quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

BLOGOSFERA

starry night-van gohg

Blogosfera

Com a ligação à rede

As informações são tantas

E ao mesmo tempo

Que a minha cabeça perde-se

Nos sentidos.

Queria poder concentrar-me

E assimilar

Cada coisa na sua vez

E de cada vez

Todas as coisas

Que observo, vejo, leio, oiço, sinto…

Ligo-me!

Baluka Brazão 30/01/08

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

UM POST PARA O KAKÁ BARBOSA

foto: Baluka Brazão

Caro Kaká: só agora me dei conta do bilhete que me endereçaste no teu blog, e como tal, não poderia deixar de te agradecer por teres reparado nos meus desabafos, na tentativa de chamar a atenção aos mais distraídos, para os nossos calcanhares de Aquiles.

É certo que este tipo de intervenção não agrada a muita gente e pode até soar como o canto de um grilo, que na maior parte das vezes, também incomoda. Talvez por fazer lembrar a muito boa gente que hoje pousa os seus calcanhares sobre o mármore, as suas origens rurais, das quais se deviam orgulhar.

Kaká: só consegue dormir ao som do canto do grilo, aquele que se encontra em plena sintonia com a beleza que nos transmite a natureza. Os outros, aqueles que buscam tão só o conforto pessoal, tornam-se insensíveis até aos gritos de alerta de quem procura sobreviver com o mínimo de dignidade, e vive “SIMA GRILU BAXU PEDRA”! Esses, preferem por isso, tentar matar o grilo, pensando que assim poderão dormir descansados!

Falando de canto, deixo-te os versos de uma bela canção do inesquecível RENATO CARDOSO:

PORTON D NÔS ILHA

Quando um mundo novo cunqui

Na porton di nôs ilha

Pamode qui fogon sem paia

Na ladêra sem cimbron

Tude mãe chei d fidjo sem estória

Tude gril quebrá sê pedra

Pamode manhã ca tem prutchida

E no quema morabeza

Ma distino triste di ilhéu

E no spaia sês pontin

Na prato fundo sem fture

Di tudo bem sirvido qui criás

Di tudo bem sirvido qui criás

E no cuzá um enchada

Má um broca e no espaiá

Um novo ideia na nôs mar

Sol e morabeza pa tude gente

Tude nôs farol di morte

Ma cimitério di nôs água

No vra terra pa tude gente

Lei tude criston tude cimbron

Tem direite na sê gota d aga.

UM POST COMPARATIVO

Museu Gugenheim-Bilbao

Passando os olhos pela revista Beax Arts - que trás um artigo e algumas fotografias de Bilbao, a capital do turismo cultural, que se vem desenvolvendo a golpes de arquitectura espectacular -, lembrei-me dos discursos inflamados sobre o turismo, que os nossos políticos fazem questão de repetir até acreditarmos que é verdade, e dessa mania do Filu, de comparar-nos, pretensiosamente, com essas grandes capitais.

Encontrei incríveis semelhanças com o discurso de Filu, acerca da nova era que pretende, em termos arquitectónicos, para a sua Menina do Atlântico.

Para quem visitou a feira das vaidades instalada na Praça Alexandre de Albuquerque - onde estiveram expostos vários projectos de construção civil de empresas privadas e escritórios de construção civil cá do burgo, numa clara tentativa de promoção, tanto do nosso responsável camarário, bem como dessas empresas e escritórios – certamente que terá ficado com a noção de que ambos (tanto Filu como essas empresas) pretendem iniciar esta nova era da cidade, lançando grandes obras de construção civil – que trarão grandes proventos aos principais promotores dessa exposição, quando a cidade sofre de graves falhas ao nível da infra-estruturação, que irão agravar-se com o aparecimento destes novos projectos.

As incríveis semelhanças que encontrei, relacionam-se com as críticas de que tem sido alvo o correspondente ao nosso Filu em Bilbao, que tem apostado para a sua cidade, naquilo que os seus críticos chamam de "Arquitectura-Marketing".

A linha de pensamento, parece ter fins idênticos, mas na prática, são duas realidades completamente distintas.

Filu, em vez de estar continuamente a falar da cidade com poesia, querendo fazer-nos crer que o que de mau existe na cidade tem pouco impacto nas nossas vidas, devia começar a olhar para a cidade com mais poesia, tentando melhorar o que está mal, para o que se construir no futuro, possa ser uma mais-valia para a cidade.

E já agora, aproveitando esta febre da comparação assente na construção civil, sugiro a construção do nosso Museu Guggenheim, já que o de Bilbao, é o responsável por cerca de 70% das viagens turísticas a essa capital.

domingo, 27 de janeiro de 2008

QUEM PAGOU A CONTA? A CIA NA GERRA FRIA DA CULTURA

São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

Cultura &CIA

"Quem Pagou a Conta?", da jornalista inglesa Frances Stonor Saunders, revela que nomes como Pollock e Hannah Arendt acabaram se beneficiando da "guerra fria cultural" travada pela CIA com dólares e sofisticação

CIA fez campanha contra Nobel para Pablo Neruda

Segundo a autora, área mais "frutífera" para a agência foi a de revistas e livros Expressionismo abstrato, de artistas como Jackson Pollock, foi a arte oficial da Guerra Fria cultural promovida pela agência



DA REPORTAGEM LOCAL

Leia abaixo a continuação da entrevista com a jornalista Frances Stonor Saunders.

EDUARDO SIMÕES

DA REPORTAGEM LOCAL

Na luta por corações e mentes durante os anos de Guerra Fria, a Agência Central de Inteligência dos EUA, a CIA, teve um braço armado de dólares para promover o "american way" e cooptar intelectuais e artistas em sua campanha anticomunista. A ação foi investigada ao longo de cinco anos pela jornalista inglesa Frances Stonor Saunders e resultou no livro "Quem Pagou as Contas? A CIA na Guerra Fria da Cultura", originalmente lançado em 1999 pela Granta, e que acaba de chegar às livrarias do Brasil. Saunders conta que o expressionismo abstrato, de artistas como Jackson Pollock, foi a "arte oficial" do período. A jornalista evita, porém, destacar um caso de interferência mais perturbadora: "O envolvimento da CIA na cultura foi uniformemente pernicioso e errado".

Leia a seguir trechos da entrevista que Saunders deu, por e-mail, à Folha.

FOLHA - A senhora encontrou muitos obstáculos oficiais para a sua pesquisa? FRANCES STONOR SAUNDERS - Meu pedido por documentação na CIA não obteve êxito. O Ato de Liberdade de Informação tem muito pouco efeito quando se trata de extrair material da CIA. Mas outras fontes de arquivo são muito ricas em termos de material da agência, principalmente porque ela trabalhou bem de perto com o setor privado para promover seus programas. Grandes instituições filantrópicas -a Fundação Ford, por exemplo- trabalharam com a CIA fornecendo dutos para seus dólares. E havia muitas fundações testas-de-ferro que, para manter as aparências, mantiveram suas contas e registros. Uma vez que era sabido quais foram criadas pela CIA, foi relativamente fácil inspecionar seus documentos.

FOLHA - Quais eram os objetivos da CIA?

SAUNDERS - A agência estava tentando promover uma idéia: a "pax" americana era a coisa certa. A cultura, a arte e as idéias americanas eram os lugares onde as liberdades eram expressadas e protegidas. Tudo que tinha a ver com o comunismo era mau, e o antiamericanismo era uma traição dos princípios fundamentais que sustentavam a liberdade de expressão.

FOLHA - O que os "agentes culturais" da CIA fizeram para disfarçar suas verdadeiras intenções?

SAUNDERS - A CIA disfarçou seu investimento em cultura escondendo-se atrás de uma série de frentes de atuação, sendo a mais bem-sucedida delas o Congress for Cultural Freedom [congresso pela liberdade cultural]. Para tanto, ela confiou a um círculo de intelectuais a proteção de seu segredo e o cultivo de seus investimentos. Mas houve alguns descuidos incrivelmente estúpidos: a operação financeira deixou um rastro de documentos, como fios pendurados na parte anterior de um rádio, e, uma vez que as suspeitas vieram à tona, foi fácil trilhar o caminho do dinheiro que levava à CIA. No meio da década de 60, muita gente sabia de onde o dinheiro vinha. Mas muitas pessoas que estavam recebendo diárias da agência não queriam reconhecer o fato e enfiaram suas cabeças na areia. Elas sabiam, mas não queriam saber. Outras certamente sabiam em detalhes o que estava acontecendo e estavam envolvidas no engano a seus colegas e a seu público. E o legado desse acordo notório ainda está, acredito eu, sendo experimentado.

FOLHA - Entre todas as áreas da cultura, qual a senhora acha que a CIA investiu mais e por quê?

SAUNDERS - O programa de Guerra Fria cultural era muito abrangente, mas era em grande parte sofisticado e erudito. Ele não investiu muita energia ou dinheiro em cultura popular, mas se concentrou em atividades intelectuais -periódicos, seminários, concertos, exposições de arte- porque ele queria conquistar a elite intelectual e aproximá-la da idéia de que o futuro da liberdade estava indissociavelmente ligado aos valores americanos, ao poder americano.

FOLHA - Quais áreas da cultura foram mais "frutíferas" para a CIA?

SAUNDERS - Provavelmente, o melhor retorno para a agência foram as áreas dos periódicos e livros. A CIA tinha um programa de publicações e revistas bem abrangente e tinha um bom orçamento -com o qual foi possível atrair algumas das melhores mentes da era pós-guerra e dar a essas pessoas a plataforma para transmitir suas idéias. Não é necessário dizer que tais idéias tinham de dizer, em menor ou maior grau, simpáticas aos pagadores da CIA. Pablo Neruda ou Sartre não eram bem-vindos como participantes.

FOLHA - Alguns daqueles artistas não teriam hoje a mesma importância sem a influência da CIA?

SAUNDERS - É possível questionar a reputação de alguns escritores e artistas à luz do que sabemos sobre o envolvimento da CIA na Guerra Fria cultural. Por outro lado, a agência fez de tudo para prejudicar Pablo Neruda, não apenas por sua visão política mas também como escritor. Ela, em segredo, fez campanha contra a premiação dele com o Nobel. Mas muitos escritores ou pensadores menores de repente se viram tirando proveito de passagens de primeira classe para viajar pelo mundo e fazer palestras tendo uma plataforma fornecida pelo braço secreto do governo americano. Quantos deles estavam destinados a parar nos porões dos sebos de livros?

No meu capítulo sobre o expressionismo abstrato, eu não questiono o valor estético do movimento ou o impacto que ele teve, e continua a ter, na história da arte. Mas mostro como a CIA estava envolvida num cartel cujo principal objetivo era asseverar os méritos do expressionismo abstrato como propaganda da liberdade americana, e isso foi feito em detrimento de outros tipos de arte. O movimento se tornou a arte oficial da Guerra Fria americana, o tipo de arte que os diretores da CIA colocavam na parede de suas salas. Acho importante saber como isso ocorreu.

FOLHA - Pode-se comparar esta política ao que foi feito durante o nazismo e na União Soviética?

SAUNDERS - O que a CIA fez foi infinitamente mais sofisticado do que fizeram os nazistas ou os soviéticos. Não se tratava de armar estratégias para forçar pessoas a seguir a linha oficial. O que CIA desenvolveu foi uma forma muito sutil de propaganda: o tipo em que as pessoas envolvidas em sua produção, e aquelas envolvidas em seu consumo, sequer sabiam o que é propaganda. Então, nada de agrupamentos de massa, pinturas realistas mostrando trabalhadores brandindo suas ferramentas contra a opressão dos capitalistas.

Pelo contrário, você mostra às pessoas o expressionismo abstrato, que aparentemente não significa nada, e você diz "olhe como somos livres, tão livres que produzimos arte que significa tudo e nada ao mesmo tempo". E o que você obtém é um dispositivo bem inteligente para encorajar a idéia de que a América é a campeã da liberdade, apesar do que esteja acontecendo em seu nome ou sob seus auspícios (o estabelecimento de ditaduras na América Latina, a interferência com esquadrões da morte, tortura etc.).

Crítica/"Quem Pagou a Conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura"

Com apetite por escândalo e detalhe, livro tem efeito de "lista negra" ao contrário

MARCELO COELHO

COLUNISTA DA FOLHA

O "perfeito idiota latino-americano", e muitos latino-americanos não tão idiotas assim, acostumaram-se a ver agentes da CIA ajudando a derrubar governos de esquerda em todas as partes do mundo e ensinando técnicas de tortura para os regimes ditatoriais que os sucederam.

Comparativamente, a realização de congressos de escritores e o apoio a revistas de intelectuais foram algumas das atividades menos condenáveis da agência de espionagem americana. É esse vasto empreendimento de propaganda cultural que Frances Stonor Saunders analisa, com enorme apetite pelo escândalo e pelo detalhe, em "Quem Pagou a Conta?"

Publicado nos Estados Unidos com o título "The Cultural Cold War", a pesquisa de Saunders ilumina duas décadas das ações secretas da CIA no "front" cultural. Estavam longe de ser toscas. Com dinheiro de sobra, proveniente de várias fundações de fachada, foi possível promover exposições de arte abstrata americana na Europa, apresentar turnês da Orquestra Filarmônica de Boston em Paris e Berlim, e criar revistas de alto padrão, como "Encounter", que tinha como um de seus editores Stephen Spender, um dos mais importantes poetas ingleses da época.

George Kennan, talvez o mais importante formulador da política externa americana no pós-guerra, explicou com alguma candura as atividades culturais da CIA: os Estados Unidos não tinham ministério da Cultura... De modo que tudo se resumia, afinal, ao que um ministério francês ou brasileiro tinha obrigação de fazer: promover a cultura de seu próprio país no estrangeiro.

Por que então toda a operação tinha de ser secreta? Um dos motivos mais curiosos para o sigilo daquelas operações é que a extrema-direita americana, cada vez mais histérica durante o macartismo, não admitiria que o governo ajudasse artistas tão modernos quanto Jackson Pollock e revistas tão "avançadas" como a "Partisan Review". Eram todos "vermelhos"; a própria CIA estava infestada deles, vociferava o senador Joseph McCarthy no auge da caça às bruxas.

Lista negra ao contrário

O livro de Saunders tem, hoje em dia, o efeito de uma "lista negra" ao contrário. Quem foi financiado pela CIA? Quem sabia que estava sendo financiado? Os nomes, a começar pelo de Spender, são muitos, e na sua maioria pouco conhecidos no Brasil. Pouca gente resistia, entretanto, a mordomias, bons pagamentos e viagens grátis: Mary McCarthy, Robert Lowell, Hannah Arendt, William Styron são citados entre os que, "sabendo ou não", participaram no mínimo de um ou outro convescote.

O excesso de nomes, a falta de um organograma de toda a operação e certo espírito persecutório prejudicam a excelente pesquisa de Saunders. Não é justo criticar um livro pelo que não se propunha a ser, mas dois pontos devem ser levantados.
Um levantamento de toda a máquina soviética de auxílio material e de prestígio aos intelectuais europeus da época tornaria sem dúvida mais equilibrada a narrativa de Saunders. Além disso, ao escolher como principais personagens os homens da CIA e seus financiadores, o livro dá menos atenção ao que haveria de mais interessante a ser contado: qual a atitude, os dilemas, os compromissos dos financiados? Em que isso afetou seus escritos, pinturas e composições? A feroz objetividade investigativa de Frances Saunders, admirável no seu gênero, talvez não seja a qualidade mais indicada para responder a essa pergunta.


QUEM PAGOU A CONTA? A CIA NA GUERRA FRIA DA CULTURA

Autora: Frances Stonor Saunders

Tradução: Vera Ribeiro

Editora: Record

Quanto: R$ 68 (560 págs.)

Avaliação: bom

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Matisse por Matisse

la musique

Na primeira edição deste ano, da revista brasileira Bravo!, o editor Marcelo Rezende, escreveu um texto de apresentação do livro Escritos e reflexões sobre Arte (ed. Cosac Naify) do pintor Henri Matisse, onde abre uma discussão entre os dois génios do séc. XX: Matisse e Picasso.

Para Picasso, “todo o acto de criação é antes de tudo um acto de destruição”. Enquanto que Matisse, define a Arte como “uma calma influência na mente, algo como uma cadeira de balanço que relaxa do cansaço físico”.

Relacionando várias reflexões de Matisse com ideias e procedimentos da Arte contemporânea – tão falada ultimamente no nosso meio artístico -, Marcelo Rezende, deixa-nos a seguinte questão:

Quem influenciou mais a Arte do séc. XXI, Matisse ou Picasso?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sal, centro de turismo barato!

foto: Malvin Hort

Passo pelo Sal como muitas outras vezes. Desta vez, fico em Santa Maria, antiga vila piscatória que se tornou conhecida pelas suas qualidades turísticas: Sol, praias de areia branca, vento, ondas, gente bonita e afável, como aliás acontece um pouco por todo o Cabo Verde. Em Santa Maria, os tempos mudaram: há gente de todas as cores e origens, incrementando ainda mais a nossa mistura crioula. Tudo se negoceia, até o corpo. Há todo o tipo de artesanato importado e produzido pelos nossos irmãos do continente, a maior parte, vulgar, reproduzida, dezena, centena, milhar de vezes, a preços negociados ou fixos, conforme o lugar onde se compra. O bom gosto pouco importa aqui! O importante é oferecer algo que os turistas do all-included possam levar como recordação. Também se encontram alguns produtos de confecção nacional, que na generalidade, seguem a mesma linha. Há excepções é claro, mas essas não fazem a regra. O corpo também se vende e por vezes, até a alma… por algumas horas, ou alguns dias de conforto e prazer. As noites perderam a poesia de outros tempos, tudo parece muito calculado e impessoal!

Os espaços livres vão sendo ocupados por mais hotéis, de uma forma generalizada, do sistema all-included, que trarão mais e mais turistas do dito turismo barato, de gosto pouco refinado, à procura de arte e prazeres baratos! Em troca, deixar-nos-ão as suas influências e os seus vícios nefastos, as suas doenças; já que as divisas, ficarão na origem, onde lhes são vendidas férias de sonho, para quem tem pouca escolha!

O paradoxo desta questão, é que tudo no Sal é caro, face à qualidade do que se oferece!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

SEM COMENTÁRIO!

Um Post Retardado!

Agora que passaram de novo aqueles dias de angustia em que só se ouvia falar da onda de “kasubody” que voltou a aumentar na capital e preparamo-nos para encarar o novo ano com outras expectativas, não será nunca demais repensar a nossa atitude perante a crise de segurança, cada vez mais presente entre nós. Nada mais normal nesta época, dirão alguns, porque todos nós, temos direito a peru, bacalhau, árvore de natal e presentes. Por isso, cada um á sua maneira, tratou de se preparar para a celebração da festa da família que todos os anos se celebra pela data de nascimento de Jesus Cristo. O pior é que a onda de solidariedade que se gera nas almas das gentes por estas alturas já tomou tal proporção que o próprio subchefe da polícia da esquadra do Palmarejo, após ter sido vítima de um competente “kasubody” com direito a coronhadas e outras coisitas mais, disse que teria sido vítima de um “kasubody” normal, como todos os outros.

Pois é, esta nova vaga de “kasubody”, do jeito que vem sido encarada, está a entrar na normalidade da vida dos praienses, a ponto de todos nós, inclusive os responsáveis pela manutenção da ordem pública e pela justiça que vivem nesta cidade, encararem este fenómeno de violência urbana, como algo normal. A coisa já chegou a tal ponto que um grupo de cidadãos indignados com o número de casos relatados nesses dias que antecedem o Natal, resolveram organizar uma manifestação para ver se faziam a população desta cidade acordar para a realidade do que se passa por aqui. Mas como estava toda gente preocupada com as compras de Natal, só apareceram cerca de trinta cidadãos para a referida manifestação.

O que muita gente ainda não conseguiu perceber, é que apesar de todos os eufemismos que se tem usado para explicar esta situação com que temos vindo a conviver, nunca nos sentiremos realmente livres para viver as nossas vidas dentro dos parâmetros normais de liberdade, se não nos sentirmos seguros no espaço onde vivemos. E que não se iludam os que pensam que o poder económico os poderá ajudar a comprar essa liberdade. Viver em condomínios fechados e rodeados de seguranças é um dos principais sintomas dos que vivem preocupados com a sua segurança pessoal. O problema é que esses que podem dar-se ao luxo de viver assim, vivendo a liberdade à sua maneira, são muito menos dos que nos vêm fustigando, nos becos, esquinas, ruas, avenidas, e à porta dos super mercados e das nossas casas. É bom por isso que para além da presença da polícia nas ruas que agora se verifica, comecemos a pensar na forma de reequilibrar este clima de instabilidade social que se vem afirmando entre nós. Porque senão, um destes dias ainda acordamos e damo-nos conta que eles, os menos favorecidos, tornaram-se tantos que ocuparam todos os espaços que fomos deixando livres, porque aos poucos fomo-nos refugiando nos nossos casulos, uns mais dourados do que outros.

O que é normal na verdade, não é sujeitarmo-nos aos “kasubody”! e a todo o tipo de agressões que a cidade nos vem proporcionando no nosso dia-a-dia. O que é normal, é que esta busca pelo equilíbrio social seja programada pelos nossos políticos. Situação e oposição. E por nós cidadãos que devíamos exigir com veemência e intransigência que essas medidas sejam tomadas, porque é para isso que os elegemos e pagamos os impostos que nos saem na pele.

Se prestarmos um bocadinho mais de atenção, notaremos que esta situação é recorrente e que está a tornar-se cíclica, agravando-se a cada nova etapa. Só se começa a tomar medidas para controlar a situação quando começa a tornar-se num clima insuportável e começam a aparecer algumas reivindicações, voltando tudo ao normal quando a situação parece estar controlada. Mas em resposta a esse relaxamento vem uma nova onda de maior violência.

Colocar polícias na rua é importante para devolver-nos os espaços que nos vem sido roubados. Mas não é o suficiente para dar-nos a tranquilidade que almejamos.

O desenvolvimento económico que se procura atingir em Cabo Verde tem que reflectir na melhoria da situação económica e social das populações destas ilhas. Principalmente na vida dos menos afortunados. Não se pode viver em constante sacrifício, porque o país precisa de ser economicamente sustentável e ver o fosso que existe entre alguns ricos e os muitos pobres que existem neste país, ir-se alargando, sem que se faça algo para evitar o pesadelo da instabilidade social. Há que fazer uma gestão de forma que a melhoria de condições de vida possa ser para todos, dentro das proporções que cada um possa absorver, em termos de oportunidades de investimento pessoal. Não poderá ser só, alguns a aproveitar do desenvolvimento económico que o país atravessa e os outros a suportar sem condições mínimas de dignidade humana esse desenvolvimento. Há que trabalhar mentalidades, mostrando que as politicas de desenvolvimento do país, privilegiam quem trabalha e procura de forma séria uma condição de vida melhor. Porque senão, continuará a alastrar-se essa ideia que todos os meios são bons para gerar riqueza, porque depois, terão o caminho aberto para ir acumulando cada vez mais riqueza, à custa da vida miserável dos outros.

Como agora irá começar um novo ano e pretende-se sempre uma vida nova, espero que todos nós sejamos um pouco mais realistas com a situação em que vivemos e façamos algo para mudar para melhor.

Baluka Brazão

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Um post ao Quarto Poder

Terminei o ano a ler MITOgrafias, o livro de poemas de Arménio Vieira que me foi oferecido por um grande amigo preocupado com essas coisas, e que fala de poemas feitos com pauzinhos de fósforos, porque a construção de um homem deve fazer-se na vertical!

Neste momento que se preparam as eleições autárquicas e que os políticos se agarram a todos os meios para fazer calar as vozes indesejáveis, pensando que matando-as estarão resolvidos todos os seus problemas, tratando o povo por asno, burro ou jerico, acredito que não se deram ao trabalho de ler Arménio vieira. Porque senão, teriam outro tipo de atitude para com os que lhes tentam chamar atenção para a sua conduta errante. É que o problema não está no que se diz, mas no que se vê e no que se sente!

Por isso, deixo aqui um dos poemas de Arménio Vieira, que me ficou na cabeça:

Analogias

O profeta Isaías deixou sinais

de que Jesus Cristo era o Messias.

Um oráculo, em Delfos, indicou

Sócrates como o mais sábio

dos homens. Nenhum deles escreveu.

Para quê? Tanto Platão como Paulo

são apologistas insuperáveis.

Os dois morreram de morte cruel:

Sócrates bebeu da taça, Jesus

Foi trespassado por uma lança.

Ambos sabiam que a morte

não é o fim, o espírito supera

a carne. Cristo morreu

e ressuscitou. A morte

de Sócrates foi um mal entendido.

Quem sonha é porque está vivo.

Arménio Vieira

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

CRONICA DE UMA ERA ANUNCIADA, ou do que preserva o preservativo.


Um preservativo amarelado bronzeia-se estendido na areia, ali mesmo ao pé da escada de acesso à praia de Quebra Canela, resquício de uma noite de amor furtivo ou da promiscuidade em que se vive na cidade. As pessoas passam por ele e fazem de conta que não o vêm. Vivemos assim, fazendo de conta de isso não nos toca. A areia está suja, por vezes infectada, mas só reparamos nela, quando uma alergia desconfortável começa a irritar-nos a pele. Não é nada epidérmico, vai-se impregnando aos poucos nas gentes até ser tarde demais para ter cura.

Uns degraus acima o trânsito rola mais lentamente do que o habitual. É hora de ponta. O acesso aos bairros habitacionais mal dimensionados são limitados, apesar dos avultados investimentos que se tem feito para ajudar a solucionar o problema.

As principais artérias do Platô vão finalmente ser alcatroadas e, de seguida, veremos serem erguidas duas torres de 20 andares cada, onde até agora os nossos olhos se perdem no horizonte, por entre carros estacionados sobre os passeios. Começa-se assim a traçar-se uma nova era na vida da cidade; dizem eles.

Há muito que se começou a traçar essa era. A era do betão armado! Explora-se cada metro quadrado com vista para o mar, até á exaustão. Muitos só se dão conta de ter comprado um gato quando pagaram por uma lebre, a partir do momento em que a vista que tinham sobre o horizonte, começa a desenvolver-se na vertical em forma de argamassa e janelas de vidro.

Lá fora, os desequilíbrios ambientais têm provocado enormes incêndios que vêm consumindo hectares mais hectares de florestas e junto com o verde, casas e vidas são transformadas em cinzas, em poucas horas.

Aqui, o lixo e a falta de civilidade, começaram por levar parte da pequena floresta de eucaliptos que mais tarde foi substituída por acácias, lixo e esgotos a céu aberto, onde agora irão erguer-se toneladas de vidro, ferro e betão.

A cidade cresce desenfreadamente e anunciam-se ajudas para a compra de material de combate a incêndios. Nada mais oportuno para acompanhar o início desta nova era. É que o ultimo fogo de que tive notícias, foi numa cave no Palmarejo, e os nossos Bombeiros, tiveram que socorrer-se do carro dos bombeiros do nosso aeroporto internacional e dos já habituais baldes de água dos vizinhos solidários. Com este desenvolvimento da cidade na vertical, certamente que iremos necessitar de um vigoroso reforço de material e homens com formação adequada, porque as experiências que temos nesta matéria, não nos deixa tranquilos. Até porque, para que o desenvolvimento económico que se presencia e de que se tem pretensão alcançar num futuro próximo tenha reflexos positivos para o país, é preciso começar a pensar e executar uma infra-estruturação da cidade nesse sentido. Sem descurar a questão estética.

O preservativo continua ali, bem á frente dos nossos olhos sem que ninguém o veja realmente. Até o dia em que nos entra por casa dentro, via internet, um filme de orgias, com claros indícios de abusos sexuais, gravado com uma adolescente, numa dessas noites de todos os excessos.

Apetece perguntar: o que leva Jovens pertencentes à suposta classe social média-alta a agir dessa forma bárbara?

A cidade tornou-se digital… alguns vão aproveitando esta nova oferta promocional da Câmara Municipal para viajarem na rede da informação, principalmente, jovens e turistas. Os outros, não se sentem totalmente a vontade para expor-se ao risco de um caço-body, nada virtual.

Os esgotos rebentam pelas ruas da cidade exalando um cheiro de imundice e nós, fechamos os vidros e ligamos o ar condicionado.

O preservativo continua ali… e em breve irá construir-se mesmo ali em frente, um hotel com vários andares em direcção aos Céus, enquanto cá na terra, o pesadelo vai tornando-se cada vez mais real.

Nenhum de nós gosta de viver assim! Nem eles estendendo a mão para pedir uma moeda, ou para apontar-nos uma pistola á cabeça e levar a carteira inteira, nem nós, nesta ansiedade de não se sentir seguros na nossa própria cidade.

O preservativo que inicialmente serviu para evitar alguma gravidez ou infecção indesejada, agora está ali disseminando doenças.

O preservativo continua ali, e bastava um gesto de consciência para apanhá-lo e jogá-lo no lixo. Mas nós preferimos fingir que não o vemos. Até o dia em que começamos a sentir aquela comichão desconfortante e nos damos conta dos nossos erros.

Baluka Brazão

Ta Sumara Tempo

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Praia, Ilha de Santiago, Cape Verde

Jasmine Keith Jarret

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