quarta-feira, 23 de julho de 2008

A NOSSA CRÍTICA

Nos últimos tempos temos assistido a um certo dinamismo artístico e cultural na capital do país que tem sido acompanhado por alguns comentários críticos. Tudo isso tem sido positivo porque tem trazido a público, alguns trabalhos interessantes e por outro lado, estimulado a exploração de novos campos no mundo das artes contemporâneas, que se tem pretendido fazer por aqui. Neste processo todo, a critica joga um papel muito importante porque pode ajudar a corrigir, o que de menos bom se tem feito, resultando daí trabalhos com cada vez mais qualidade. É claro que fazer uma exposição, não passa só por juntar algumas peças de alguma beleza artística e apresentá-las ao público. Tem que haver um discurso que acompanhe essa exposição, um contexto, um conceito que norteie e dê conteúdo ao material exposto. E é sobre isso que deve incidir a critica, sobre as questões técnicas, e não sobre gostos e preferências pessoais, como por vezes parece ser o caso. É preciso que tenhamos uma crítica equilibrada e isenta para que possa ser levada a sério e desempenhe o papel que se espera dela e não seja vista como mero jogo de defesa de interesses de grupo ou despeito.

Imagem de Paul Gauguin: Mimi and her cat

sábado, 19 de julho de 2008

SPIGA

Nhôs bai tudu so faxi, cumpra novo CD di Princesito! Tem um SPIGA pa kada kenha ki krê alimenta si alma ku simenti di palavra, ki ta fala di vida, di homi, dês mundo undi ki ta usadu poesia, pa fala di dor ku ligria.

Há daqueles dias em que nos insuflam o ego de tal forma que nos sentimos privilegiados! Há daquelas noites que os sons que ouvimos vão de encontro ao nosso pensar. Não só os sons da música mas, essencialmente, o som das palavras. Mas hoje eu vou falar apenas da música do primeiro disco que me foi oferecido nessa noite e deixar para depois, o segundo disco, porque cada um, por si só, enche-nos a alma.

SPIGA foi-me oferecido por Princezito e, foi como quando estamos famintos e um amigo nos oferece um prato de comida! O gesto desse nosso amigo conforta-nos; Mas quando tiramos a primeira garfada e começamos a apreciar o alimento que nos foi oferecido, então percebemos a verdadeira grandeza desse gesto.

SPIGA simboliza a nossa cultura alimentar e todos os processos que acompanham a confecção dos pratos á base do milho, que não pode faltar, nos momentos de festa. Este disco do Princezito simboliza um longo processo de pesquisa musical e rítmica do batuko e do finason que é-nos aqui apresentado num formato de expressão contemporânea. A mistura dos ritmos do Batuku e do finason, com o pop e os sons afro-cubanos, é perfeita; tão perfeita como a mistura do milho com os vários tipos de feijão, e os legumes que compõem um prato de cachupa. É como acordar pela manhã com o ritmo do pilon que prepara a farinha para o cuzcuz.

Nhôs bai tudo só faxi… obi novo CD di Princezito!


Foto: Baluka Brazão

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O LIXO DA CIDADE



Logo pela manhã, cedo, mal o sol desperta, a cidade enche-se de cores, cheiros e sabores. Cheiro das gentes, no seu frenesim, na eterna busca do pão-nosso para cada dia. A cidade torna-se num grande mercado municipal onde os limites são as ruas e as gentes que enchem os passeios de alguidares coloridos de onde transbordam frutas, legumes, rebuçados, cuecas de todas as cores… “freguês, freguês, bem nu nagosia”. O sol vai-se levantando até pôr-se a pique, soltando as suas labaredas sobre a cidade. Os odores das gentes tornam-se intensos e misturam-se com o cheiro fétido das águas jogadas pela calçada, restos de gente, soltos ao fim de cada dia de labuta que se repete todos os dias. “Mangui é cinquenta escudo cada; doxi, ê madura na mãe”… “Nhu ka krê limon”?

Um pouco mais acima o negócio é outro, puro contrabando… de tabaco clandestino vindo do Senegal ou de outras paragens do continente. A moeda, essa vem da Europa e alguma dos EUA; é a Banca informal, mesmo em frente do nariz de toda gente, até mesmo da polícia que não está ali para se aborrecer com essas coisas… change, change, bu ka kre troka dinhêru?

O que começou com a ocupação dos passeios limítrofes do mercado do Platô, estendeu-se por quase toda a rua 5 de Julho e ameaça tomar de assalto também a avenida Amílcar Cabral, sem que ninguém tome medidas de fundo, para se pôr termo a esta expansão desenfreada do mercado, pelas ruas do Platô.

Vivemos num mundo onde cada vez se vão abrindo melhores oportunidades para quem tem uma melhor situação económica e financeira, tornando mais negra a vida dos que precisam apenas de uma pequena oportunidade para irem sobrevivendo. As ruas da cidade provam isso mesmo, e politicamente, seria incorrecto, neste momento de crise, impor as regras municipais, sem antes se criar uma alternativa a essas gentes que ganham o pão de cada dia de forma mais ou menos engenhosa. Mas é preciso também respeitar os que fizeram os seus investimentos e pagam impostos, cumprindo as regras estabelecidas por esta sociedade. A falta de capacidade dos representantes municipais e do governo para resolver os problemas que afectam a nossa sociedade não pode ser eternamente, justificativo para o desrespeito das leis.

Nas civilizações mais avançadas do que a nossa, as sociedades são geridas através das normas criadas por essas mesmas sociedades, fazendo com que haja um equilíbrio baseado no respeito pelo próximo. Quem não cumpre as regras, sofre penas adequadas ao peso da prevaricação cometida, até que acabe por entender e respeitar essas regras, ou auto-marginalizar-se. Aqui tem prevalecido a lei do mais forte. Ninguém respeita ninguém e como ninguém controla ninguém, a falta de moral impera sobre a moral e os bons costumes!

É preciso arrumar a cidade e não ter como preocupação única a limpeza do espaço físico. É preciso varrer o lixo que está dentro das pessoas que habitam a cidade e não se incomodam em conviver com gente a fazer as suas necessidades fisiológicas em plena via pública, sem o mínimo de pudor e respeito pelos outros. E isso, passa por se fazer cumprir as leis, doa a quem doer!

Foto: Baluka Brazão

domingo, 6 de julho de 2008

DESCASO


A cidade recebeu as primeiras chuvas e as aguas que caíram dos céus, puseram a nu os problemas da deficiente infra-estruturação, a nível do que se tem feito em termos de obras municipais. As ruas e avenidas encheram-se de água como se de ribeiras se tratassem. O pormenor que se chama condutas de escoamento de águas pluviais, ficou a faltar ao longo de toda a obra de pavimentação do Platô e de grande parte da cidade, fazendo com que caídas as primeiras chuvas, se comece a entender que o efeito de erosão será muito maior, fazendo que a manutenção também seja mais cara. Mas o maior problema é a ameaça à saúde pública, devido à estagnação dessas mesmas águas, que ajudam a desenvolver e disseminar doenças como o paludismo. Esta falta de rigor dos políticos na execução de obras públicas pagas com o erário público, acaba por gerar gastos adicionais, fazendo com que se esteja a gastar o dinheiro que se podia estar a aplicar em novos investimentos, na correcção de erros cometidos na execução dessas mesmas obras. Mas o mais grave é o dinheiro que se gasta para se cuidar de maleitas provocadas por esse descaso que por vezes é pago com a própria vida do cidadão.

Baluka Brazão

Ta Sumara Tempo

A minha foto
Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

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