quarta-feira, 30 de abril de 2008

PRAIA E O NOSSO ORGULHO

Um dia destes, nestes dias de festas na cidade, estou eu tranquilo em casa a descansar, quando me entra pela casa a dentro, a voz do Filú, em comício de apresentação de candidatura para as eleições autárquicas, que se avizinham a passos largos. Não dei muita importância ao discurso de circunstância que me ia entrando pelas portas e janelas, ecoando por vezes mais clara e outras menos, conforme o vento ia soprando com mais ou menos força. Até que de repente, uma voz que depois vim a confirmar ser a de José Maria Neves, afirmou, mais coisa menos palavra: “Filú fez da cidade da Praia uma cidade da qual todos nós nos orgulhamos de viver nela”! Aí, eu que não estava a prestar atenção ao agregado de palavras que se iam soltando conforme as necessidades circunstanciais, assustei-me e pensei cá para mim: como poderá alguém orgulhar-se de viver numa cidade onde existem carências consideráveis em termos de fornecimento de água e energia eléctrica, onde a maior parte da população não tem ligação a um sistema de esgotos, onde a insegurança aumenta de dia para dia, onde a delinquência juvenil tornou-se quase incontrolável, etc, etc, etc… Não será tempo de se mudar o discurso demagogo feito com a única finalidade da se conseguir manter o poder a qualquer custo? Não será já tempo de se começar a pensar em estruturar a nossa cidade de forma que realmente nos possamos orgulhar dela, criando um plano director onde se inclua espaço para os que não têm dinheiro para estar a comprar os tão concorridos terrenos do Palmarejo possam ter terras para construir as suas casas de forma planificada em vez de se irem amontoando em bairros de construção clandestina, que depois servem para albergar toda a espécime de gente marginalizada que muitas vezes se socorre de todo género de criminalidade para ir sobrevivendo numa sociedade cada vez mais de mercado e menos preocupada com as questões sociais?

Eu gosto de viver na Praia por ser a cidade onde cresci e me fiz homem; onde tenho os meus amigos, onde sinto que posso contribuir de alguma forma para a tornar num sítio melhor para as gerações vindouras e muito dificilmente a trocaria por outra cidade. Mas tal como ela está, não tenho motivos para me sentir orgulhoso dela e por vezes chego até a sentir vergonha e sei que esse sentimento não é só meu! A coisa já chegou a tal ponto que não me parece que o próprio representante mor do PAICV acredite na afirmação que fez. E é nestas ocasiões, onde os políticos deviam trazer soluções para os problemas graves que enfrentamos que me sinto envergonhado, porque se limitam a atirar palavras ao vento, tentando convencer o povo de que tudo farão para melhorar a sua condição de vida, quando o que pretendem, é o voto para poderem manter as benesses do poder.

Fotografia e texto: Baluka Brazão

quinta-feira, 24 de abril de 2008

RAIZ DI POLON entre a Arte e a Loucura


Ha coisas na vida que sentimos que temos que fazer porque nos engrandecem a Alma. Por isso, quero convidar a todos, a estar presentes na abertura da minha exposiçâo : Raiz di Polon entre a Arte e a Loucura. A exposição terá lugar no Centro Cultural françês na Praia, pelas 18 horas e 30.
Ás 20 horas e dentro do âmbito da exposição que está integrada nas comemorações do dia internacional da Dança ( dia 27 de Abril), poderão ainda assistir a uma performance do grupo RAIZ DI POLON.

Raiz di Polon entre Arte e a loucura

Durante a segunda quinzena de Setembro de 2007, decidi juntar-me ao grupo de dança Raiz di Polon, com a finalidade de entender melhor e registar em imagens, o fantástico trabalho que este grupo vem efectuando, principalmente, a nível social. E, o melhor exemplo dessa entrega é a escola de dança que os bailarinos deste grupo mantêm nas suas instalações no Platô, na rua 5 de Julho. As inscrições são totalmente grátis e não são cobradas qualquer tipo de propinas para assistir às aulas. Basta ter vontade de aprender e alguma disciplina. Mas ali, aprende-se muito mais que a postura física que se impõe no processo de aprendizagem da dança. Mano Preto e os Raiz di Polon, ensinam às crianças e adolescentes que se dirigem ao seu centro de ensaios com a finalidade de aprender a dançar, ou tão só para ocupar os seus tempos livres, a ter uma visão e uma atitude que valoriza o ser humano na vida e perante a Arte, numa sociedade cada vez mais despida de valores nobres. Tudo isso, sem receber qualquer tipo de apoio financeiro, tanto das instituições do estado como do sector privado.

Esta exposição, tem a pretensão de ajudar a trazer a público imagens que falam deste projecto que os Raiz di Polon vêm desenvolvendo. Não como figuras de relevo internacional, porque sobejamente reconhecidos. Mas, através da fotografia, contar a história deste grupo de dançarinos que, são suficientemente loucos para pensar que, em Cabo Verde, a sociedade pode ser educada através da Arte!

Os quadros que agora partilho convosco, foram captados na escola de dança dos Raiz di Polon, bem como em participações de cariz social deste grupo, como as que pude assistir no hospital da Trindade e na celebração de mais um aniversário da Aldeia SOS da Assomada. São o resultado de parte do que pude absorver, do que me foi dado a conhecer de forma partilhada, pelo Mano Preto, pela Bety, pela Gorete, pelo Kaká, pelo Zeka, pelo Rosa, pelo Nuno, pelo Jeff, e por todos que fazem parte desta grande família que é o Raiz di Polon.

Baluka Brazão

sábado, 19 de abril de 2008

ARTE CONTEMPORÂNEA

No momento em que na cidade da Praia nota-se uma agitação anormal em termos de eventos de expressão cultural e artística, devido à celebração dos 150 anos da cidade, retoma-se o discurso sobre a definição da Arte contemporânea que se está a fazer em Cabo Verde.
Eu que passei recentemente pelo Museu de Fine Arts de Boston, aproveito para meter uma colherada e deixar um pequeno exemplo do que é considerado arte contemporânea em outras paragens.
A fotografia acima exposta, printada em prata sobre gelatina, é da americana Cindy Sherman, nascida em 1954 e que faz parte da coleção de arte contemporânea do MFA de Boston

terça-feira, 15 de abril de 2008

PLÁGIO DIVULGATIVO

O grupo de amigos da Fundação Amilcar Cabral vai, em homenagem ao crítico de arte e coleccionador francês Raoul Jean-Moulin, que doou mais de 4.000 livros de arte à Fundação, organizar uma série de debates à volta da temática da Arte.

A não perder!




Terça-feira, dia 15 de Abril
"A Educação do Olhar"
Tertúlia com os convidados: Abraão Vicente, Tchalé Figueira e Mário Lúcio. Debate à volta da percepção da arte na vida corrente, tanto por parte do público, como por parte dos criadores.

Quinta-feira, dia 17 de Abril
"O Modernismo
o que foi no mundo e em Cabo Verde"

Tertúlia

Sexta-feira, dia 18 de Abril
"O Pós-Modernismo ou Arte Contemporânea
- contexto Cabo Verde"

Palestra com Abraão Vicente. O que é Arte Contemporânea e como (não) manifesta em Cabo Verde.


Vamos ver, ouvir & comentar!

Horário: às 18:30 (no dia 15, às 19:30)
Local: Fundação Amílcar Cabral


Imagem: montagem de César Schofield, da série Praia.Mov


sexta-feira, 11 de abril de 2008

MAYRA AGAIN!





A cantora cabo-verdiana Mayra Andrade, 22 anos, é a vencedora do Prémio BBC Rádio 3 World Music, na categoria Artista Revelação do Ano.

A cantora cabo-verdiana estava nomeada pelo álbum Navega, ao lado do grupo israelo-americano Balkan Beat Box, do grupo maliano Bassekou Kouyate & Ngoni ba e do cantor e guitarrista Vieux Farka Toure, também do Mali. Mayra era, à partida, uma das favoritas pois, não obstante ser mais conhecida no mundo francófono e lusófono, desde do ano passado que vem ganhando espaço no meio musical anglófono.

A artista, que recebeu o prémio esta noite, quinta-feira, numa cerimónia em Londres, manifestou aos familiares em Cabo Verde a sua alegria e reconhecimento por este prémio. Antes do receber o troféu a jovem diva cabo-verdiana interpretou dois temas do seu disco e encontra-se neste momento (20h30 de Cabo Verde) a preparar-se para entrar em palco outra vez, num concerto que se segue ao anuncio dos prémios.

Fonte: A Semana

Foto: gentilmente cedida pela Dinastela Curado.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

UM POETA


Estar de férias dá-nos tempo para cuidar de nós, do nosso físico e da nossa alma. Esforço-me por fazê-lo no dia-a-dia como opção de vida e gosto que me respeitem por ser assim. Porque a nossa vida é nossa e ninguém a vive por nós!

Hoje apeteceu-me ler poesia e lembrei-me de um poeta que um amigo, desses que passam pelas nossas vidas e nos deixam algo que nos faz lembrar sempre deles, me apresentou, numa das noites de poesia no Kasa Bela.

Sebastião Alba é um poeta (porque os poetas não morrem), que viveu os últimos anos da vida, como mendigo, comendo pouco e bebendo muito. E fê-lo por opção, ainda que a maior parte dos simples mortais não conseguissem entender o porquê dessa escolha. Mas Sebastião Alba (Diniz Albano Carneiro Gonçalves), é um poeta… acredito que vida e as palavras tinham outro significado para ele.

Sebastião Alba morreu atropelado numa das ruas de Braga, por um desses condutores anónimos, para quem a vida conta tanto, como as horas que perde nas estradas, ao volante de um carro qualquer. E que, o maior feito da sua vida, terá sido ter morto um poeta, pensando ter morto um mendigo!

Gosto dos amigos

Gosto dos amigos
Que modelam a vida
Sem interferir muito;
Os que apenas circulam
No hálito da fala
E apõem, de leve,
Um desenho às coisas.
Mas, porque há espaços desiguais
Entre quem são
E quem eles me parecem,
O meu agrado inclina-se
Para o mais reconciliado,
Ao acordar,
Com a sua última fraqueza;
O que menos se preside à vida
E, à nossa, preside
Deixando que o consuma
O núcleo incandescente
Dum silêncio votivo
De que um fumo de incenso
Nos liberta

Sebastião Alba

Foto: Noite Dividida

domingo, 6 de abril de 2008

DE ONDE VIEMOS? O QUE SOMOS? PARA ONDE VAMOS?


Hoje estou zen! Ontem passei pelo Museu de Artes Modernas de Boston e, passear por aquelas salas observando as esculturas e quadros ali expostos, fez-me inevitavelmente pensar em como tratamos tão mal a nossa arte e os nossos artistas em Cabo Verde. Schopenhauer, que foi um raro filósofo, disse ser a arte mais importante do que a Filosofia e a Lógica. Nós que temos um ministro que diz ser a cultura o principal responsável pela nossa passagem a PDM, devemos entender que, pela lógica do raciocínio, que se o Ministério da Cultura tivesse uma politica direccionada para o apoio ao desenvolvimento da cultura, hoje estaríamos na lista dos países mais desenvolvidos do mundo, tais são as potencialidades artísticas deste povo!

Depois, como não podia deixar de ser, terminei a noite no Wally’s Café, onde se ouve bom jazz ao vivo e que pelas suas características me faz lembrar o Tex. É curioso que os dois bares passaram por um processo idêntico de luta contra os moradores da cidade que exigiam o encerramento desses bares. O desfecho dos dois processos foi diferente no entanto: no caso do Tex, ganhou o grupo de moradores… no caso do Wally’s ganhou a cidade! É claro que a forma como se faz justiça num e noutro país teve o seu peso no epílogo dos dois processos, assim como a forma como se encara o valor que a música tem para estas duas cidades!

Foto: Wikipedia. Quadro de Gauguin.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

VIAGEM

1, de Abril… viajei, primeiro pela cidade, pelo Platô, para alinhavar pequenos importantes pormenores de coisas que tinha que deixar acertadas para a viagem em si, que seria para Boston. Na verdade, quem procura respostas por estar vivo, está em constante viagem entre o que acontece aqui e agora, e o que está a acontecer em outras paragens. O mundo não pára à nossa espera; As coisas vão acontecendo. E, quem circula pela nossa capital, consegue sentir o pulsar da cidade, a busca pela sobrevivência no dia-a-dia que para alguns já está garantido, mas para outros, uma incógnita: o que irei comer hoje? Quanto dinheiro terei disponível para satisfazer as minhas necessidades básicas?

Passo pelo mercado; Uma vendedeira barafusta com uma cliente por esta lhe ter perguntado o preço dos seus produtos mais do que uma vez: “rosto mo ka… fedi”, Grita-lhe a freguesa. “Bu pensa ma m sta li ta trabadja pa bo”? Replica a rabidante. Eu continuo a minha caminhada em direcção á vida que corre a contra relógio. Há uma viagem a fazer e o tempo não pára.

Será que hoje o voo vai sair a horas? A TACV, o orgulho nacional… os oportunistas de serviço, sempre os mesmos… os comentários infundados com laivos de racismo, e os complexos de um povo colonizado. Precisamos rapidamente entender o que se passou ali, na Cidade Velha, e soltar as grilhetas que nos mantêm presas ao subdesenvolvimento, apesar de PDM.

Por sorte, ontem pude lavar a minha roupa interior! Vou viajar, e há uma semana que estava sem agua. Voltei a estar agora, mas consegui lavar os meus boxers e camisolas. Se fosse no Brasil, perguntar-me-iam se usava camisola, tentando ferir a minha matxundade. Mas eu sou cabo-verdiano, e apesar de termos uma língua e uma história que nos une como povos, as viagens são diferentes. Ontem foi daqui para lá, e agora, de lá para cá: é a lei do mercado.

Pronto, finalmente estou dentro do avião. Vou começar uma nova viagem em direcção ao mundo desenvolvido, onde não tenho que me preocupar com a falta de água, nem com a falta de educação, muito menos com a falta de energia eléctrica! Porque aí, quando se paga por algum serviço, tem-se direitos, e não somente contas.

Mas para viajar basta fechar os olhos, ou ficar com eles bem abertos e percorrer lugares onde nunca estivemos; Porque a vida em si, é feita de viagens: tanto aos novos paraísos, como aos infernos de todos os dias. Porém, chegado o dia, todos faremos a ultima viagem, que muitos dizem ser desta para melhor. E o que levamos então nessa que uns dizem ser a ultima, e outros, apenas o princípio de uma outra viagem? As experiências dos muitos percursos percorridos a pé, ou através dos nossos sentimentos?

Foto e texto: Baluka Brazão

Ta Sumara Tempo

A minha foto
Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

Jasmine Keith Jarret

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