domingo, 2 de março de 2008

VAZIO DE IDEIAS

O tapete betuminoso começa a estender-se pelas principais artérias da cidade, e para alguns, a situação torna-se negra, da cor do alcatrão que agora cobre as pedras da calceta de algumas ruas do Platô. Logo, ouvem-se ecos sobre o oportunismo de Filú, que em final de mais um mandato, trata de prepara-se para mais um, à boleia do governo. A vida de político é assim em Cabo Verde. É preciso ter faro para saber aproveitar as oportunidades a seu tempo. Com isso, o Platô começa a ganhar ruas alcatroadas e passeios desnivelados – dizem os mais cépticos. Na verdade, para quem transita de automóvel pelas ruas já alcatroadas, sente uma enorme diferença, principalmente porque, ao longo dos anos, a manutenção dessas vias, era a mais básica possível; do tipo tapar o buraco, depois de tanto nele se espancar e tanto se reclamar. Mesmo assim, alguns buracos foram-se tornado crónicos e verdadeiras ratoeiras para os condutores menos atentos.

É claro que esta obra devia ter sido melhor preparada, para se poder fazer a correcção do terreno, principalmente lá onde os passeios foram perdendo altura e passaram a estar nivelados quase que ao nível do pavimento onde circulam os veículos motorizados. Esse problema não surge agora com o alcatroamento das ruas em questão, como alguns pretendem fazer-nos crer. Mas é verdade também, que isso não o torna menos pertinente. A verdade é que, não há tempo para isso; o Platô já esperou demais, e há que alcatroar as ruas rapidamente, antes que passe mais esta oportunidade que cai como mel na sopa do Filú.

A principal via de ligação entre a Praia e a Terra Branca, foi bloqueada ao trânsito, para as tais obras de beneficiação, que aí, é mais do que justificada. À hora de ponta, as filas tornam-se extensas na zona de Chã de Areia, principalmente porque, em frente ao Hotel Marisol, numa via com duas faixas de rodagem muito mal calcetadas, uma das faixas, está geralmente ocupada com alguns carros que devem pertencer a gente muito importante. Porque não se entende que, como é que estando o trânsito para importantes bairros populacionais da capital, como sendo os bairros da Achada Santo António, do Palmarejo, e da Terra Branca, confinado a essa única passagem, não se tenham tomado medidas, no sentido de proibir o estacionamento nessa zona, minimizando assim, o problema causado pelo encerramento da rampa da terra Branca. São nestes pormenores de fácil resolução, que a nossa câmara vai falhando, fazendo-nos a vida negra, sem necessidade. Aliás, esta obra de alcatroamento dos principais acessos á zona alta da cidade e das vias principais de circulação automóvel do Platô, mesmo trazendo algum conforto (e economia) a quem desloca-se regularmente de automóvel pela cidade, parece obra daquelas empregadas domésticas que passaram o dia a comentar a novela com a empregada da vizinha do lado e que quando deram pelo aproximar da hora da chegada da patroa, atiraram com o lixo todo para debaixo do tapete. Mas este é o país em que vivemos e estes são os gestores municipais que temos! Aliás, Há coisas que parecem só acontecer, nesta cidade, como por exemplo: Colocar cartazes publicitários (out-doors), em plena praça Alexandre Albuquerque! Aonde mais é que se consegue ver coisa parecida?

Há no entanto uma sensação de se querer fazer mais e melhor, ainda que a ocasião não seja a mais propícia, porque facilmente se confunde com obras feitas à pressa, porque vêm aí as eleições autárquicas. Estranho é a sensação de desespero em que parecem ter caído os militantes do MPD, com estas obras de melhoramento de algumas ruas e avenidas da cidade. Certamente que não serão estas obras que farão de Filú vitorioso nas próximas eleições autárquicas. Há toda uma avaliação do que se fez em prol da cidade neste ultimo mandato, que irá pesar na avaliação positiva ou negativa deste candidato a um novo mandato. Assim como, haverá também, por parte dos eleitores, uma apreciação do discurso e das propostas do candidato apoiado pelo MPD, nesta disputa pela câmara da Praia.

Portanto, a meu ver, o MPD, devia estar preocupado em ter argumentos convincentes, de que pode ser uma alternativa para uma melhor gestão da capital, em vez de estar a tentar convencer os praienses, que estas obras irão de alguma forma, prejudicar a cidade e os seus habitantes. Não me parece que seja por essa via que se irá conseguir alguma vantagem nestas eleições. Seria importante, no entanto, a discussão sobre a melhor forma de se conseguir melhorar a pavimentação do Platô, podendo preservar a configuração estética deste centro histórico da cidade. Mas depois do assalto que se vem verificando pelos chineses a grande parte das casas dessa zona da cidade, colocando grades e portões de ferro – como bem entendem -, nas fachadas principais dessas habitações, parece-me que essa questão deixou de ter o valor que se lhe devia dar, pesando tão simplesmente, a questão financeira.

Por outro lado, parece-me de todo reprovável, pretender-se aproveitar da intervenção infeliz do deputado António Pascoal na Assembleia Nacional, para através do incitamento ao racismo nos média, se pretender convencer à população da Praia e dos municípios da Ilha de Santiago, a votar neste ou naquele partido. Ganhar nessas condições, seria pôr muita coisa a perder para todo o Cabo Verde.

Essas reacções sobre questões de ordem racial, têm vindo a ganhar alguma dimensão e aproveitamento político no nosso país, quando devia ser combatido por todos, e principalmente, por todas as forças políticas com assento no nosso parlamento. Porque apesar de sermos todos diferentes de ilha para ilha (ainda que sendo uns mais iguais que outros), somos todos iguais na nossa génese. Somos todos cabo-verdianos, e o facto de sermos todos de raça mista – ainda que alguns tenham a pele mais clara do que outros – tem que ser visto com factor de aglutinação e não de marginalização. O mundo global em que vivemos é cada vez mais mestiço! Só gente mal formada e complexada, é que continua a pensar que, em pleno século XXI, a cor da pele pode continuar a ser factor de descriminação social.

Em cabo Verde, felizmente, nunca se exerceu esse tipo de poder. Portanto, é de todo inusitado que passados mais de trinta anos da independência nacional, se esteja agora, a querer dividir os cabo-verdianos segundo a pigmentação da pele e da situação geográfica das ilhas.

O ser humano deve ser avaliado pelas suas ideias! E é isso que falta na nossa sociedade: a discussão de ideias sobre o que é melhor para o desenvolvimento dos nossos municípios, das nossas ilhas e do nosso país. Qual o desenvolvimento que queremos para nós e para as gerações vindouras, e de que forma esse desenvolvimento poderá trazer melhorias na vida das populações, principalmente as mais carenciadas.

Um passo importante para que isso aconteça, será o recenseamento de todos quantos já atingiram a idade de exercer o seu poder de voto. “A mi djam resensia”! “E bó, dja bu resensia”?


Texto e foto: Baluka Brazão

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Jasmine Keith Jarret

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