sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

SEM COMENTÁRIO!

Um Post Retardado!

Agora que passaram de novo aqueles dias de angustia em que só se ouvia falar da onda de “kasubody” que voltou a aumentar na capital e preparamo-nos para encarar o novo ano com outras expectativas, não será nunca demais repensar a nossa atitude perante a crise de segurança, cada vez mais presente entre nós. Nada mais normal nesta época, dirão alguns, porque todos nós, temos direito a peru, bacalhau, árvore de natal e presentes. Por isso, cada um á sua maneira, tratou de se preparar para a celebração da festa da família que todos os anos se celebra pela data de nascimento de Jesus Cristo. O pior é que a onda de solidariedade que se gera nas almas das gentes por estas alturas já tomou tal proporção que o próprio subchefe da polícia da esquadra do Palmarejo, após ter sido vítima de um competente “kasubody” com direito a coronhadas e outras coisitas mais, disse que teria sido vítima de um “kasubody” normal, como todos os outros.

Pois é, esta nova vaga de “kasubody”, do jeito que vem sido encarada, está a entrar na normalidade da vida dos praienses, a ponto de todos nós, inclusive os responsáveis pela manutenção da ordem pública e pela justiça que vivem nesta cidade, encararem este fenómeno de violência urbana, como algo normal. A coisa já chegou a tal ponto que um grupo de cidadãos indignados com o número de casos relatados nesses dias que antecedem o Natal, resolveram organizar uma manifestação para ver se faziam a população desta cidade acordar para a realidade do que se passa por aqui. Mas como estava toda gente preocupada com as compras de Natal, só apareceram cerca de trinta cidadãos para a referida manifestação.

O que muita gente ainda não conseguiu perceber, é que apesar de todos os eufemismos que se tem usado para explicar esta situação com que temos vindo a conviver, nunca nos sentiremos realmente livres para viver as nossas vidas dentro dos parâmetros normais de liberdade, se não nos sentirmos seguros no espaço onde vivemos. E que não se iludam os que pensam que o poder económico os poderá ajudar a comprar essa liberdade. Viver em condomínios fechados e rodeados de seguranças é um dos principais sintomas dos que vivem preocupados com a sua segurança pessoal. O problema é que esses que podem dar-se ao luxo de viver assim, vivendo a liberdade à sua maneira, são muito menos dos que nos vêm fustigando, nos becos, esquinas, ruas, avenidas, e à porta dos super mercados e das nossas casas. É bom por isso que para além da presença da polícia nas ruas que agora se verifica, comecemos a pensar na forma de reequilibrar este clima de instabilidade social que se vem afirmando entre nós. Porque senão, um destes dias ainda acordamos e damo-nos conta que eles, os menos favorecidos, tornaram-se tantos que ocuparam todos os espaços que fomos deixando livres, porque aos poucos fomo-nos refugiando nos nossos casulos, uns mais dourados do que outros.

O que é normal na verdade, não é sujeitarmo-nos aos “kasubody”! e a todo o tipo de agressões que a cidade nos vem proporcionando no nosso dia-a-dia. O que é normal, é que esta busca pelo equilíbrio social seja programada pelos nossos políticos. Situação e oposição. E por nós cidadãos que devíamos exigir com veemência e intransigência que essas medidas sejam tomadas, porque é para isso que os elegemos e pagamos os impostos que nos saem na pele.

Se prestarmos um bocadinho mais de atenção, notaremos que esta situação é recorrente e que está a tornar-se cíclica, agravando-se a cada nova etapa. Só se começa a tomar medidas para controlar a situação quando começa a tornar-se num clima insuportável e começam a aparecer algumas reivindicações, voltando tudo ao normal quando a situação parece estar controlada. Mas em resposta a esse relaxamento vem uma nova onda de maior violência.

Colocar polícias na rua é importante para devolver-nos os espaços que nos vem sido roubados. Mas não é o suficiente para dar-nos a tranquilidade que almejamos.

O desenvolvimento económico que se procura atingir em Cabo Verde tem que reflectir na melhoria da situação económica e social das populações destas ilhas. Principalmente na vida dos menos afortunados. Não se pode viver em constante sacrifício, porque o país precisa de ser economicamente sustentável e ver o fosso que existe entre alguns ricos e os muitos pobres que existem neste país, ir-se alargando, sem que se faça algo para evitar o pesadelo da instabilidade social. Há que fazer uma gestão de forma que a melhoria de condições de vida possa ser para todos, dentro das proporções que cada um possa absorver, em termos de oportunidades de investimento pessoal. Não poderá ser só, alguns a aproveitar do desenvolvimento económico que o país atravessa e os outros a suportar sem condições mínimas de dignidade humana esse desenvolvimento. Há que trabalhar mentalidades, mostrando que as politicas de desenvolvimento do país, privilegiam quem trabalha e procura de forma séria uma condição de vida melhor. Porque senão, continuará a alastrar-se essa ideia que todos os meios são bons para gerar riqueza, porque depois, terão o caminho aberto para ir acumulando cada vez mais riqueza, à custa da vida miserável dos outros.

Como agora irá começar um novo ano e pretende-se sempre uma vida nova, espero que todos nós sejamos um pouco mais realistas com a situação em que vivemos e façamos algo para mudar para melhor.

Baluka Brazão

Ta Sumara Tempo

A minha foto
Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

Arquivo do blogue