quinta-feira, 29 de abril de 2010

SUBSÍDIO DO ESTADO



Cabo Verde, tem pautado a sua gestão administrativa, pela concessão de determinadas regalias aos quadros que ocupam lugares de gestão pública, que passam pela atribuição de uma viatura, normalmente um 4X4, topo de gama, que acaba por ser utilizado como se fosse propriedade do detentor do cargo, usufruindo este e toda a sua família de todo o conforto e utilidade da mesma, onde por vezes, se inclui, os serviços do condutor, sem ter que gastar um tostão para isso. Ou seja, é o Estado, na maior parte das situações, quem paga essas despesas! Porém, fica difícil de entender que tendo o Estado a capacidade de alimentar esses pequenos luxos, como é que depois consegue justificar a falta da mesma capacidade, por exemplo, para ter viaturas suficientes para a polícia fazer as suas rondas e desempenhar cabalmente as suas funções de garante da ordem pública, quando distribui várias viaturas a determinados quadros que ocupam lugares de comando nessa instituição e que ficam estacionados à porta dos respectivos serviços durante o dia em jeito de ostentação de riqueza? Ou então, como é que não tendo dinheiro para comprar ambulâncias e dar formação a técnicos que possam com alguma segurança transportar todo o tipo de acidentados, que muitas vezes chegam aos hospitais mortos ou em estado de incapacidade que se irá prolongar para o resto das suas vidas, devido ao agravamento das lesões provocados pela manipulação e transporte inadequado e, no entanto, têm dinheiro para sustentar as regalias desses gestores da administração pública? E ainda, a título de exemplo, convém perguntar, como é que a câmara municipal da Praia não consegue ter um corpo de bombeiros que esteja à altura do que são as exigências desta cidade, mas no entanto, tem dinheiro para comprar várias viaturas 4X4, de alta cilindrada, para “usufruto” do presidente e de alguns vereadores dessa mesma câmara?
No caso da câmara da Praia, que mais não é um exemplo seguido por outras câmaras municipais em todo o país, fica ainda mais uma pergunta: será que o seu presidente e os tais vereadores presumem ter esse direito por terem sido eleitos pela população local?
No caso das outras entidades, pergunta-se: será essa a única forma do Estado conseguir ter gestores competentes nesses lugares, ou não será esta, apenas, uma forma que leva a que grande parte dos menos capazes concorram para esses cargos por ser essa a única via de alcançar um determinado status e bem-estar social?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

KRIOL JAZZ FESTIVAL 2010


“Agora vamos abrir as cancelas para que o público, principalmente o mais jovem, possa estar mais próximo do palco”... foi com uma frase do tipo que Abraão Vicente, o apresentador de serviço, anunciou o grupo ao qual cabia fazer o encerramento de mais um festival de jazz Kriol na Pracinha di Skola Grandi, na Praia. Era preciso dar público ao espectáculo para que não terminasse quase sem ninguém á frente do palco e o pessoal que realmente iria curtir o som dos Tumi & The Volume, completamente relegado para o segundo plano do festival, as margens laterais, onde mal se ouvia o som que deve ser de qualidade num festival de Jazz, pois que se trata de música para ser apreciada mais do que dançada, pôde assim, finalmente, fazer parte do espectáculo. Aliás, este detalhe parece-me ter sido a grande falha da 2ª edição deste festival que visou pura e simplesmente compensar as perdas, em termos de receita, da edição anterior. E foi uma grande falha porque quem comprou bilhetes de 500 escudos para assistir apenas um dia de espectáculo, ou 800 por dois dias, foi literalmente enganado, porque mal informado pelos organizadores do evento.
A parte comercial falou mais alto, mais uma vez esqueceram-se que o público faz parte do espectáculo. No primeiro dia, mais de metade das cadeiras reservadas para o público que tinha o privilégio de assistir ao espectáculo de camarim, com bom som e plano visual, ficaram vazias. No segundo dia a situação era bastante melhor, mas mesmo assim, penso que poderia ter sido feito uma melhor configuração do espaço, de forma a trazer aqueles que ficaram de fora, para dentro do espectáculo, sem ter que abrir as cancelas que circundavam o festival.
Tumi & the volume fechou o festival com uma fusão de rap, funk, rock e alguns ritmos que até podemos chamar de jazz. No entanto, quem foi ouvir jazz, os que tiveram o privilégio de poder sentar-se em frente ao palco, por convite ou pagando o bilhete de 1500 paus pelos dois dias, depois da fantástica actuação dos Manhattan Transfer, que conseguiram atingir o pique do espectáculo com o tema Birdland dos Weather Report, foi dando lugar aos mais novos, até então remetidos aos espaços laterais.
Não quero com isso dizer que não houve Jazz no festival, houve, e espero que nos próximos anos possa haver muito mais jazz. Este é um evento do qual a cidade se deve orgulhar e por isso não deve haver espaço a confusões que nos levem a pensar que nos venderam gato por lebre, porque quem fica a perder é o espectáculo que se quer de qualidade e, com isso, perde a cidade e perdemos nós os amantes do jazz e da boa música que foi possível ouvir nestas duas edições do Kriol Jazz Festival, made in Pracinha di Skola Grandi!

Fotografia: Pedro Moita

Ta Sumara Tempo

A minha foto
Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

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