No nº320 do jornal expresso das ilhas, foram dadas a estampa duas notícias que se complementam e, ao mesmo tempo, nos deixam preocupados com o rumo que se está a dar á educação dos jovens desta cidade.
Tornou-se hábito, confrontarem-nos com notícias de violência juvenil – com recurso a armas brancas e de fogo -, dentro e nos arredores dos estabelecimentos do ensino secundário, assim como em alguns bairros cá do burgo. Na edição de 23 de Janeiro de 2008, vem a notícia de mais um aluno baleado por um adolescente, pertencente a uma Gang Juvenil, que invadiu o recinto de recreio do Liceu Pedro Gomes, com o intuito de fazer um ajuste de contas, com o aluno então baleado numa perna.
É impressionante, a facilidade com que menores que deviam estar a ser educados para serem futuros homens e cidadãos que pudessem contribuir para o desenvolvimento deste país, têm fácil acesso a armas de fogo e organizam-se em gangs, desafiando todo o tipo de autoridade que possa exercer-se sobre eles.
Infelizmente, por razões várias, que vão desde a displicência por parte dos pais em assumir o seu papel de educadores – acompanhando e dando bons exemplos, e estimulando o crescimento e a formação de um individuo são, mas que deve ser repreendido sempre que se verificar essa necessidade -, e passa ainda pelos professores, e políticos que se lembram de ir construindo mais e mais escolas, mas que se esquecem de criar políticas equilibradas pare o ensino, os resultados que se nos apresentam, são estes que vivenciamos no dia-a-dia.
Se nos primeiros anos após a independência se justificava que fossem absorvidas todas as bolsas de estudo que nos eram concedidas sem a preocupação de equilibrar o nº de quadros superiores segundo as necessidades – devido à quase inexistência de quadros para todas as áreas -, passado que foram os primeiros dez anos, justificava-se o princípio de uma planificação, em termos de distribuição de bolsas para formação superior ou média, conforme os espaços com maior necessidade, e ainda, a criação de escolas profissionais. A repercussão da falha dessas políticas para a educação, traduz-se no presente, no excesso de quadros superiores para determinados sectores e a quase inexistência de gente com formação média e profissional para a demanda actual! A nível da construção civil e da hotelaria e turismo – dois sectores com elevado índice de crescimento no país -, essa falha é gritante.
Perante o quadro de violência juvenil actual, esse quadro parece até pouco relevante. Mas, como reverter essa situação, se os pais, principais responsáveis pela educação dos filhos, há muito que abdicaram das suas responsabilidades de educadores e exemplo de como viver em família e em consonância com as regras sociais?
O figurino que nos é apresentado com as denúncias feitas pelos professores do Liceu do Palmarejo, em vez de nos trazer alguma tranquilidade, vêm exacerbar ainda mais as nossas preocupações. Porque a ser verdade, o modelo que está a ser passado aos próprios filhos - por professores com responsabilidades acrescidas pelos cargos de direcção que exercem -, é o de que estão imunes a qualquer responsabilização por actos menos correctos que possam cometer, assim como a qualquer castigo disciplinar que possa advir desse comportamento, porque o pai ou a mãe, ocupa um lugar privilegiado nessa instituição de ensino. E nem precisam esforçar-se para passar de ano, porque quando for preciso, eles darão um jeito para que isso aconteça, mesmo sabendo que o filho ou o filho de algum amigo, não trabalhou o suficiente para atingir esse objectivo. É este o tipo de educação que se está a dar às nossas crianças e jovens adolescentes!
A contrastar com estas notícias, aconteceu, nos dias em que festejávamos o Natal e a passagem de ano, encontrar-me com a minha professora de história dos tempos do liceu, quando passava em frente à minha casa, numa das suas caminhadas habituais. Ao cumprimentá-la, paramos a conversar sobre o rumo que a nossa cidade está a tomar a nível da educação ambiental, em comparação com o que se está fazendo para minimizar o impacto da poluição nos países desenvolvidos e com maior capacidade de reciclar o lixo que produzem. Exemplo disso, são os inúmeros sacos de plásticos de todas as cores que se nos apresentam, pendurados nas arvores e arbustos quais verdadeiras arvores de natal do mundo subdesenvolvido, na estrada que liga a Praia á Cidade Velha. Ou ainda, a quantidade de garrafas de vidro e plástico, espalhadas um pouco por toda a cidade, em plena via publica.
No meio das críticas que ambos tecíamos, apontou-me um exemplo positivo do que se tem feito a nível da reciclagem em algumas escolas do ensino secundário, e fez questão de ir mostrar-me a bela árvore de natal de quase 15 metros, feita totalmente com material reciclado dos restos da relva que se tem usado para dar um ar mais verde e macio aos campos de futebol da capital. Parados em frente à obra feita pelos alunos do Liceu Pedro Gomes, acabamos por cair na tentação de comparar esta bonita árvore feita de material reciclado, com a que nos foi presenteada pelo nosso edil camarário – que se diz ter custado cerca de 6 mil contos; isto sem contar com o dinheiro gasto para pagar a energia para mantê-la iluminada -, nessa mesma ocasião, conhecendo as carências sociais graves que assolam a nossa cidade. Em jeito de conclusão, com um certo orgulho estampado no rosto, disse-me que este exemplo dado pelos alunos do Pedro Gomes é um bom modelo a seguir, e que no meio de tanta notícia ruim que se tem trazido a publico sobre esse mesmo liceu este merecia ser vastamente divulgado.
Para este ano, sugiro que aproveitem as bolsas de plástico coloridas que são levadas com compras e depois espalhadas pelo vento, para fazer bolas de várias cores, para enfeitar a árvore de natal e ajudar a reciclar o lixo que se produz “conscientemente”, nesta cidade.
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