Agora que passaram de novo aqueles dias de angustia em que só se ouvia falar da onda de “kasubody” que voltou a aumentar na capital e preparamo-nos para encarar o novo ano com outras expectativas, não será nunca demais repensar a nossa atitude perante a crise de segurança, cada vez mais presente entre nós. Nada mais normal nesta época, dirão alguns, porque todos nós, temos direito a peru, bacalhau, árvore de natal e presentes. Por isso, cada um á sua maneira, tratou de se preparar para a celebração da festa da família que todos os anos se celebra pela data de nascimento de Jesus Cristo. O pior é que a onda de solidariedade que se gera nas almas das gentes por estas alturas já tomou tal proporção que o próprio subchefe da polícia da esquadra do Palmarejo, após ter sido vítima de um competente “kasubody” com direito a coronhadas e outras coisitas mais, disse que teria sido vítima de um “kasubody” normal, como todos os outros.
Pois é, esta nova vaga de “kasubody”, do jeito que vem sido encarada, está a entrar na normalidade da vida dos praienses, a ponto de todos nós, inclusive os responsáveis pela manutenção da ordem pública e pela justiça que vivem nesta cidade, encararem este fenómeno de violência urbana, como algo normal. A coisa já chegou a tal ponto que um grupo de cidadãos indignados com o número de casos relatados nesses dias que antecedem o Natal, resolveram organizar uma manifestação para ver se faziam a população desta cidade acordar para a realidade do que se passa por aqui. Mas como estava toda gente preocupada com as compras de Natal, só apareceram cerca de trinta cidadãos para a referida manifestação.
O que muita gente ainda não conseguiu perceber, é que apesar de todos os eufemismos que se tem usado para explicar esta situação com que temos vindo a conviver, nunca nos sentiremos realmente livres para viver as nossas vidas dentro dos parâmetros normais de liberdade, se não nos sentirmos seguros no espaço onde vivemos. E que não se iludam os que pensam que o poder económico os poderá ajudar a comprar essa liberdade. Viver em condomínios fechados e rodeados de seguranças é um dos principais sintomas dos que vivem preocupados com a sua segurança pessoal. O problema é que esses que podem dar-se ao luxo de viver assim, vivendo a liberdade à sua maneira, são muito menos dos que nos vêm fustigando, nos becos, esquinas, ruas, avenidas, e à porta dos super mercados e das nossas casas. É bom por isso que para além da presença da polícia nas ruas que agora se verifica, comecemos a pensar na forma de reequilibrar este clima de instabilidade social que se vem afirmando entre nós. Porque senão, um destes dias ainda acordamos e damo-nos conta que eles, os menos favorecidos, tornaram-se tantos que ocuparam todos os espaços que fomos deixando livres, porque aos poucos fomo-nos refugiando nos nossos casulos, uns mais dourados do que outros.
O que é normal na verdade, não é sujeitarmo-nos aos “kasubody”!
Se prestarmos um bocadinho mais de atenção, notaremos que esta situação é recorrente e que está a tornar-se cíclica, agravando-se a cada nova etapa. Só se começa a tomar medidas para controlar a situação quando começa a tornar-se num clima insuportável e começam a aparecer algumas reivindicações, voltando tudo ao normal quando a situação parece estar controlada. Mas em resposta a esse relaxamento vem uma nova onda de maior violência.
Colocar polícias na rua é importante para devolver-nos os espaços que nos vem sido roubados. Mas não é o suficiente para dar-nos a tranquilidade que almejamos.
O desenvolvimento económico que se procura atingir em Cabo Verde tem que reflectir na melhoria da situação económica e social das populações destas ilhas. Principalmente na vida dos menos afortunados. Não se pode viver em constante sacrifício, porque o país precisa de ser economicamente sustentável e ver o fosso que existe entre alguns ricos e os muitos pobres que existem neste país, ir-se alargando, sem que se faça algo para evitar o pesadelo da instabilidade social. Há que fazer uma gestão de forma que a melhoria de condições de vida possa ser para todos, dentro das proporções que cada um possa absorver, em termos de oportunidades de investimento pessoal. Não poderá ser só, alguns a aproveitar do desenvolvimento económico que o país atravessa e os outros a suportar sem condições mínimas de dignidade humana esse desenvolvimento. Há que trabalhar mentalidades, mostrando que as politicas de desenvolvimento do país, privilegiam quem trabalha e procura de forma séria uma condição de vida melhor. Porque senão, continuará a alastrar-se essa ideia que todos os meios são bons para gerar riqueza, porque depois, terão o caminho aberto para ir acumulando cada vez mais riqueza, à custa da vida miserável dos outros.
Como agora irá começar um novo ano e pretende-se sempre uma vida nova, espero que todos nós sejamos um pouco mais realistas com a situação em que vivemos e façamos algo para mudar para melhor.
Baluka Brazão
3 comentários:
Oi Baluka!
Obrigado por me teres visitado. Respondendo ao teu convite eis o meu sinal de passagem, não aquela passagem de alôu, como se nada tivesse acontecido. Li as tuas legítimas preocupações. Eu e o Mário Fonseca, falávamos muito da situação social nas nossas cidades sobretudo na Praia. Olha o que disse ele na altura: « Barbosa, há muita gente que pensa de cintura para baixo, vai ser mesmo difícil pensar e resolver o problema de filhos arranjados atoa ainda por cima postos na rua.
Como é que uma menina de 15 anos mãe, praticamente na rua, consegue evitar o filho de crescer na rua?
Eu respondia:« um dia a sociedade pagará.» O que estamos a verificar é um fenómeno mundial.
Eu sempre disse que Cabo Verde não é Nanda na varanda. Na terra dos outros acontece, aqui não. Temos brandos costumes. Eu acredito, só com medidas fortes é que a coisa se endireita. Há cidadãos e há indivíduos. Quem paga os impostos deve exigir e quem paga os impostos tem que se indignar respondendo ao chamamento que se lhe faz.
Krilu é kobardu y kobardia ta sukundi na indiferenssa.
Kaka, fico satisfeito por me teres visitado e teres deixado o teu comentário. Porém, devo dizer-te que, deu-me maior satisfação ainda, saber que, sendo tu um deputado, pensas da forma como te expressaste.
Obrigado meu caro amigo pela atenção que dispensate ao que disse.
Devo-te esta palavrinha.
Aqui não falo e nem vou falar como deputado da nação. Vou ser eu preocupado com um monte de coisas na nossa terra. Sou uma unidade, pensante e actuante, independentemente das funções sobretudo as ordem temporal. Estou a cumprir e vou cumprir o meu papel, serenamente. Obrigado conto contigo. Um abraço de Kb.
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