domingo, 2 de março de 2008

FAZI OJI SETI ANU!



Fazi oji seti anu ki Orlando Pantera morri! E, como amigu e grande apreciador di sê obra, m' ka pudia dêxaba passaba ês dia em brancu!
Por isso, m' desidi posta, em si homenaji, um texto ki m' scrêbi e ki tinha sido publikadu na A Semana on line, na dia 28/05/06 (atribuido erradamenti a Baluka Brandão).

GERAÇÃO PANTERA


Há dias, numa das minhas divagações sobre o estado da cultura na nossa querida ilha de Santiago, escrevi um artigo neste jornal (A Semana), intitulado “Dêem-nos Música”, no qual me referi ao Pub Cruzêru e à antiga gestão do Quintal da Música, como exemplos na promoção de jovens talentos da nossa ilha. A minha intenção, era mostrar a necessidade de haver em Cabo Verde, palcos onde os jovens talentos se possam mostrar e interagir com outros músicos experientes, para poderem ter alguma projecção. Uma vez que, não exitem quaisquer escolas - a não ser o Pentagrama, a quem temos que reconhecer o esforço que tem feito para continuar a formar músicos cá na Praia – e as instituições estatais que poderiam ajudar nesse capitulo, funcionam muito aquém das suas possibilidades e obrigações. Não me posso pronunciar sobre as outras ilhas, mas julgo que, o panorama é identico ou pior do que se vive em Santiago.

Nesse meu discurso e pela reacção que pude observar na media local, pareceu-me ter sido injusto com a actual gestora do restaurante Quintal da Música. Devo dizer que não foi minha intenção criticar o que de bom se tem feito, mas sim, realçar o bom trabalho que se conseguiu fazer na altura, numa cooperação entre o Quintal da Música e o Pub Cruzêro. O ponto mais alto dessa cooperação foi o Festiquintal de Jazz, onde tivemos a oportunidade de apreciar bons concertos de músicos de renome internacional e nacional, bem como usufruir do convívio com esses mesmos artistas.

De facto, o que é importante realçar, é que esta nova geração de músicos de Santiago – a maior parte residente na Praia – aos quais se apelidou de Geração Pantera, e de quem nos podemos orgulhar, chegaram onde chegaram por terem usufruido de uma dinâmica pró-música existente na altura da sua projecção (deles músicos) na nossa urbe. É claro que, talento é fundamental! Mas sem as oportunidades de se mostrar e poder conviver entre eles e com outros músicos de valor reconhecido, dificilmente chegariam onde hoje estão.

É exemplo disso: o Tcheka. Músico que se tornou num amigo e com quem tive o prazer de compartilhar os primeiros passos como Músico profissional.

Falar da Geração Pantera ou Geração Ayan, implica falar obrigatoriamente de Orlando Pantera. Sem dúvidas, uma das maiores referencias da música de Santiago, juntamente com Carlos Martins (Catchás).

Pantera, como era conhecido pelos amigos e no mundo do espectáculo, foi um dos exemplos de como a formação e a interacção no campo artístico e musical, se torna num factor importante para o desenvolvimento das capacidades do artista. Quando o conheci, Pantera já era um reconhecido compositor e músico. Na altura, tinha frequentado aulas de jazz com o Ney Bettencourt e tocava no quarteto formado por, Ney Bettencourt (Guitarra), Pantera (Baixo), Raul Ribeiro (Bateria), e Casimiro (Trombone). Pantera era um baixista virtuoso, mas estava ainda longe de ser o músico e artista em que se viria a tornar.

Terá sido por essa altura que Pantera começou a sua investigação sobre a música do interior de Santiago, usufruindo da oportunidade de estar a viver nesse tempo, em Santa Catarina. Daí, Orlando Pantera partiu para uma temporada em Portugal, inserido no projecto de teatro de Carla Andermatt, juntamente com outros artistas cabo-verdianos, entre eles: Voginha, Malaquias e Nhelas.

Para mim, essa foi a fase mais importante para a curta carreira de Orlando Pantera. Curta, porque apesar do legado que nos foi deixado por este músico de eleição, acredito que muito mais ficou por conhecer e apreciar, pois que apesar da sua já vasta obra, Pantera preparava-se para gravar o seu primeiro trabalho a solo, acompanhado pelo grupo ARKORA, do qual também fazia parte.

Como dizia... para mim, a experiência adquirida por Pantera na sua estadia em Portugal, revelou-se de extrema importância para a viragem que se viria a dar na sua carreira artística. Aí, ele aprendeu a cantar e projectar a sua voz, bem como a expressão corporal em palco. Isso, viria a fazer de Pantera um cantor imbatível actuando ao vivo. Para além de passar a cantar as suas composições – coisa que antes não fazia - Orlando Pantera, conseguia transfigurar-se em cada um dos personagens que cantava nos seus temas.

Em 1998 – se a memória não me trai – Pantera vem até Cabo Verde em digressão com o grupo de Clara Andermatt para a apresentação da peça “ A História da Dúvida “, na Praia e no Mindelo. Nessa oportunidade, Pantera fez algumas demonstrações dessa sua nova faceta artística no Tex onde surpreendeu a todos quantos tiveram o privilégio de assistir a essas actuações ao vivo, acompanhado tão só, pelo seu violão e pelo Nhelas tocando percursão. O fenómeno não passou despercebido... nem podia!

O Centro Cultural Francês - instituição atenta na promoção de talentos em Cabo verde - convida Pantera para um concerto no seu Espaço Cultural no Platô e outro no Centro Cultural do Mindelo. Para esse efeito, Pantera reúne-se com os músicos: Ângelo, Raul, e Kisó, colegas e amigos que já tinham um projecto comum e formam o Grupo ARKORA. Ficou ainda combinado, um terceiro espectáculo, a realizar-se na Praia, após o regresso do grupo de Mindelo. Esse show, realizou-se no então Clube Náutico da Praia e Deus sabe as dificuldades que tivemos para conseguir um patrocinador para esse evento. Foi um concerto memorável para os que se deram ao trabalho de se deslocar ao Clube Náutico nessa noite. Pantera, cantou, dançou, brincou e encantou, pela forma como interpretou o repertório baseado no Batuko, Finaçon e Tabanka. Confirmava-se o nascimento de um novo Pantera.

As saudades da família que deixara em Cabo Verde e este sucesso inesperado, levou a que Pantera decidisse a abandonar o projecto de teatro, no qual já participava, acerca de três anos e, regressar à terra mãe, para começar a trabalhar no seu próprio projecto. Iria assim dar continuidade ao que escolheu fazer para o resto da sua vida.

Envolveu-se em espectáculos, workshops e ensaios, visando não só transmitir os conhecimentos que adquirira, mas acima de tudo, preparar-se para a gravação do primeiro álbum a solo, acompanhado pelo seu grupo. A esta nova geração de talentosos artistas que tinham apostado na música tradicional de Santiago, Pantera trouxe a mensagem, “BATUKO STA NA MODA”. Para eles, foi como uma afirmação das suas convicções e os resultados estão aí para todos os que se interessam pela música de Cabo Verde: Tcheka , o caso de maior sucesso neste grupo – cantor, músico e compositor extremamente engenhoso - já conta com dois discos gravados e que para além de ter ganho o prémio RFI, tem sido alvo de óptimas referências da critica internacional, bem como uma agenda bem recheada de concertos; Vadú, prepara-se para gravar o seu segundo disco e tem conseguido viver do seu talento; Mayra, conseguiu um contrato com a Sony Music e prepara-se para gravar o seu primeiro trabalho a solo, para além de ter sempre uma agenda de espectáculos bem preenchida, tanto quanto consta; Gamal e o grupo Obá, preparam-se para gravar o seu segundo disco e presumo que também eles irão incluir neste álbum, algum tema de Pantera; Os Djingo, continuam na sua tranquila caminhada, aperfeiçoando aos poucos o seu estilo musical, com raízes na música de Catchás. Espero que quando chegar o momento certo tenham os apoios necessários para conseguir gravar um disco. Talento não lhes falta!

Princesito, um dos maiores talentos deste grupo e que em conversa de amigos já foi referenciado como o sucessor de Pantera, parece caminhar cada vez mais no sentido da sua confirmação. Falta-lhe uma banda suporte à altura. Pela sua participação em alguns discos emprestados em que tem participado, conseguiu fazer-nos crescer água na boca. Aguardamos ansiosamente pelo seu primeiro trabalho a solo.

Neste grupo, podemos ainda incluir o grupo de dança contemporânea Raiz di Polon, com o qual Pantera chegou a trabalhar após o seu regresso de Portugal. Pelo sucesso que já tinham alcançado, fazendo dança contemporânea assente nos ritmos do Santiago profundo e por terem sempre acreditado no seu talento inquestionável, são obrigatoriamente uma referencia neste movimento que se gerou á volta deste Senhor da música de Cabo Verde. Até mesmo Lura que não chegou a conhecer Pantera, acabou por usufruir desta aura que se gerou no seio deste movimento, em prol desta nova génese da música crioula.

Pantera morreu a 2 de Março de 2001 em circunstâncias trágicas – no dia em que devia embarcar para Lisboa onde iria gravar o seu primeiro disco – deixando-nos suspensos na dor de ter perdido muito mais do que um grande amigo. A sensação, foi também, a de perder um artista singular que, vinha mudar por completo a perspectiva que se tinha da música tradicional de Santiago e da música cabo-verdiana, abrindo grandes oportunidades a toda esta geração chamada de “Geração Pantera”.

Hoje, Pantera é a ponte que nos liga às nossas raízes! Para trás ficou o sonho de uma vida dedicada à música e à cultura; Mas, ficou também, a obra, a humildade de um Espírito iluminado, e a frustração de não se ter feito o suficiente para manter viva esta chama que se acendeu na cultura cabo-verdiana.

Texto: Baluka Brazão


VAZIO DE IDEIAS

O tapete betuminoso começa a estender-se pelas principais artérias da cidade, e para alguns, a situação torna-se negra, da cor do alcatrão que agora cobre as pedras da calceta de algumas ruas do Platô. Logo, ouvem-se ecos sobre o oportunismo de Filú, que em final de mais um mandato, trata de prepara-se para mais um, à boleia do governo. A vida de político é assim em Cabo Verde. É preciso ter faro para saber aproveitar as oportunidades a seu tempo. Com isso, o Platô começa a ganhar ruas alcatroadas e passeios desnivelados – dizem os mais cépticos. Na verdade, para quem transita de automóvel pelas ruas já alcatroadas, sente uma enorme diferença, principalmente porque, ao longo dos anos, a manutenção dessas vias, era a mais básica possível; do tipo tapar o buraco, depois de tanto nele se espancar e tanto se reclamar. Mesmo assim, alguns buracos foram-se tornado crónicos e verdadeiras ratoeiras para os condutores menos atentos.

É claro que esta obra devia ter sido melhor preparada, para se poder fazer a correcção do terreno, principalmente lá onde os passeios foram perdendo altura e passaram a estar nivelados quase que ao nível do pavimento onde circulam os veículos motorizados. Esse problema não surge agora com o alcatroamento das ruas em questão, como alguns pretendem fazer-nos crer. Mas é verdade também, que isso não o torna menos pertinente. A verdade é que, não há tempo para isso; o Platô já esperou demais, e há que alcatroar as ruas rapidamente, antes que passe mais esta oportunidade que cai como mel na sopa do Filú.

A principal via de ligação entre a Praia e a Terra Branca, foi bloqueada ao trânsito, para as tais obras de beneficiação, que aí, é mais do que justificada. À hora de ponta, as filas tornam-se extensas na zona de Chã de Areia, principalmente porque, em frente ao Hotel Marisol, numa via com duas faixas de rodagem muito mal calcetadas, uma das faixas, está geralmente ocupada com alguns carros que devem pertencer a gente muito importante. Porque não se entende que, como é que estando o trânsito para importantes bairros populacionais da capital, como sendo os bairros da Achada Santo António, do Palmarejo, e da Terra Branca, confinado a essa única passagem, não se tenham tomado medidas, no sentido de proibir o estacionamento nessa zona, minimizando assim, o problema causado pelo encerramento da rampa da terra Branca. São nestes pormenores de fácil resolução, que a nossa câmara vai falhando, fazendo-nos a vida negra, sem necessidade. Aliás, esta obra de alcatroamento dos principais acessos á zona alta da cidade e das vias principais de circulação automóvel do Platô, mesmo trazendo algum conforto (e economia) a quem desloca-se regularmente de automóvel pela cidade, parece obra daquelas empregadas domésticas que passaram o dia a comentar a novela com a empregada da vizinha do lado e que quando deram pelo aproximar da hora da chegada da patroa, atiraram com o lixo todo para debaixo do tapete. Mas este é o país em que vivemos e estes são os gestores municipais que temos! Aliás, Há coisas que parecem só acontecer, nesta cidade, como por exemplo: Colocar cartazes publicitários (out-doors), em plena praça Alexandre Albuquerque! Aonde mais é que se consegue ver coisa parecida?

Há no entanto uma sensação de se querer fazer mais e melhor, ainda que a ocasião não seja a mais propícia, porque facilmente se confunde com obras feitas à pressa, porque vêm aí as eleições autárquicas. Estranho é a sensação de desespero em que parecem ter caído os militantes do MPD, com estas obras de melhoramento de algumas ruas e avenidas da cidade. Certamente que não serão estas obras que farão de Filú vitorioso nas próximas eleições autárquicas. Há toda uma avaliação do que se fez em prol da cidade neste ultimo mandato, que irá pesar na avaliação positiva ou negativa deste candidato a um novo mandato. Assim como, haverá também, por parte dos eleitores, uma apreciação do discurso e das propostas do candidato apoiado pelo MPD, nesta disputa pela câmara da Praia.

Portanto, a meu ver, o MPD, devia estar preocupado em ter argumentos convincentes, de que pode ser uma alternativa para uma melhor gestão da capital, em vez de estar a tentar convencer os praienses, que estas obras irão de alguma forma, prejudicar a cidade e os seus habitantes. Não me parece que seja por essa via que se irá conseguir alguma vantagem nestas eleições. Seria importante, no entanto, a discussão sobre a melhor forma de se conseguir melhorar a pavimentação do Platô, podendo preservar a configuração estética deste centro histórico da cidade. Mas depois do assalto que se vem verificando pelos chineses a grande parte das casas dessa zona da cidade, colocando grades e portões de ferro – como bem entendem -, nas fachadas principais dessas habitações, parece-me que essa questão deixou de ter o valor que se lhe devia dar, pesando tão simplesmente, a questão financeira.

Por outro lado, parece-me de todo reprovável, pretender-se aproveitar da intervenção infeliz do deputado António Pascoal na Assembleia Nacional, para através do incitamento ao racismo nos média, se pretender convencer à população da Praia e dos municípios da Ilha de Santiago, a votar neste ou naquele partido. Ganhar nessas condições, seria pôr muita coisa a perder para todo o Cabo Verde.

Essas reacções sobre questões de ordem racial, têm vindo a ganhar alguma dimensão e aproveitamento político no nosso país, quando devia ser combatido por todos, e principalmente, por todas as forças políticas com assento no nosso parlamento. Porque apesar de sermos todos diferentes de ilha para ilha (ainda que sendo uns mais iguais que outros), somos todos iguais na nossa génese. Somos todos cabo-verdianos, e o facto de sermos todos de raça mista – ainda que alguns tenham a pele mais clara do que outros – tem que ser visto com factor de aglutinação e não de marginalização. O mundo global em que vivemos é cada vez mais mestiço! Só gente mal formada e complexada, é que continua a pensar que, em pleno século XXI, a cor da pele pode continuar a ser factor de descriminação social.

Em cabo Verde, felizmente, nunca se exerceu esse tipo de poder. Portanto, é de todo inusitado que passados mais de trinta anos da independência nacional, se esteja agora, a querer dividir os cabo-verdianos segundo a pigmentação da pele e da situação geográfica das ilhas.

O ser humano deve ser avaliado pelas suas ideias! E é isso que falta na nossa sociedade: a discussão de ideias sobre o que é melhor para o desenvolvimento dos nossos municípios, das nossas ilhas e do nosso país. Qual o desenvolvimento que queremos para nós e para as gerações vindouras, e de que forma esse desenvolvimento poderá trazer melhorias na vida das populações, principalmente as mais carenciadas.

Um passo importante para que isso aconteça, será o recenseamento de todos quantos já atingiram a idade de exercer o seu poder de voto. “A mi djam resensia”! “E bó, dja bu resensia”?


Texto e foto: Baluka Brazão

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Jasmine Keith Jarret

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