Foi muito agradável para mim voltar a Mindelo após alguns anos de ausência. Foi assim de repente, após um fim-de-semana deprimente na capital. Mudei os meus planos de início de férias e rumei ao Mindel(act). Faltavam quatro dias para o encerramento do festival de teatro e lá estava eu na noite de Mindelo. O encontro com amigos que curiosamente vivem na capital e que estavam lá por causa do festival salvou a minha primeira noite em Mindelo. Estivemos nas varandas do Hilário e ouvi histórias do que terá sido a Galeria de Nho Djunga. Achei pena que a cidade não conseguisse capitalizar um momento tão alto de expressão cultural que se vem repetindo todos os anos desde o momento em que João Branco e a associação a que pertence deu início a esta epopeia do teatro em terras de S. Vicente. Ouvi estórias de caço-bodi nas ruas do centro de Mindelo, da falta de segurança e de dinheiro que feicha as pessoas em casa. reparei que a praça nova já não tem o mesmo movimento de outros tempos e que mesmo durante o festival de teatro internacional a noite acaba com o off no atrio do centro cultural do Mindelo, um magnifico edificio recuperado ainda nos tempos em que António Jorge Delgado era Ministro da Cultura. Nesse belo edifício existe também uma livraria que espero não ter o mesmo fim do que aquela que funcionava no Palácio da cultura, na cidade da Praia. Afinal, faz-nos mais falta, no centro da cidade e no edificio público que simboliza o acesso á cultura e a promoção de eventos que visem promover a fruição cultural, uma livraria, do que um banco... ainda que seja da cultura! Este tipo de opções traduz, de certa forma, a impotância que damos ao acesso ao conhecimento em contraposição com o acesso ao dinheiro.
A noite seguinte foi fantástica... pude assistir a um dos momentos altos do Festival. POR UM PUNHADO DE TERRA era a peça escolhida para a noite no auditório do Centro Cultural do Mindelo. Terminou com o público em êxtase a aplaudir o actor deste monólogo tão efusivamente que teve que regressar por três vezes ao palco para agradecer a entusiástica ovação. Sala cheia, como aliás acontece sempre nas noites de Mindelact.
Mindelo, por estes tempos, é uma cidade que tem muito a oferecer, muito mais do que gente a procurar pelos seus encantos. Gostei de estar no Café Mindelo, na Bodeguita de Mindelo, no Vô, nas varandas do Hilário, no Tapas... numa noite sem alternativas, depois de um bom concerto de jazz ao vivo, ouvi jazz fusion num bar dito de streep-tease e acabei num baranga party a ver a praia da laginha por entre grades, qual ave de capoeira. Tive pena de não ter tido tempo suficiente para sentar e apreciar um bom vinho no Zero Point Art Galery... por vezes falta luz, mas não falta arte em Mindelo.
O Mindelact terminou com a leitura de uma mensagem escrita do Presidente da República, uma homenagem muito sentida a Enano, uma festa no pátio do CCM e uma cidade ás escuras onde as opções se encurtam e ficamos confinados aos habitáculos de dois carros em que alguns amigos resolveram fazer um tour pela noite de Mindelo.
Tenho para mim que são as pessoas que fazem os lugares e S. Vicente continua a ter gente e lugares muito agradáveis. S. Vicente continua a ter gente que se indigna com a forma como foi entregue um espaço tão importante para a cidade como é a Marina de Mindelo a um estrangeiro (não tenho nada contra os estrangeiros que vivem em Cabo Verde nem sentimentos de xenofobia) e a forma como é gerida e fiscalizada essa estrutura de assistência a embarcações de recreio e yates de pequeno porte que passam por Mindelo, onde diz-se acontecer todo o tipo de negócios obscuros que vão desde o tráfego de drogas até á prostituição infanto-juvenil; Que se indigna com o descaso que o governo vem demonstrando ao longo dos últimos anos em relação ao problema do desemprego dos jovens que se reflete nos altos níveis de criminalidade e insegurança que assola a cidade; Na falta de energia que se vem adensando, provocando grandes prejuízos a quem já se debate com muitas dificuldades para ir sobrevivendo; Na forma como os emigrantes de regresso à terra têm que negociar com os funcionários das alfandegas para poderem retirar os pertences que trazem para retomar as suas vidas em Cabo Verde... mas, também, tem gente que gosta de Jazz, de pintura, de teatro, de boa conversa á volta de uma boa garrafa de vinho. Porém, o maior desafio que me parece terem que vencer os mindelenses é esse estado de letargia em que parecem ter caído que os impede de aproveitar as oportunidades de negócio a cidade lhes oferece.
Hoje, ausente do meu torrão natal em gozo de férias, oiço que o nosso primeiro ministro discursou em crioulo nas Nações Unidas e que a distribuição de àgua e energia eléctrica na capital continua a agravar-se! Parece-me que um dos grandes desafios de quem governa Cabo Verde neste momento é conseguir entender o que é prioritàrio para a melhoria das condições de vida dos cabo-verdianos.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
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1 comentário:
Baluka bravo! Gostei muito de te ler, tinha a impressao de estar em Mindelo e de viver o que vives-te...
obrigado
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