1, de Abril… viajei, primeiro pela cidade, pelo Platô, para alinhavar pequenos importantes pormenores de coisas que tinha que deixar acertadas para a viagem em si, que seria para Boston. Na verdade, quem procura respostas por estar vivo, está em constante viagem entre o que acontece aqui e agora, e o que está a acontecer em outras paragens. O mundo não pára à nossa espera; As coisas vão acontecendo. E, quem circula pela nossa capital, consegue sentir o pulsar da cidade, a busca pela sobrevivência no dia-a-dia que para alguns já está garantido, mas para outros, uma incógnita: o que irei comer hoje? Quanto dinheiro terei disponível para satisfazer as minhas necessidades básicas?
Passo pelo mercado; Uma vendedeira barafusta com uma cliente por esta lhe ter perguntado o preço dos seus produtos mais do que uma vez: “rosto mo ka… fedi”, Grita-lhe a freguesa. “Bu pensa ma m sta li ta trabadja pa bo”? Replica a rabidante. Eu continuo a minha caminhada em direcção á vida que corre a contra relógio. Há uma viagem a fazer e o tempo não pára.
Será que hoje o voo vai sair a horas? A TACV, o orgulho nacional… os oportunistas de serviço, sempre os mesmos… os comentários infundados com laivos de racismo, e os complexos de um povo colonizado. Precisamos rapidamente entender o que se passou ali, na Cidade Velha, e soltar as grilhetas que nos mantêm presas ao subdesenvolvimento, apesar de PDM.
Por sorte, ontem pude lavar a minha roupa interior! Vou viajar, e há uma semana que estava sem agua. Voltei a estar agora, mas consegui lavar os meus boxers e camisolas. Se fosse no Brasil, perguntar-me-iam se usava camisola, tentando ferir a minha matxundade. Mas eu sou cabo-verdiano, e apesar de termos uma língua e uma história que nos une como povos, as viagens são diferentes. Ontem foi daqui para lá, e agora, de lá para cá: é a lei do mercado.
Pronto, finalmente estou dentro do avião. Vou começar uma nova viagem em direcção ao mundo desenvolvido, onde não tenho que me preocupar com a falta de água, nem com a falta de educação, muito menos com a falta de energia eléctrica! Porque aí, quando se paga por algum serviço, tem-se direitos, e não somente contas.
Mas para viajar basta fechar os olhos, ou ficar com eles bem abertos e percorrer lugares onde nunca estivemos; Porque a vida em si, é feita de viagens: tanto aos novos paraísos, como aos infernos de todos os dias. Porém, chegado o dia, todos faremos a ultima viagem, que muitos dizem ser desta para melhor. E o que levamos então nessa que uns dizem ser a ultima, e outros, apenas o princípio de uma outra viagem? As experiências dos muitos percursos percorridos a pé, ou através dos nossos sentimentos?
Foto e texto: Baluka Brazão
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