quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O PREÇO DA SOBERANIA



A questão dos impostos, que quase nos sufocam, tem sido muitas vezes utilizada como argumento contra as políticas de governação do PAICV, partido que se encontra no poder e que vai em 2011 concorrer para um terceiro mandato. A situação deixada pelo MPD e as suas políticas liberais era catastrófica, no dizer do partido que o veio suceder, e havia que equilibrar as contas públicas.
Como os recursos são escassos, mais uma vez foi pedido ao povo que apertasse o cinto e ajudasse o novo governo a ultrapassar essa situação. E assim foi, por amor à terra!
Não deixa de ser verdade que se fizeram enormes obras e o país deu um salto qualitativo em termos de infra-estruturas rodoviárias e aeroportuárias, principalmente.
Passamos a país de desenvolvimento médio, saímos da lista dos atrasados, agora somos um país que deve ser apontado como exemplo para os países africanos que ainda não entenderam que democracia rima com liberalismo porque muitos não conseguiram livrar-se da sua origem tribal e querem forçosamente misturar as leis do mercado livre com as leis da supremacia tribal.
Apesar de tudo, em alguns aspectos, continuamos nós também ligados aos nossos laços ancestrais de povo colonizado. Existe no nosso seio uma enorme tendência de querer exibir a importância social que cada um tem através da quantidade de património que se acumula – independentemente dos meios usados para atingir esse fim - ao invés da sabedoria e dos valores humanos que devem nortear uma sociedade que se pretende como exemplo para outros povos. Passou-se de povo que não tinha quase nada - nem mesmo Liberdade - em que o Homem já foi apontado como riqueza nacional, a povinho que tudo pode, pela força do dinheiro.
Por outro lado, a classe política ainda não conseguiu entender que a pobreza extrema é o primeiro passo para o alastrar da corrupção e que existem valores mais importantes que a acumulação de riqueza que devem ser cuidados para se poder manter a coesão e o equilíbrio comunitário.
Porém, nem tudo está assim tão mal: a judiciária tem feito um trabalho enorme no combate ao narcotráfico e começa a aparecer uma nova vaga de juristas com “Culhões”, - de entre os quais o Dr. Vital Moeda deve ser apontado como um exemplo paradigmático - a querer impor a independência dos tribunais aos que entendem que a disputa pelo poder político só tem sentido se associado a proveitos económicos consequentes. Aos que querem controlar a justiça para usufruir de benesses em seu favor e do grupo de interesses políticos e económicos a que pertencem. Aliás, uma das nossas maiores conquistas parlamentares, terá sido, a aprovação da lei que nos possibilita o combate à lavagem de capitais. Só assim se poderá dar continuidade a esta batalha pela preservação da soberania nacional, contra o poder económico dos barões da droga que se vinha alastrando pelo país.
Visto nessa perspectiva, parece-me muito mais sensato continuar a pagar impostos, ainda que exagerados, e saber que continuamos a ter um Estado soberano que vive de acordo com os valores defendidos pela sua constituição, onde a vida é tida como um bem essencial, fundamental, a ter que submeter às leis da máfia e do narcotráfico.

Ta Sumara Tempo

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Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

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