Logo pela manhã, cedo, mal o sol desperta, a cidade enche-se de cores, cheiros e sabores. Cheiro das gentes, no seu frenesim, na eterna busca do pão-nosso para cada dia. A cidade torna-se num grande mercado municipal onde os limites são as ruas e as gentes que enchem os passeios de alguidares coloridos de onde transbordam frutas, legumes, rebuçados, cuecas de todas as cores… “freguês, freguês, bem nu nagosia”. O sol vai-se levantando até pôr-se a pique, soltando as suas labaredas sobre a cidade. Os odores das gentes tornam-se intensos e misturam-se com o cheiro fétido das águas jogadas pela calçada, restos de gente, soltos ao fim de cada dia de labuta que se repete todos os dias. “Mangui é cinquenta escudo cada; doxi, ê madura na mãe”… “Nhu ka krê limon”?
Um pouco mais acima o negócio é outro, puro contrabando… de tabaco clandestino vindo do Senegal ou de outras paragens do continente. A moeda, essa vem da Europa e alguma dos EUA; é a Banca informal, mesmo em frente do nariz de toda gente, até mesmo da polícia que não está ali para se aborrecer com essas coisas… change, change, bu ka kre troka dinhêru?
O que começou com a ocupação dos passeios limítrofes do mercado do Platô, estendeu-se por quase toda a rua 5 de Julho e ameaça tomar de assalto também a avenida Amílcar Cabral, sem que ninguém tome medidas de fundo, para se pôr termo a esta expansão desenfreada do mercado, pelas ruas do Platô.
Vivemos num mundo onde cada vez se vão abrindo melhores oportunidades para quem tem uma melhor situação económica e financeira, tornando mais negra a vida dos que precisam apenas de uma pequena oportunidade para irem sobrevivendo. As ruas da cidade provam isso mesmo, e politicamente, seria incorrecto, neste momento de crise, impor as regras municipais, sem antes se criar uma alternativa a essas gentes que ganham o pão de cada dia de forma mais ou menos engenhosa. Mas é preciso também respeitar os que fizeram os seus investimentos e pagam impostos, cumprindo as regras estabelecidas por esta sociedade. A falta de capacidade dos representantes municipais e do governo para resolver os problemas que afectam a nossa sociedade não pode ser eternamente, justificativo para o desrespeito das leis.
Nas civilizações mais avançadas do que a nossa, as sociedades são geridas através das normas criadas por essas mesmas sociedades, fazendo com que haja um equilíbrio baseado no respeito pelo próximo. Quem não cumpre as regras, sofre penas adequadas ao peso da prevaricação cometida, até que acabe por entender e respeitar essas regras, ou auto-marginalizar-se. Aqui tem prevalecido a lei do mais forte. Ninguém respeita ninguém e como ninguém controla ninguém, a falta de moral impera sobre a moral e os bons costumes!
É preciso arrumar a cidade e não ter como preocupação única a limpeza do espaço físico. É preciso varrer o lixo que está dentro das pessoas que habitam a cidade e não se incomodam em conviver com gente a fazer as suas necessidades fisiológicas em plena via pública, sem o mínimo de pudor e respeito pelos outros. E isso, passa por se fazer cumprir as leis, doa a quem doer!
Foto: Baluka Brazão
3 comentários:
1 falha grave..
si ideia ê fala de 'lixo' (título), foi injusto poi foto de trabalhadeiras qui sta crê sobrevive, co tudo ses colorido.
ki tal 1 photo di um trocador di dinhero.. ou di "alguém ta fazi se necessidade fisiológica"?!
ê qui si for bo, bu ca ta ficaba contenti..
contribuiçon na tal "limpeza" debi começa ê li..
cheers
N ta respeta muto, kritika, pamodi n ta kredita ma so lendo na entrelinhas ê ki nu ta konsigui ba ta midjora;mesmo kando kês kritika ta bem di alguén ki pa fasi kritika, ten ki sukundi trás di anonimato. Abstratu ta kunfundi txeu alguen, e por isso, komo nha blog é um lugar publiku, n sta troka kêl fotografia inicial e n ta poi um ki tudo alguém podi fasi um leitura obvio!
Nhôs fika drêtu!
Pelos vistos bu ka intendi "entrelinhas" di comentário també.. poi na lugar di kes senhora di foto.
Ideia era pa ser um crítica construtivo.
já ki bu leba ideia di anonimato muto a peito, ali ta bai 2 factos pa bu pensa nel:
-na fotos di trabalhadeiras, tinha rostos;
-di trocador di dinhero, foi só mon co dinhero...
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