quinta-feira, 13 de março de 2008

MULHERES, ATRASOS E KASSU-BODY



No dia 8 de Março, dia internacional da Mulher, estive na Cidade Velha, onde foi festejado esse dia, com a inauguração de uma sede para uma associação de apoio às mulheres dessa zona. Para celebrar tal evento, ouve catxupa cozida na lenha, batuku, e a voz da Lúcia Cardoso… e é claro, os discursos de circunstância! Este tipo de intervenção social é importante porque, a meu ver, ajuda a encurtar as distâncias que existem na nossa sociedade, em termos socioeconómicos, entre as populações que carecem desses apoios, e as que têm acesso mais imediato ao ensino e ao emprego. Ajuda a absorvê-los em vez de marginalizá-los.

Um pouco mais abaixo, no largo central onde está exposto o pelourinho - onde eram castigados e vendidos os escravos que para aqui eram transportados – estava instalada uma pequena feira de artesanato nacional. Havia também um palco montado para um concerto de celebração da passagem do Amistad pela cidade da Ribeira Grande. Quem quisesse, podia ainda ir visitar a réplica da escuna que se tornou famosa pelo papel que assumiu na abolição da escravatura nos EUA (La Amistad), que estava ancorada na baía da Ribeira Grande de Santiago. Para isso, bastava fazer fila, para ir de bote até ao veleiro.

A praça e a esplanada estavam bem compostas. Aguardava-se com alguma expectativa o concerto que traria ao palco músicos de renome como Ramiro Mendes e Kim Alves, entre outros. No entanto, como já se vem tornado hábito, as preparações para o inicio do espectáculo, foram acontecendo durante a festa e, houve mesmo quem tivesse desistido de esperar pelo inicio atrasado da actuação dos músicos. Este hábito de não cumprir com os horários programados está a enraizar-se de tal forma no nosso meio, que há quem já o chame de “horário cabo-verdiano”. É bom que não se tome isso como um elogio aos nossos costumes. Quando se assumem compromissos que envolvem terceiros, é preciso saber respeitar horários, porque não será sinal de boa educação, deixar os outros à nossa espera. Em alguns casos, esse comportamento acaba por premiar os prevaricadores.

De volta à capital, reunimo-nos em casa de um amigo para uma troca de ideias musicais. A meio da nossa audição, porém, fomos surpreendidos pelo alvoroço causado pela chegada de um terceiro amigo e a namorada, que tinham ficado de se juntar a nós e que tinham acabo de ser vítimas de kassu-body, mesmo á porta da casa onde nos encontrávamos. Valeu ao casal, o facto de, o meliante ter tentado agredir o nosso amigo com um ferro e este ter conseguido agarrá-lo, resistindo ao ataque e, após alguma luta, o agressor ter-se posto em fuga, levando apenas um casaco. Parte desta cena foi presenciada por alguns transeuntes que limitaram-se a olhar para o que estava a acontecer, sem intervir. Este tipo situações de violência urbana está a aproximar-se vertiginosamente da porta das nossas casas e parece que aos poucos, vai sendo assumida como um desastre natural!

Fará também isto, parte da nossa cultura? Esta indiferença a tudo o que passa ao nosso redor mas que não nos afecta directamente! É que até entende-se que o batuque seja apresentado como principal símbolo da cultura nacional e que se pretenda dar à Cidade Velha a dimensão que deveria ocupar na história do tráfego negreiro. Mas assumir a violência urbana como um mal que não pode ser combatido e que tem que ser assimilado, não me parece que faça parte da cultura deste povo de brandos costumes que, vem sendo afrontado com situações que aos poucos vai diminuído a qualidade de vida de quem habita esta cidade porque, muitos dos que cá vivem, não consegue adopta-la como sua.

Texto e fotografia: Baluka Brazão

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Jasmine Keith Jarret

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