o lugar de chefe de governo. José Maria Neves ou Carlos Veiga.
Apesar da grande animação das hostes tambarinas e ventoinhas à volta dos seus candidatos, não me parece que o resto da população esteja tão tranquila sobre em quem votar. É que, como em tudo, também neste aspecto, estamos bastante próximos da imagem do que se viveu em Portugal nas últimas eleições legislativas: dos dois possíveis candidatos, um está em fim de mandato e sem grandes propostas para melhorar a sua performance, e o outro, tem um historial de fim de mandato que em nada o abona.
Um dos grandes problemas a resolver, seja lá quem for o vencedor dessa disputa eleitoral, será certamente o desemprego na camada jovem da população. O actual Governo lançou mão a alguns projectos visando atacar esse problema: avançou com a Universidade Pública e o ensino profissionalizante. Porém, esses projectos, por si só, não garantem a diminuição da percentagem de jovens desempregados no país. È necessário que se aposte em políticas que sejam geradoras de emprego, fundamentalmente, no apoio à criação de pequenas e médias empresas. Senão, passaremos, a médio prazo, de país com carência de pessoal com formação profissional para atacar sectores de emprego importantes e disponíveis na nossa sociedade, para país com excesso de mão-de-obra profissional especializada.
Por outro lado, é facto que, a maior parte dos jovens cabo-verdianos prefere a formação universitária à formação profissionalizante. No entanto, desse bolo, a grande maioria, tem uma perspectiva errada que, terminada a sua formação superior, o Estado terá a responsabilidade de disponibilizar um lugar na função pública para o colocar. E, para termos uma noção dos reflexos sociais que esse problema acarreta, só teremos que dar uma vista de olhos, mais uma vez, ao que vem acontecendo em Portugal de uns anos para cá. Por isso, há que desconstruir o discurso utilizado desde os anos pós independência que visava estimular os jovens a ambicionar uma formação superior em detrimento das outras. Aliás, um discurso coerente para a época, mas que acabou por gerar outros males, como o gostinho pela obtenção de um título académico e a busca de um lugar de relevo na Administração pública, que há muito tempo excedeu os seus limites.

sábado, 26 de setembro de 2009

BAKANDESA


Na semana transacta, a nossa televisão nacional (TCV) passou mais uma daquelas peças caricatas que só eles sabem fazer, sobre um grupo de rabidantes de material escolar que se achava prejudicado pelo facto de lhes ter sido interditado a venda da sua mercadoria, mesmo em frente da loja onde a tinham adquirido. Esse quadro tem-se repetido ao longo dos anos sem que ninguém tomasse as medidas legais para pôr coubro a essa concorrência desleal. Porém, este ano, parece que as coisas mudaram e lá estava a televisão caboverdiana para dar voz à reeivindicação da ilegalidade. Sim, porque da forma como é apresentada a peça, faz-nos crer que se estava a violar o direito das rabidantes, não as deixando arrecadar algum lucro sobre o investimento feito, quando o caso devia ser posto prfecisamente ao contrário.
Criou-se uma ideia peregrina, principalmente na ilha de Santiago, de que qualquer negócio é válido, desde que justificado com a falta de emprego e única alternativa para o ganha pão de determinadas famílias, supostamente desfavorecidas. Estribados nesse argumento, aos poucos, foi-se acabando com as areias das praias da nossa ilha mãe, vendida muitas vezes por oportunistas, à construção cívil, hipotecando o futuro de muitos caboverdianos, inclusivé, dos seus próprios descendentes, já que a areia dessa praias é um bem público e pertence a todos nós. É também escudado nesse fundamento que, determinados senhores da droga, são vistos como verdadeiros empresários de sucesso, sendo mesmo, alguns deles, mostrados em programas da TCV como um exemplo a seguir. É a aplicação da teoria de Maquieavel ao business ilegal nas ilhas insulares: o fim justifica os meios!
Conta-se que em certas zonas do interior da Ilha de Santiago, o jovem emigrante que regressa de férias e não traz na bagagem os narco-dólares para construir um prédio para a mãe, e não apresenta um daqueles carrões da moda que tanto gostam de exibir, é dado como “BAKAN” e torna-se motivo de “chacota” na zona.
A verdade é que mesmo tendo autorização para o comércio informal passado pela Câmara, é nosso entendimento que, essa forma de negócio restringe-se a determinados espaços municipais e não a qualquer passeio da cidade, muito menos, no que fica bem em frente ao do distribuidor oficial de determinada mercadoria.
A vida em sociedade rege-se por normas, precisamente para que sejam respeitados as garantias e liberdades de todos, ainda que, por vezes, essas normas defendam mais uns do que outros, porque somos nos próprios que acabamos por validar determinados comportamentos desviantes que acabam por ser assumidos como costumes. Compete-nos portanto a nós, cidadãos, escolher quais as normas e costumes que queremos para a nossa sociedade, e a televisão pública, deve, acima de tudo, defender bons exemplos e bons costumes. Deve mostrar as reeinvidicações das rabidantes, mas nunca numa prespectiva de serem elas quem tem razão, quando estas estão a agir de forma ilegal.

Texto e Fotografia: Baluka Brazão

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CLIMA!

Passamos o ano inteiro à espera das chuvas, mas quando elas chegam, começa o nosso desespero: São casas encahrcadas, ribeiras a transbordar, ruas intransitáveis, cidades às escuras e, para piorar as coisas, determinados discursos dos responsáveis camarários.
Ainda a semana passada, depois das chuvadas que caíram em S. Vicente, lá apareceu a Zau na TV, a dizer que situaçãoes do género às que temos assistido, têm acontecido em todo mundo e são consequências das grandes mudanças climáticas!
Se por um lado essa justificação tem algum fundamento, por outro, essas alterações climáticas, só vieram a pôr a nu os erros que se vem cometendo, permitindo a ocupação de terrenos para construção, localizados nos leitos das ribeiras, sem criar infra-estruturas que permitam o escoamento das águas pluviais que, passam a usar as ruas para irem desaguar nas várzeas da cidade. Em alguns casos, nos bairros de construção clandestinas, a situação é de ilegalidade, mas é facto que, existe, em alguns casos, alguma permissividade e complacência da parte das autoridades municipais.
Há mesmo alguns bairros que parecem estar destinados para esse fim! É que ninguém se preocupa em criar lotes de terreno para as famílias mais desfavorecidas, deixando que elas próprias acabem por recorrer a esses bairros para poderem construir as suas habitações, só que, de forma clandestina.
Para além dos perigos a que estão expostos na época das chuvas, exsitem muitos outros, como por exemplo, o risco de deflagraçaõ de incêndios que, no caso de acontecerem, dificilmente poderão ser combatidos pela corporação de bombeiros, devido às complicadas “vias de acesso” existentes nesses bairros.
Os problemas aqui mencionados são só uma pequena parte das condições que proporcionaram o aparecimento desses verdadeiros “gethos” que, continuarão a sua expansão, enquanto não houver uma real percepção da dimensão do problema. Só encarando de frente as falhas que se tem cometido a nível da gestão dos terrenos municipais, é que se poderá tentar corrigir o rumo que os nossos principais centros habitacionais estão a tomar em termos urbanísticos . Porém, não será com discursos do género da Sra. Presidente da câmara de S. Vicente, em jeito de quem sacode a chuva do capote, que as coisas irão melhorar. Agindo dessa forma teremos cada vez mais vítimas a lamentar no futuro.
Os pedidos de solidariedade feitos à sociedade eao governo, devem ser respondidos de forma positiva. Contudo, não podem funcionar como forma de ir buscar mais algum para ser destribuído - como quem distribui aspirinas para dor de cabeça - aos que todos os anos pagam, inclusivé com a vida, pelos erros cometidos por quem, em campanhas políticas, promete-lhes uma vida melhor.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

NOVOS TEMPOS, VELHOS DISCURSOS


José Maria Neves apresentou-se no último fim-de-semana como candidato à sua própria sucessão na liderança do PAICV. Como promessa eleitoral trouxe a implementação do 13º mês, em termos de benefícios salariais e, a introdução do salário mínimo nacional. Como disse, e muito bem, o Dr. Corsino Tolentino, no programa Visão Global da RTCV, é preciso que se explique aonde se irá buscar as receitas para se atribuir aos funcionários da função pública, tal regalia. Porque senão, isso não passará de mais uma promessa de campanha eleitoral que será esquecida mal se consiga o objectivo de ganhar as eleições que se avizinham. Por outro lado, num país onde as estatísticas afirmam que 37% dos jovens estão desempregados, estabelecer um salário mínimo, poderá ter um efeito de aumentar esses números, apesar de garantir o salário mínimo que as empresas e famílias terão de pagar pelos serviços que lhes sejam prestados. É que a crise ainda está muito presente e, essa medida, irá aumentar a responsabilidades das empresas na hora de contratar novos empregados e, em muitos casos, aumentar as despesas correntes dessas empresas. Por exemplo, as camadas mais desfavorecidas da população que recorrem às funções de empregadas domésticas como forma de sobrevivência, poderão vir a engrossar os números estatísticos de desempregados, com a obrigação das famílias passarem a ter que pagar um salário mínimo estipulado por lei. Ou então, no mínimo, isso irá fazer aumentar a situação de empregos precários, um efeito contrário ao desejado com a implementação desta norma.
Este tipo de promessas que vão no sentido de incrementar os direitos dos trabalhadores, podem ser conotadas com demagogia política, principalmente quando lançadas nesta fase da legislatura. E poderá ainda ser confundida com alguma falta de ideias para dar continuidade ao o que até agora se fez e a busca de soluções para os problemas de cariz social que se tornam cada vez mais evidentes nos principais centros urbanos do país.
Por isso, não deixa de ser preocupante que, estas sejam as propostas eleitorais do partido da situação, e que do outro lado, a oposição defenda o aumento de tarifas para o consumo de água e energia eléctrica, em vez de falar em propostas que tornem mais eficientes a distribuição destes bens de necessidade, podendo assim adequar-se os preços desses bens e serviços, ao rendimento das famílias cabo-verdianas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PERMISSIVIDADE E IMPUNIDADE


Fotografia:Nobuyoshi Araki

Que não existe qualquer tipo de controlo sobre os menores que frequentam as discotecas no nosso país, isso toda a gente já sabia. Também é mais do que sabido que certas casas de diversão nocturna servem de ponto de angariação de clientes para algumas prostitutas que vêm nesses espaços, lugares privilegiados para ganharem a vida, numa mistura tipo dois em um.
No entanto, com a entrevista publicada no último nº do jornal “A NAÇÃO”, tornou-se público que, algumas dessas meninas, que se tornaram mulheres precocemente e que frequentam normalmente esses espaços de diversão nocturna, têm idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos. E que também elas seguem o mesmo esquema das mais velhas, vendendo os seus corpinhos de adolescentes, a quem quiser comprar, para poderem alimentar pequenos vícios e luxos. E pelos vistos há sempre quem esteja disposto a pagar, até com notas de 100 euros por uma simples “mamada”.
Perante este cenário de permissividade e impunidade, apetece perguntar: aonde pára a polícia?
Sim porque parece que a família deixou de ser a instituição responsável pela educação e orientação das suas crianças e adolescentes, e passou essa responsabilidade à sociedade que vira a cara para o lado perante estas situações. Portanto, restam-nos a polícia e os tribunais para tentar manter as coisas no lugar, actuando no sentido de fazer cumprir as leis existentes no país.
Fazendo uma breve leitura do estipulado no nº 1 do Artigo 145º do CÓDIGO PENAL DE CABO VERDE, verificaremos que é crime punido com pena de prisão de 6 meses até 4 anos de prisão, mesmo não havendo penetração, a prática de actos sexuais com ou em menores com mais de 14 e menos de 16 anos, e na qual o agente se prevaleça da sua superioridade, originada por qualquer relação ou situação... sendo que o nº 2 do mesmo artigo preceitua ainda que “se houver penetração sexual, a pena será de prisão de 1 a 6 anos”. Daí que facilmente de depreende que alguns factos relatados na entrevista do jornal A NAÇÃO representam crime de abuso sexual de menores entre os 14 e os 16 anos. Pois que os adultos que estabelecem esse tipo de relações com as “pexinguinhas” menores, engatadas nas discotecas onde lhes deveria ser vedada a entrada, fazem-no prevalecendo-se da sua superioridade económica.
Esperamos que com esta revelação as autoridades judiciárias ajam em conformidade com o que está estabelecido por lei.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

BEM ME QUER OU MAL ME QUER


A selecção de Portugal lá conseguiu ganhar um jogo, contra a hungria, e continua a fazer contas para ver se chega à Africa Do sul para disputar a próxima copa do mundo. Nos ultimos dois jogos, depois do alarido que se arranjou por causa da convocação de Liedson para a selecção nacional portuguesa, acabaram por ser precisamente Liedson, contra a Dinamarca, e agora Pepe, outro luso brasileiro, contra a Hungria, a ajudar a preservar a esperança que ainda resta a selecção, de poder ir disputar os play off e fazer parte do grupo das melhores selecções do mundo.
É curioso que não existe muita contestação sobre a participação de jogadores naturais de Cabo Verde, Angola, ou Moçambique, naturalizados portugueses, na selecção portuguesa de futebol. No entanto, quando se trata de jogadores oriundos do Brasil, gera-se sempre muito ruído sobre a questão.
Será que isso acontece porque os portugueses aceitam melhor os que eles entendem ser os melhores representantes das ex-colónias africanas? Ou será que é porque entendem que os brasileiros que participam na selecção Portuguesa só o fazem por não ter lugar na selecção canarinha, e por esse facto,recorrem à selecção portuguesa?
Apesar de na prespectiva de alguns portugueses poder parecer desprestigiante ter que ficar com as sobras do Brasil, que já foi colónia do império potuguês, fico com a impressão que, em ambos os casos, os jogadores só estão a pensar na visibilidade que essa sua decisão pode dar à sua carreira profissional e não em representar o seu país de cidadania.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

DISCURSO DO MEDO

Apesar de fazer parte do grupo de pessoas que entendem que Jorge Santos poucas hipóteses teria no confronto pela liderança do MPD, contra Carlos Veiga, penso, no entanto que, a melhor forma de eleger o seu líder, teria sido através das eleições directas na próxima convenção do movimento. Assim deve-se agir em democracia.
Os líderes e militantes do MPD não devem continuar a passar uma imagem de contínua fragilidade do movimento derivada das várias cisões que o assolaram desde a sua formação em 1990, provocadas pela discordância interna, no que tangia às políticas de governação do país, nos anos em que este movimento esteve no poder. Ao contrário do discurso de sacrifico proferido por Jorge Santos, é meu entendimento que o seu discurso foi o discurso do medo. Medo de vir a perder as eleições legislativas devido a possíveis desentendimentos internos provocados por uma disputa pela liderança dentro do movimento.
O MPD só se mostraria uno e coeso, se após as eleições internas formasse um grupo forte para atacar as eleições legislativas de 2011. Procedendo da forma como procedeu, mostrou mais uma vez que, a única alternativa para disputar o poder com o PAICV, passa pela liderança de Carlos Veiga. O que deixa bastante fragilizada a imagem política de todos quantos durante estes anos de oposição estiveram a dar a cara pelo MPD, bem como os quadros que suportavam a liderança de Jorge Santos.
Por outro lado, também para a maioria dos observadores políticos, parece óbvio que o MPD só terá hipóteses de disputar a governação do país em 2011, tendo como líder o Dr. Carlos Veiga. E, para evitar que seja posta em causa essa possibilidade de vitória, os ventoinhas preferem não correr o risco de mais uma rotura que possa fragilizar a sua posição em vésperas de eleições legislativas

SÁBADO XENÓFOBO


O edição da Revista Sábado portuguesa de 27 de Agosto de 2009, trouxe a público um pequeno texto fazendo referência ao combate da GNR á criminalidade nos bairros periféricos de Lisboa onde se concentram uma grande parte de emigrantes vindos das ex-colónias e indivíduos da etnia cigana. A GNR é acusada pelos moradores desses condomínios de ser responsável por muitos dos conflitos que se geram nesses bairros, o que não corresponde de todo à verdade como vem expresso nesse texto. Facto interessante que não me passou despercebido, é a fotografia que vem associada ao mesmo texto e que mostra um elemento da GNR empunhando uma metralhadora apontada a um indivíduo de raça negra que tem vestido uma T-shirt com a bandeira de Cabo verde estampada numa das mangas. Não me parece que tenha sido inocente a colocação de tal fotografia a acompanhar o texto, aliás, isso demonstra o clima de xenofobia que se vem desenvolvendo em Portugal com relação aos cabo-verdianos devido á associação destes aos vários tipos de crime cometidos nesse país, entre os quais, tem importante relevância o tráfego de drogas e os assaltos à mão armada.
O que não se diz é que grande parte desses delinquentes nasceram e cresceram em Portugal sem terem no entanto o direito à nacionalidade portuguesa, o que faz com que lhes sejam negados quase todos os direitos e garantias à nascença.

domingo, 6 de setembro de 2009

DOMINGO... PASSADO!

Domingo, acordo subressaltado com marteladas consecutivas na parede contígua ao meu quarto de dormir. É assim no apartamento onde vivo em Achada Stº. António, no prédio que fica colado aos escritórios da representação da União Europeia. Como trabalham durante a semana, para não incomodar os seus funcionários que certamente estarão a descansar em suas casas ao domingo, aproveitam para fazer obras de remodelação no prédio de escritórios sem se preocuparem com os vizinhos. Mas também, parece que ninguém se preocupa: nem os responsáveis pela representação, nem os vizinhos. Parece até que todos acabam por se habituar a esta falta de civismo. O mínimo desejável para este tipo de situações que se repete várias vezes por ano, seria avisar à vizinhança que em determinado fim-de-semana se iria efectuar obras no edifício. Afinal, existem determinadas regras que se devem respeitar quando se vive em sociedade. Mas, pensando bem, não vale a pena estar a incomodar tanta gente só para os precaver que durante o fim de semana irão despertar com algumas marteladas a ecoar pela casa dentro.
Eu que gosto de sair ao fim- de- semana para tomar umas cervejas com os amigos e deitar conversa fora, por isso, por vezes dou-me muito mal com tal despertar, principalmente, quando por azar, as marteladas são encomendadas para um sábado de manhã. Ou então, quando estou a chegar de uma das minhas muitas viagens de serviço e preciso mesmo de descansar. Se vivesse num país da UE, ou então nos EUA, Chamava a polícia, e de certeza que eles viriam prontamente repôr a ordem. Eles com a sua mania de fazer respeitar os direitos fundamentais de cada filho de parida e a tal estória da constituição!
Uma vez, até saí ao terraço e pedi que parassem. Eles fingiram que levavam em consideração o meu pedido, e passado alguns minutos, lá voltaram as marteladas numa toada mais mansa. Mas como já estamos todos habituados, uns a faltar ao respeito e outros a serem desrespeitados, já ninguém se incomoda. Ainda mais, quando a falta de respeito parte de uma instituição tão nobre como a representação da UE. Para quê estar a arranjar chatices por causa de umas marteladas a ecoar dentro das nossas cabeças quando nós só queremos ficar mais uns minutos na cama? Deus ajuda a quem madruga... lembras-te?
O diabo é que começa sempre por volta das 9 da manhã... passadas algumas horas, volta o silêncio e podemos voltar para a cama, mas já não nos apetece.
De vez em quando, acordo assim, no prédio onde vivo. E é sempre ao Domingo, quando não é ao sábado.

sábado, 5 de setembro de 2009

UNIVERSIDADE: VERDADES E PERCEPÇÕES NA HORA DA ESCOLHA

Segundo o estudo “UNIVERSIDADE: VERDADES E PERCEPÇÕES NA HORA DA ESCOLHA”, encomendado à Universidade de Santiago pelo Jornal A NAÇÃO, a maioria dos estudantes que pretendem fazer uma formação superior no país, optam por fazê-lo, por ordem de preferência, na Universidade Jean Piaget, seguida da Universidade de Cabo Verde, Universidade de Santiago e o Instituto Superior das Ciências Jurídicas e Sociais, valorizando por ordem de preferência na escolha, o prestígio das instituições em primeiro lugar, a existência dos cursos pretendidos, a aceitação do curso no mercado de trabalho, e ainda a influência dos amigos e dos pais. Ficou no entanto por dizer que nessa ordem de preferência, para muitos desses alunos, pesa muito o facto de ser mais fácil obter notas para passar de ano em algumas dessa instituições de ensino superior, do que em outras, onde existe um maior rigor na hora de avaliar o conhecimento assimilado ao longo dos anos lectivos. É de domínio público que existem empresas no país que se recusam a recrutar quadros formados em determinadas Universidades a funcionar em Cabo Verde, assim como se sabe que a Ordem dos Arquitectos não aceita no seu seio arquitectos formados na Universidade Jean Piaget. Outra situação que se verifica, é a dos profissionais estudantes que recorrem ao ensino superior unicamente com o propósito de adquirir um canudo que os ajude na sua progressão profissional. Para que as universidades não sejam encaradas como meros vendedores de diplomas, é necessário que exista maior rigor, tanto na escolha dos docentes que integram o quadro de formadores, como uma maior exigência por parte destes com relação aos formandos que frequentam os cursos ministrados por essas instituições de ensino superior.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Kal Kê Bu Feeling?


Um dos discos que tenho estado a ouvir, é o mais recente disco de Lura, ECLIPSE. Discos de música cabo-verdiana são sempre bons presentes para quem vive na diáspora e nesta minha viagem, este foi um dos discos que ofereci ao meu irmão.
Sobre este novo disco de Lura, devo dizer que gostei da faixa 2 (UM DIA), muito ao jeito de Lura e especialmente, da forma como foi gravado o tema QUEBRÓD NEM DJOSA de Valdemiro ferreira. Muito Funky, excelentes músicos, bom balanço, uma voz forte e bem posicionada. É pena que se teime em querer fazer de Lura uma intérprete de músicas que têm como pano de fundo cenas do mundo rural cabo-verdiano, contrariando essa sua atitude claramente urbana, tendo como primeira preocupação o mercado e só depois a carreira da artista. Se bem que uma coisa acaba por estar interligada à outra, ficando portanto no ar que quem tem o poder de decisão nesta matéria, acredita ser este o melhor rumo a dar à carreira de Lura e ao seu próprio negócio.
Continuando a falar da ideia que se quer passar desse mundo rural, terra, terra, fiquei sem perceber o porquê da introdução de sons de aves de capoeira em TABANKA, da autoria de Orlando Pantera. Aliás, o formato dado a mais este tema de Pantera, vem confirmar o meu discurso crítico, sobre a forma como Lura tem interpretado as músicas deste malogrado autor nos seus discos. Não sei quem teve a ideia, mas não consegui entender qual a ligação que existe entre a tabanka e o grasnar e cacarejar desses bichos!
Será que os brancos curtem essa cena?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

AOS COMENTADORES ANÓNIMOS

ISTO É QUE FAZEM DE NÓS

Isto!
E perguntam-nos:
- sois homens?
Respondemos:
- animais de capoeira.
Dizem-nos:
- bom dia.
Pensamos:
lá fora...

Isto é que fazem de nós
quando nos inquirem:
- estais vivos?
E em nós
as galinhas respondem:
- dormimos.

Poema de Arménio Vieira

domingo, 9 de agosto de 2009

Discurso Indirecto


Num destes dias, enquanto revisitava os discursos desta nova vaga de músicos cabo-verdianos que têm feito enorme sucesso, principalmente, além fronteiras, lembrei-me das enumeras críticas lançadas contra a Mayra, após a chegada do seu primeiro álbum. A maior parte referia-se ao facto de a música da Mayra ter fortes influências da música brasileira. Sobre essa questão, Mayra terá dito numa das suas muitas entrevistas, que esse seu estilo, tinha tomado essa forma, porque durante a sua formação musical, desde muito nova, a música brasileira esteve sempre muito presente. Sendo filha de pais cabo-verdianos, ainda que nascida em Cuba e viajada por vários países da Europa como de África, é natural que a música brasileira tenha influenciado a música de Mayra, porque a bossa nova, o samba e outros ritmos desse país irmão, são presença assídua, na maior parte dos lares crioulos, para além de ser evidente, a influência deixada, na forma como hoje se toca, por exemplo, a coladeira. Porém, devo acrescentar que para além desses factores, no caso da Mayra, pesa muito o facto de ter no seu grupo de músicos, um excelente percussionista brasileiro chamado José Luís Nascimento.
Nestas coisas de conversas musicadas, lembro-me ainda de um desses encontros com Djô da Silva, na altura em que o Tcheka estava a gravar o seu primeiro disco para este produtor, em que ele dizia que lhe tinha sido feito uma proposta para produzir o CD inaugural da Mayra… na verdade, o que ele dizia, era que lhe queriam impingir a Mayra, mas que ele não estava interessado no estilo dela.
Olhando para o percurso que a Mayra tem feito e o facto de estar a gravar para a SONY, a esta altura, parece-me que Djô da Silva deve estar bem arrependido de ter recusado a dita proposta. Para além disso, é bom que se ponha a pau, porque depois de ouvir a faixa nº 6 do novo álbum de Mayra, fiquei com a impressão que ela começa a querer chamar a si parte dos apaixonados pela voz de Cesária Évora. Um mercado muito apetitoso, diga-se!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Melhor Cidade do Mundo


Após a leitura do post do meu amigo e irmão César Cardoso, sobre as melhores cidades do mundo, onde se destacam claramente as cidades onde existe uma forte preocupação com o meio ambiente, o que passa também pela questão estética, e ainda pelas oportunidades que se oferecem aos seus habitantes e visitantes em estar em constante contacto com eventos culturais e artísticos, aonde forçosamente se tem de incluir a culinária, pus-me a pensar nas várias cidades que já visitei nas minhas muitas viagens que já fiz durante esta longa jornada que é a vida, e as opções que gostaríamos de ter na nossa cidade capital. São essas coisas que vêm faltando à cidade da Praia, que felizmente, começa a ter outro aspecto com a nova gestão camarária, e, algumas opções esporádicas para arejar os nossos espíritos, porque nem só do pão vive o homem.
Ainda assim, parece-me que a melhor cidade, é onde nos sentimos bem, e são tantas… ainda que a nossa, seja sempre a melhor!
De férias por terras do tio Sam, saí uma destas noites acompanhado pela família e alguns amigos para ir a um restaurante japonês comer sushi, e depois, demos um pequeno salto ao Wally´s Café, em Boston. Depois de nos deleitarmos com duas travessas de sushi confeccionadas pela detentora do galardão de melhor chefe nessa matéria em 2008 nos EUA, acompanhadas de um bom Merlot, partimos para Boston, para assistir a uma sessão de funk e jazz ao vivo, naquele que é o melhor jazz café dessa cidade, onde a poucos metros de distância, fica o Berklee College of Music.
A melhor cidade do mundo é onde nos sentimos bem, e são tantas… ainda que a melhor seja sempre a nossa cidade! Mas para isso, é preciso que sintamos que fazemos realmente parte dela.

Texto e fotografia: Baluka Brazão

TEMPO DE REFLEXÃO

Quando se começa a contar espingardas para as próximas eleições legislativas e cada vez mais se questiona a qualidade dos homens que optam por uma carreira nessa esfera da sociedade, buscando nos cargos políticos, mais do que a defesa dos interesses da Nação, a defesa dos seus próprios interesses, deixo uma frase de Robert Musil, in O Homem sem Qualidades, para reflexão:

(...) Também na vida, aqueles que calculam friamente não alcançam metade do êxito que obtêm os espíritos bem equilibrados, capazes de nutrir pelos seres e pelas relações que lhe são proveitosos, sentimentos verdadeiramente profundos.

GOOD NEWS



Apesar do grito de Ipiranga dos empresários da construção civil ligados à imobiliária para fins turísticos que viram as suas contas trocadas pela crise económica que aterrou na Ilha do Sal vinda do velho continente, notícias vindas de Portugal dizem que os destinos turísticos mais procurados pelos portugueses durante estas férias de verão têm sido Cabo Verde, Canárias e Porto Santo, na Madeira. Mais importante que a questão dos impostos, parece ser a busca de soluções dos problemas ligados à criação de infra-estruturas sanitárias, ao meio ambiente e à segurança, principalmente na zona de Santa Maria.

Fotografia:Jorge Alves

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

CRISE DE VALORES


Fim-de-semana aziago em Dorchester termina com duas vítimas mortais, resultante de mais uma noite de convívio no restaurante Ka- Carlos, ponto de encontro da comunidade cabo-verdiana nessa cidade. Parece-nos exagerado referir-se a esse restaurante como sendo um dos mais luxuosos restaurantes de Boston, onde os cabo-verdianos dessa região se encontram para tomar uns copos, sendo que frequentemente surgem discussões que terminam em brigas com consequências mais ou menos graves. Para além disso, Dorchester é frequentemente fustigada por lutas de gangs de cabo-verdianos que têm vindo a denegrir a imagem dessa comunidade, que tem resultado, inclusive, na deportação de alguns cabo-verdianos residentes nesse país da diáspora, para cabo verde, onde o clima social existente, tem-se tornado num terreno fértil para o aparecimento desse fenómeno, principalmente, na cidade da Praia. O problema de fundo parece ser o mesmo tanto em Dorchester como na Praia: a falta de disponibilidade dos pais para acompanharem a educação dos filhos adolescentes, os valores que as sociedades actuais que têm como paradigma, a valorização dos critérios económicos, abstraindo-se da adopção de critérios culturais, sociais ou ambientais. Em Cabo Verde, apesar dos dois partidos que se vêm alternando no governo se identificarem como sendo de centro direita (MPD) e centro esquerda (PAICV), ambos têm desenvolvido políticas que se aproximam das linhas com que se cosem os partidos de extrema-direita. E, se nos preocupa o facto de uma das grandes fraquezas da governação sustentada pelo PAICV ser precisamente a falta de soluções para o desemprego dos jovens, o grande investimento que se tem feito em infra-estruturação rodoviária, portuária e aeroportuária, ainda que necessário para que se possa dar continuidade ao desenvolvimento do país, irá provocar, a médio prazo, um aumento de impostos, num período de situação de crise económica mundial, com reflexos a nível nacional, ainda que se pretenda mitigar essa questão. Aguardemos pois até 2011 para ver quais as soluções que serão apresentadas por um e outro partido, sendo que as políticas de ambos, se vêm aproximando cada vez mais, apesar de defenderem ideias diferentes.

domingo, 2 de agosto de 2009

POESIA


Palavra:
Cruzado é jogo
Trocado é intriga
Dado é cumprido
Faltado é falsia
D amor é poesia

De Rei é lei
De Senhor, amén
Mal scrito é erro
Bem scrito é arte
Firmado é promessa
Di bó é simplesmente um língua na nha boca

Palavra:
De vivo é vento
De morto é herança
De honra é aval
Às vez é lamento
De Ordi é pa grita

Gritado é força
Às vez é fraqueza
Rimado é beleza
Rumado é blá-blá
Xintido é oraçon
Di bó é simplesmente um lingua na nha boca

Palavra:
A favor é argumento
Cantado é finason
Titubeado é gaguez
Truncado é mudez
Calado, hmm! Desconfia

De Romeu +e julieta
De Quixotre é loucura
De Buda é sapiência
De Fidel é persistência
Di meu podi ser banal
Ma di bó ê simplesmenti um lingua na nha boca

Versos de Mário Lúcio Sousa, interpretados por Mayra andrade, no seu último disco, Stória, stória.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Poder, made in CV



Fora do país por uns dias, vou recebendo ecos do nosso parlamento através dos nossos jornais on-line. As últimas, falam de mais uma intervenção despropositada de Jorge Santos, que tem feito o seu percurso nessa casa parlamentar estribado num discurso bota a baixo, e, por vezes, na maioria das vezes, bastante incoerente, como parece ter sido esta última, em que aproveita os laços de sangue existentes entre o Dr. Manuel Barbosa e o Primeiro-ministro, para tentar denegrir a imagem deste segundo. Não é este o discurso político que se pretende para quem lidera o maior partido da oposição com assento no Parlamento e pretende ser o próximo primeiro-ministro do país. Ainda mais, quando se sabe que o advogado em causa, tem afinidades com o próprio MPD e nem sequer foi julgado.
Já na altura em que o Dr. Manuel Barbosa recebeu a ordem de prisão, por alegada ligação ao narcotráfico, me pareceram despropositadas, as declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados, que entre outras coisas, terá afirmado que não se terá respeitado o direito à presunção de inocência do suspeito, constituído arguido, e, que a partir de então, qualquer advogado que defendesse alguém suspeito de envolvimento com o mundo do narcotráfico, corria o risco de ser preso. Note-se que o homem ainda nem foi julgado e já está a ser dado como culpado por quem deveria defendê-lo. Parece-me que indivíduos com o nível de responsabilidade do Sr. Bastonário e o até então Presidente do maior partido da oposição deveriam ser mais racionais e menos emocionais, para não dizer calculistas, na hora em que decidem intervir publicamente sobre determinadas matérias.

Fotografia:Jornal da Hiena
Texto:Baluka Brazão

quarta-feira, 29 de julho de 2009

I M BACK



Tornou-se moda falar mal dos TACV, ou então tecer comentários sobre qual a melhor forma de gerir esta empresa de transportes aéreos nacional. É verdade que nos últimos anos a TACV tem passado por vários problemas de gestão que vêm afectando a imagem da empresa, a tal ponto que ninguém parece ter paciência para esperar que as coisas mudem. Ao ponto que as coisas chegaram, não me parece que haja fórmulas mágicas para que de um dia para outro as coisas mudem radicalmente e, as medidas de gestão que se vão tomando só produzirão efeitos em termos de resultados visíveis a médio prazo. Parece-me evidente que esta intransigência com que os media vêm tratando a TACV, em nada ajuda a recuperação da imagem sobejamente desgastada da transportadora aérea de bandeira, principalmente, quando se percebe que muitas das informações que vêm a público, partem de gente com acesso a informações privilegiadas dentro da TACV, que por motivação pessoal, vão usando a comunicação social, com o propósito de mostrar que anda tudo muito mal, pensando que assim, poderão atingir os objectivos pessoais preconizados. Para além disso, nota-se também que, tais informações são postas a circular pelos média, tal como são passadas, sem a mínima preocupação de se averiguar qual a veracidade dos factos noticiados. Presta-se assim um bom serviço a um amigo e um péssimo serviço à nação.
Na verdade a TACV passa por imensos problemas que nos preocupam a todos, especialmente, pelo papel que esta empresa tem de garantir a ligação da maior parte do território nacional, e ainda, parte das comunidades da diáspora ao território nacional. E, a meu ver, muitos desses problemas poderiam ser resolvidos, através de uma escolha criteriosa das pessoas que ocupam lugares de chefias intermédias, que são na verdade, quem garante a transmissão das políticas de gestão emanadas pela Administração da empresa, e, concomitantemente, os níveis de qualidade de serviço prestados pela empresa. Até porque, parece que os problemas existentes, são acima de tudo, problemas comportamentais.

Texto: Baluka Brazão
Fotografia de L. M. Correia

terça-feira, 14 de abril de 2009

QUO VADIS MPD???


À medida que se aproximam as eleições vão-se radicalizando as posições. No MPD, onde há muito se entendeu que Jorge Santos e a sua Direcção teriam poucas hipóteses de vencer José Maria Neves e o PAICV, apesar do desgaste de quase dez anos de governação, pede-se o regresso de Carlos Veiga! Por um lado seria positivo o retorno do líder mais carismático dos ventoinhas a este embate legislativo, desde que trouxesse consigo ideias claras sobre como melhorar a prestação governativa feita até agora pelo Partido no governo e caso chegasse a ganhar pusesse em prática essas ideias, apoiado por uma equipa forte que não seria possível apresentar com o actual corpo directivo. Por outro, se a intenção é tão só, o assalto ao poder, para depois catapultar-se para as eleições presidenciais, como alguns já vaticinam, então seria um erro, que nos lembra os últimos anos de governação do MPD. É Preciso aprender com os erros do passado e pôr os interesses do país á frente dos interesses pessoais e partidários.

Texto e Fotografia:Baluka Brazão

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Kriola En-Kantu


Toda a obra quando concluída guarda nela uma vasta informação seleccionada para constar nela. Mais do que isso guarda sentimentos dois quais o artista não se consegue apartar quando concebe um trabalho artístico. É a sua forma de perceber as coisas, os lugares, suas gentes, seus sons, os seus sabores, mas acima de tudo, é a sua forma de sentir como tudo isso se processa à sua volta.
Este disco que hoje aqui orgulhosamente apresentamos, é a forma como a Isa aprendeu a sentir a música de cabo verde, música crioula e consequentemente, fruto duma grande miscigenação de ritmos e sons, que por aqui passaram e ficaram, transformados no que chamamos de Bandêra, kolá, Mazurka, Coladêra, Morna e Funaná que foram alguns dos estilos escolhidos pela Isa para compor este álbum.
Kriola Encanto é um disco feito á medida da Isa. Doce, suave, melodioso, mesmo quando trata ritmos mais quentes e com os quais lidamos de forma epidérmica, sensorial, reactiva, como é o caso do funaná da faixa 8. É um disco moderno que nos traz estilos tradicionais, antigos, interpretados de forma contemporânea. Aliás para mim essa é uma característica comum aos músicos desta nova geração que tem projectado a música cabo-verdiana muito além das nossas fronteiras e de alguma das limitações que alguns insistem em querer forçosamente preservar, esquecendo o percurso que se fez para chegar até aqui. A forma como hoje se toca o violão na coladêra tem fortes influências da música brasileira, que entraram em cabo verde através do Porto Grande e que se tornaram num legado deixado por músicos como Luís Rendal, que para mim, é o ícone desse estilo, apesar de existirem outros do mesmo calibre. São esses ritmos que vamos encontrar no tema número três, onde Isa traz-nos um cheirinho da Baía, com participação de Voginha, que vem confirmar o trabalho fantástico que vem fazendo na preservação dos estilos tradicionais tocados com o violão.
Ser crioulo implica este tipo de influências que são marcas indeléveis da nossa história e da nossa cultura. Aliás, a fusão entre o batuko e o flamengo no tema número 7 vem provar-nos isso mesmo. Será que esta mistura faz do batuko menos batuko? Ou será que o torna mais rico? São perguntas que ficam no ar. Ouvir com atenção este tipo de trabalho poderá ajudar a fazer julgamentos despidos de preconceitos a este respeito.
Para além disso nota-se que há uma preocupação no sentido de se actualizar também os temas dos versos que compõem os álbuns destes novos artistas. Nesse aspecto, Isa surpreende-nos com 5 temas seus e mais uns tantos de compositores actuais, dos quais não podia deixar destacar a estreante Lay Lobo. Mas, para que hoje pudéssemos estar aqui a apresentar o primeiro registo em CD desta voz encantadora, houve toda uma caminhada, um processo de aprendizado, um trabalho árduo, muitas vezes compartilhado, porém, outras vezes solitário, onde me parece que, o irmão e músico Valdo terá exercido um papel preponderante.
A voz é considerada o primeiro instrumento musical. Por isso, para quem já aprendeu, ou pelo menos tentou aprender a tocar violão, esse instrumento tão popular entre nós, sabe as dificuldades com que se deparou no início, para conseguir fazer com que os dedos respeitassem a vontade do cérebro e as dores que se apoderam das articulações durante essa fase de iniciação. Imagino o quão difícil terá sido para a Isa conseguir chegar a este ponto de ter um domínio perfeito sobre as suas cordas vocais e por fim, presentear-nos com esta sua primeira obra musical que nos fala de cabo verde e da diversidade da cultura das suas ilhas; um disco que os nossos ouvidos não se cansam de ouvir porque é como se fosse um suave massajar para os nossos sentidos. É claro que se tem forçosamente de partilhar estes elogios com os músicos escolhidos para acompanhá-la e que encaixaram na perfeição neste trabalho, onde mais uma vez, Hernani Almeida, joga um papel importantíssimo como Director musical e músico de referência. Surpreendeu-nos sobretudo a sua performance na guitarra baixo eléctrica, uma vez que é a primeira vez que o ouvimos tocar tal instrumento e sempre com a mesma qualidade a que nos habituou. A isso teremos ainda que acrescentar, a forma como conseguiu dirigir os músicos que participaram neste trabalho, todos com enorme experiência e talento, fazendo com que a sua destreza instrumental ajudasse a destacar ainda mais as qualidades da voz desta “Kriola Enkantu”.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Ponta do Iceberg



Após algum tempo acompanhando de camarote o que se passa na política nacional, eis que cai na minha caixa de correio um texto com várias explicações que faz do caso Murdeira apenas a ponta do iceberg do que é a grande negociata dos terrenos das ZDTI. Esta pode ser uma das explicações para o súbito enriquecimento de muito boa gente cá do burgo e a forma como se vem hipotecando o futuro dos caboverdianos que continuam a assistir "em parvos e serenos" à venda do próprio país. Ligações, nomeações e demissões muito lógicas, entre as quais, a dança dos vários presidentes que passaram pelo concelho de administração da CI. Quem parece estar por trás desta grande bronca é alexandre fontes que não se encaixa no perfil desejado para os grandes investidores nacionais (especuladores) que compraram grandes porções de terrenos em zonas previligiadas, pela módica quantia de 50$00 a 100$00 o metro quadrado, terrenos esses, que chegam a ser vendidos a 15.000$00 o mesmo metro quadrado, no dia seguinte ao da compra. Assim se fazem milionários do dia para a noite. Segundo parece, o problema é que esses terrenos deviam ser comprados para a execução de grandes investimentos que iriam reverter em termos de empregos para os caboverdianaos e impostos para o Estado. Daí o preço meramente simbólico e a preocupação em vendê-los aos amigos do partido no poder como forma de garantir o "cumprimento do acordado", e trazer o tão desejado desenvolvimento económico de que tanto se fala (de dois dígitos) mas só chega para alguns, os mesmos de sempre! Mas com a crise e alguns impedimentos legais, a coisa foi-se tornando mais complicada e parece que o desespero tem levado o pessoal a dar passos em falso, e aos poucos vai-se descobrindo ligações muito perigosas entre a CI, menbros do governo e especuladores de terrenos.
O texto começa assim, paço a citar:


QUEM TRAMOU ALEXANDRE FONTES ou, QUEM TRAMOU JOSÉ MARIA NEVES?

1. Duas perguntas com a mesma resposta. A única diferença está no desfasamento do efeito. A primeira produz efeito de imediato com a demissão e a consequente degradação da imagem de Alexandre Fontes. A segunda produz efeito mais retardado que poderá culminar na derrota do PAICV nas próximas eleições. O povo não é cego e não perdoa com facilidade. O mesmo já tinha acontecido no segundo mandato do MPD.

2. Tanto Fontes como Neves são vítimas de uma cabala ardilosamente preparada com contornos corruptos, próprios dos melhores enredos maquiavélicos e interesses de grupos, com muita capacidade financeira e forte influência na esfera politica.

Especulação imobiliária mancha o Governo de Neves

3. Há algum tempo para cá um grupo de especuladores que se intitularam investidores fez do negócio de terreno uma via fácil de se enriquecerem. A demissão de João Pereira Silva, fortemente envolvido no negócio de terreno, provocou um forte revés ao sistema e complicou-se ainda mais com a nomeação de José Brito, que cedo se apercebeu do que se passava e correu com Victor Fidalgo da Cabo Verde Investimentos. Alexandre Fontes com essa mania de não vender mais terreno para fins especulativos, também não servia ao sistema. Tanto Fontes como Brito teriam que ser substituído. O mesmo já tinha acontecido com Paulo Monteiro. Tanto um como outro não sobreviveram um ano no cargo.

4. Conforme comentou Paulo Monteiro, o seu maior problema é não ter dado a Manuel Pereira Silva (Manecas) o pelouro de ZDTI...

E continua assim: ... O que a Lei diz? cito. Os terrenos devem ser cedidos para a realização de projectos turísticos, a investidores com comprovada capacidade financeira e experiência relevante no sector do turismo. Quem recebeu esses terrenos?... 10. Como vêm, todos grandes “investidores”. É por isso que os projectos não arrancam. Não há politica no meio. Não há atrasos administrativos. Não há regionalismo, Isaura! Nem o Fortim vai arrancar, nem o teu Salamansa Sands. Não arrancam porque os projectos não são para realizar mas sim para vender... 11. O curioso é que na lista não aparece investidores estrangeiros. Só nacionais. Pelo simples facto de os terrenos estarem nas mãos de especuladores nacionais que encareceram os terrenos e passaram a intermediar directamente. E é aqui que se calhar Fontes tem razão. Embora, como ele diz, o contrato de direito de superfície aparece como uma das alternativas de cedência de terreno que facilita e acelera o investimento. Portanto, não é exclusivo. Se libertasse os investidores de aplicarem o dinheiro na compra de terrenos, através do contrato de direito de superfície, eles podiam ter mais capacidade financeira para investirem no projecto. Mas isto não dá porque o negócio do pessoal é a venda de terrenos. Simplesmente. Mais nada...

32. Mas que Estado de direito é este?! O nº 4 do artº 6º do Decreto Legislativo nº 13/97 de 1 de Julho determina “A comissão ordinária de serviço pode ser dada por finda pela Administração a todo o tempo, com pré-aviso mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias ou com fundamento em justa causa que inviabilize a continuação da relação laboral...

Perfil do Presidente de C.A. da CI

34. O artº 17º dos Estatutos da CI, estipula que “o Presidente da CI tem de ser escolhido entre pessoas com formação na área económica e com mais de 10 anos de experiência profissional relevante para o desempenho do objecto cometido a CI”...

Isto é apenas um sumário executivo.
Fim de citação.

Fotografia de Sebastião Salgado. Estrato de texto de autor desconhecido!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A POLÍTICA E OS POLÍTICOS



A ciência teorica divide-se em ciência do comando e ciência do julgamento; a ciência do comando abrange o comando directo e indirecto; a ciência do comando directo incluiu a arte de criar ou educar os seres animados e, dentro desta, a arte de criar e educar os rebanhos. A política é, pois, "uma ciência ou uma arte que consiste em criar ou educar rebanhos"...
Mas estes, por sua vez, dividem-se em rebanhos de animais cornudos e não cornudos, depois em rebanhos de animais bípedes e quadrípedes, enfim em rebanhos de bípedes nus e emplumados. A política, em conclusão,será a "ciência ou a arte de conduzir os rebanhos de bípedes não cornudos e sem plumas - isto é, os homens"!
Platão - A política e os políticos.
Fonte: História das ideias politicas; Diogo Freitas do Amaral; vol I, Almedina, Coimbra, 1998.
Imagem: Gauguin

Ta Sumara Tempo

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Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

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