Estar de férias dá-nos tempo para cuidar de nós, do nosso físico e da nossa alma. Esforço-me por fazê-lo no dia-a-dia como opção de vida e gosto que me respeitem por ser assim. Porque a nossa vida é nossa e ninguém a vive por nós!
Hoje apeteceu-me ler poesia e lembrei-me de um poeta que um amigo, desses que passam pelas nossas vidas e nos deixam algo que nos faz lembrar sempre deles, me apresentou, numa das noites de poesia no Kasa Bela.
Sebastião Alba é um poeta (porque os poetas não morrem), que viveu os últimos anos da vida, como mendigo, comendo pouco e bebendo muito. E fê-lo por opção, ainda que a maior parte dos simples mortais não conseguissem entender o porquê dessa escolha. Mas Sebastião Alba (Diniz Albano Carneiro Gonçalves), é um poeta… acredito que vida e as palavras tinham outro significado para ele.
Sebastião Alba morreu atropelado numa das ruas de Braga, por um desses condutores anónimos, para quem a vida conta tanto, como as horas que perde nas estradas, ao volante de um carro qualquer. E que, o maior feito da sua vida, terá sido ter morto um poeta, pensando ter morto um mendigo!
Gosto dos amigos
Gosto dos amigos
Que modelam a vida
Sem interferir muito;
Os que apenas circulam
No hálito da fala
E apõem, de leve,
Um desenho às coisas.
Mas, porque há espaços desiguais
Entre quem são
E quem eles me parecem,
O meu agrado inclina-se
Para o mais reconciliado,
Ao acordar,
Com a sua última fraqueza;
O que menos se preside à vida
E, à nossa, preside
Deixando que o consuma
O núcleo incandescente
Dum silêncio votivo
De que um fumo de incenso
Nos liberta
Foto: Noite Dividida