quarta-feira, 15 de outubro de 2008

EXPECTATIVAS



Durante o mês que agora termina viveu-se mais um aumento substancial nos preços dos combustíveis no país. A sociedade civil, como já se vem tornando hábito, ficou em “parva e serena”. Não mugiu nem tugiu.
Este quadro social, dejá vu, que vem se repetindo, perante medidas que afectam claramente o poder de compra dos cabo-verdianos, pode levar a pensar que a situação económica que cabo verde atravessa é boa. Tão boa que apesar de se terem verificado três aumentos significativos nos preços dos combustíveis num período de cerca de seis meses, no mesmo ano, as reclamações que se ouviram, foram quase que insignificantes, face ao impacto que essas subidas de preços têm na vida deste povo. Os únicos de quem se ouviu reclamações mais acaloradas, foi dos representantes de algumas empresas de transporte rodoviário e marítimo que se dizem lesados nos magros lucros que obtêm, devido ao aumento das despesas, com a compra de combustíveis.
Sobre o silêncio da sociedade civil… se eu fosse um dos políticos responsáveis pela governação do país ficava preocupado. Porque, é no mínimo estranho que, estando claramente a perder o poder de compra, muito pouca gente manifeste qualquer tipo de desagrado perante esta situação. Por isso, há que pensar que, das duas uma: ou há um consenso que apesar das dificuldades económico que o mundo e o país atravessam os cabo-verdianos estão dispostos a sacrificar-se ainda mais para que o actual governo possa continuar a apresentar números positivos perante as organizações internacionais que nos vêm concedendo empréstimos para o desenvolvimento de Cabo Verde, ou então, estão todos á espera do melhor momento para dar resposta a estes aumentos mal explicados. Vêm aí as eleições legislativas, e parece ser um grave erro ignorar o aviso vindo das autárquicas. Pois, porque apesar destas medidas serem impostas pela ARE, que diz-se ser uma Agência de Regulação Económica independente, a verdade é que, estas medidas descompassadas, ajuda a aumentar as receitas dos importadores e distribuidores de combustíveis, e, o ao governo, ajuda a arrecadar mais impostos.
É claro que todo este processo de aumento de preços dos combustíveis leva a reflectir sobre a oportunidade da medida, principalmente, este último aumento que acontece quando se verificou uma queda dos preços do barril de petróleo a nível internacional, de cento e quarenta dólares para cerca de noventa e tal dólares por barril de petróleo. Como será quando voltar a aumentar?
Perante este cenário fica no ar a pergunta: será que esta foi a forma que se encontrou para compensar o imposto de manutenção rodoviária que o MPD chumbou no parlamento?
Se essa for a leitura do eleitorado, e não havendo correcções por parte do governo no sentido de garantir aos eleitores que nada tem a ver com estes sucessivos aumentos de combustíveis - com principal incidência sobre este último -, estará a entregar os votos de muitos cabo-verdianos que simpatizam com o PAICV, ao MPD, porque estes poderão entender que, esta é a única forma de refrear esta continua perda de poder de compra e consecutiva perda de qualidade de vida. Note-se que, desde que o partido que está no governo reassumiu a governação do país, que vem tomando medidas no sentido de se ir equilibrando os cofres do estado - que dizem ter encontrado praticamente vazios. E apesar da maior parte dessas medidas terem sido tomadas de forma acertada, e com o consentimento da maioria dos cabo-verdianos - que reafirmaram a sua confiança neste partido, conferindo-o um segundo mandato de governação -, a sensação que se tem, é que na prática, muito poucos usufruem das melhorias conseguidas com o sacrifício de todos. E isso poderá acontecer mesmo dentro da classe média, que cada vez mais, vai tendo dificuldades para lidar com o orçamento mensal. Há o crédito da casa para pagar, a conta do carro, o combustível, a oficina, o telefone, as mesadas do filho que está a estudar no Brasil, os canais de televisão a cabo para ver as novelas brasileiras, as férias em Fortaleza… entre outras coisas que todo o cabo-verdiano dos dias de hoje ambiciona minimamente.
De resto a realidade diz-nos que vivemos num país onde as políticas de estado estão cada vez mais viradas para o negócio. A tal ponto que nem mesmo os lugares julgados sagrados, como é o caso da Biblioteca Nacional, são poupados dessa lógica de arrecadação de receitas. A partir de agora, os praienses estarão mais próximos das instalações desse edifício… não porque se tornou esse espaço de busca de conhecimento num lugar mais atractivo, porque passou a ter um espaço de novas tecnologias para o acesso á informação, mas porque se instalou nesse edifício nobre, um balcão de cobranças da CV TELECOM!

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Jasmine Keith Jarret

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