sexta-feira, 5 de setembro de 2008

UM CICLO VICIOSO


O mês que agora finda dá-nos razões para acreditarmos numa Praia melhor a médio prazo. Para já, há que assinalar as várias actividades culturais, onde a música continua a ser uma das maiores dinamizadoras. Num só mês foram lançados na capital do país, dois discos que vêm acrescentar valor á nossa cultura e á evolução da nossa música, como música crioula e, portanto, fruto da mistura de várias influências, com especial acento no continente africano.
Seria bom que a nova equipa camarária começasse a pensar na elaboração de um programa de actividades de âmbito artístico e cultural a acontecer na cidade que teria a envolvência dos artistas e promotores de cultura a nível nacional. Acreditamos que é possível fazer da Praia uma cidade com uma programação cultural mensal, trimestral, semestral ou até mesmo anual, desde que haja vontade para se despoletar esse processo que deveria incidir sobre a zona do plateau. Aproveitemos pois todos esses workshops e residências artísticas e interculturais que têm vindo a acontecer por aqui. Se não sabem como fazê-lo, perguntem à Mizá que apesar de criticada por alguns pretensos intelectuais cá da praça, continua a dar lições de humildade, amor á arte e á cultura, organização e dinamismo, conseguindo integrar populações marginalizadas até pelos seus próprios autarcas, mostrando como é que com parcos recursos e muitas ideias, se pode desenvolver o turismo rural no interior das nossas ilhas. Convidem-na para organizar workshops sobre essa matéria e ponham á sua disposição os recursos possíveis, estou certo que ela fará maravilhas. Se não acreditam, dêem-se ao trabalho de dar um passeio até Porto Madeira e comprovem com os vossos próprios olhos, como é que se pode arranjar soluções para ajudar a travar o êxodo rural e desenvolver um turismo muito mais interessante e proveitoso nas nossas ilhas, e ainda, contribuir não só para o desenvolvimento artístico, mas também para o desenvolvimento económico do país. Bons comportamentos geram bons comportamentos. A educação deve centrar-se nos bons exemplos do que se faz por cá e no exterior. Basta querer vê-los e aplicá-los. O que está a acontecer em Porto Madeira é um verdadeiro exemplo paradigmático de como se pode e deve usar a experiência artística para resolver problemas económicos, através da dinamização da cultura.
Depois de ter assistido com grande prazer a abertura da livraria Nhô Eugénio, no piso térreo do prédio onde habito, verifiquei que nas vésperas da inauguração desse espaço, onde se vendem sonhos em forma de livros, a frutaria que também é um investimento de cidadãos estrangeiros, a residir na capital - por coincidência ambos portugueses -, tratou de dar uma lavagem ao visual para não destoar da beleza que emana da vizinha livraria. Aqui está mais um bom exemplo em como bons comportamentos geram bons comportamentos! Pois porque nem só do pão vive o homem… E por isso, começo a pensar na responsabilidade que a nossa edilidade camarária tem na hora de passar licenças para a abertura de estabelecimentos comerciais na nossa cidade. Para além das questões sanitárias e de segurança que por vezes nem a própria câmara cumpre, ficam a faltar as exigências de ordem estética… a que se devia dar a mesma atenção, pois porque esse será um factor que irá desempenhar um papel importante na valorização ou desvalorização do lugar onde esse espaço comercial estará inserido.
Pensemos pois em cultivar bons comportamentos e acabaremos por gerar bons exemplos por toda a cidade, que irão gerar bons comportamentos. Um ciclo que se pode tornar vicioso com bons resultados para a cidade, a ilha e o país.

Foto: Baluka Brazão

ONTEM FUI AO TEATRO!

Ontem fui ao teatro! Depois das peripécias para conseguir bilhetes, graças às minhas amizades, lá consegui o tão desejado ingresso para poder assistir à peça escrita por Mário Lúcio (que muito boas surpresas nos tem oferecido) e encenada por João Paulo Brito. Na Verdade, seguindo o raciocínio do César, e pelo que conheço do trabalho do João Paulo, parece inconcebível que alguém com a sua formação, visão e capacidades, não seja minimamente aproveitado pelo nosso Ministério da Cultura para formar gente nesse sector, e tenha que estar a trabalhar em outras áreas.

Depois do stress de ter que andar atrás dos bilhetes que se esgotaram, da espera para entrar no pequeno auditório - que por incrível que pareça é o melhor que existe na capital para este tipo de espectáculo -, da espera para que começasse a representação e, as desculpas da praxe… enfim, o som, as luzes, a cena, a silhueta, os movimentos, o homem, a mulher, o frigorífico! O que passa pela cabeça de um homem e uma mulher no dia do aniversário de 25 anos de vida conjugal?

Dois actores de primeira classe, proporcionam um diálogo filosófico, por vezes risível, que se transforma em monólogos, e falam-nos dos sentimentos que se desenvolvem ao longo de 25 anos de matrimónio e de convivência intima entre um homem e uma mulher… O que começou com um frigorífico, termina com flores… o que mais poderia um homem oferecer à sua companheira no dia em que completam 25 anos de casamento, senão flores?

Palmas para os actores Raquel Monteiro e Valdir Brito pelo fantástico trabalho em palco. E palmas para todos os que se empenharam no propósito de nos proporcionar uma fantástica noite de teatro.

Senhor Ministro, tire parte do seu precioso e cultural tempo, e aproveite para ir ver o trabalho destes artistas que se esforçam para dar à cidade um teatro de qualidade.



Ta Sumara Tempo

A minha foto
Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

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